22 de setembro de 2024
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Ao menos nove envolvidos com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, incluindo um candidato a prefeito, tentarão se eleger em outubro. Na campanha, os postulantes a cargos públicos não escondem a ligação com os ataques às sedes dos três Poderes. Ao contrário: o conteúdo alusivo à investida golpista é compartilhado com frequência nas redes e chega a ilustrar a foto de perfil. Até o número de urna, terminado em 801, é usado para remeter ao episódio.

O partido com mais representantes na relação é o PL de Jair Bolsonaro, com três nomes. Foram justamente apoiadores do ex-presidente, que se recusavam a aceitar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, os responsáveis pela depredação na capital federal. Há ainda filiados ao DC e ao Republicanos (dois cada), bem como ao Podemos e ao PP.

Renata Brasil — Foto: Reprodução/Redes sociais

Na lista não constam condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que impossibilitaria o ingresso no pleito devido à Lei da Ficha Limpa, mas nomes formalmente investigados ou já denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) estarão nas urnas país afora. Também há postulantes que, após um período atrás das grades, firmaram acordos para dar fim aos processos.

Único candidato a prefeito da relação, Fabiano da Silva (DC) ingressou na disputa em Itajaí, quarto município mais populoso de Santa Catarina. Ele foi preso pela investida golpista no próprio 8 de janeiro e acabou denunciado pela PGR por incitação ao crime e associação criminosa. Ele é alvo do inquérito do STF que tratou de autores intelectuais e pessoas que instigaram a depredação na capital federal.

Nas redes, o candidato ostenta o apelido “Direita Santa Catarina”e usa como foto de perfil uma imagem publicada no dia anterior aos ataques, com os dizeres “Rumo a Brasília”. Essa não é a primeira eleição de Fabiano da Silva, que desde 2010 se cacifa à suplência da Câmara da cidade ou da Assembleia Legislativa catarinense.

Tornozeleira eletrônica de Susi Bittencourt — Foto: Reprodução/Redes sociais
Tornozeleira eletrônica de Susi Bittencourt — Foto: Reprodução/Redes sociais

Acordos com a PGR

Xanxerê (SC) também tem um candidato vinculado aos atos antidemocráticos. Investigado no mesmo inquérito que Fabiano, Ademar Guinzelli (Republicanos) briga para ser eleito vereador na cidade a quase 400 quilômetros da capital Florianópolis.

Também de Santa Catarina, o pastor Dirlei Paiz (PL) é suspeito de organizar e divulgar a chamada “Festa da Selma”, como foi apelidada a convocação de caravanas a Brasília no fim de semana de 8 de janeiro. Preso pela Polícia Federal (PF) em agosto do ano passado, numa das fases da operação Lesa Pátria, está solto desde dezembro e tenta se eleger vereador em Blumenau.

Susi Bittencourt (PL) aposta abertamente no 8 de janeiro como estratégia da campanha a vereadora em Rio das Ostras (RJ). Em vídeo publicado nas redes, ela narra a prisão pós-ataques e chama o local para onde os detidos foram levados de “campo de concentração improvisado”.

Dr. Ezio já foi candidato à Prefeitura de Coronel Fabriciano (MG) — Foto: Reprodução/Redes sociais
Dr. Ezio já foi candidato à Prefeitura de Coronel Fabriciano (MG) — Foto: Reprodução/Redes sociais

Em outra publicação, ela expõe imagens no dia dos atos, mas alega que foi a Brasília para participar de um protesto pacífico e que nem chegou a entrar nos prédios públicos. A candidata também exibe fotos na praia em que desponta uma tornozeleira eletrônica decorada com a bandeira do Brasil. Susi conta ter passado 52 dias presa, sendo liberada sob um Acordo de Não Persecução Penal firmado com a PGR.

Renata Brasil (PL), candidata a vereadora em Serra (ES), emprega tática semelhante. Ela responde por uma ação penal no STF e utiliza referências aos atos em sua campanha: “Vigilante Renata Brasil pré-candidata a vereadora. A única vigilante presa política do Brasil”, escreveu nas redes.

Tanto Renata quanto Karine Cagliari Villa, a Kari Patriota (Podemos), que tenta se tornar vereadora em Caxias de Sul (RS), optaram por terminar seus números de urna em 801, numa referência direta à data dos ataques golpistas. Em entrevista publicada nas próprias redes, Karine admite que responde por uma ação no STF e usa tornozeleira eletrônica, mas frisa que não assinou acordo “admitindo culpa” pelos atos e nega ter se envolvido diretamente com a depredação: “Não foi em vão a minha ida a Brasília”, diz. A candidata tornou-se ré em maio do ano passado e teve a prisão convertida em liberdade provisória.

Marinaldo era dono de um blog sobre política — Foto: Reprodução/Redes sociais
Marinaldo era dono de um blog sobre política — Foto: Reprodução/Redes sociais

Em Minas, o município de Coronel Fabriciano terá dois aspirantes a vereador envolvidos na investida antidemocrática. Cardiologista na cidade há 27 anos, Dr. Ezio Guilherme (PP) já foi candidato a prefeito e a deputado federal no passado, ficando no máximo como suplente. O médico foi preso por participação no 8 de janeiro, mas acabou solto um mês e meio depois. O outro postulante local é Gilmar Vieira da Silva (Republicanos), estreante na política. Ele foi um dos sete policiais mineiros da reserva presos na ocasião, sendo liberado após audiência de custódia.

Em João Pessoa, capital da Paraíba, a candidatura alusiva à tentativa de golpe é do blogueiro Marinaldo Adriano (DC), de 21 anos. Dono de uma página sobre política e pautas conservadoras desde outubro de 2022, ele publicava mensagens sobre fraudes nas eleições e a favor de uma intervenção militar. Após ser preso em Brasília, teve a liberdade provisória concedida em março do ano passado.

Todos os citados foram procurados pelo GLOBO. Marinaldo Adriano não quis comentar. Os outros candidatos não retornaram o contato da reportagem.

Campanha de Kari Patriota — Foto: Reprodução/Redes sociais
Campanha de Kari Patriota — Foto: Reprodução/Redes sociais

Com informações do GLOBO.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/envolvidos-no-8-1-lancam-candidaturas-e-apostam-em-mencoes-aos-atos-antidemocraticos-para-se-elegerem/