O Ministério Público de Paris confirmou, nesta segunda-feira (26), que as investigações que resultaram na prisão do fundador, dono e CEO do Telegram, Pavel Durov, apontam que ele é cúmplice de crimes, como abuso sexual infantil e fraude, que acontecem dentro do aplicativo.
Isso, pois o executivo, preso na França no sábado (24), não teria tomado medidas para impedir que tais crimes acontecessem no Telegram e, também, não colaborou com as autoridades. No domingo (27), o juiz encarregado do caso prorrogou a prisão preventiva de Durov por até 96 horas, ou seja, até quarta-feira (28), segundo fonte próxima do caso relatou à AFP.
O g1 informou ainda que, segundo a promotora Laure Beccuau, Durov está sendo interrogado, entre outras razões, pela “recusa de comunicar as informações necessárias para diligências autorizadas por lei e formação de quadrilha”.
Segundo a profissional, a prisão é parte de investigação aberta em 8 de julho deste ano, seguindo apuração feita por agentes da jurisdição que combate o crime organizado na França, de nome Junalco.
A investigação ponta 12 crimes. Ela é conduzida pelo Centro de Combate ao Crime Digital (C3N) e o Escritório Nacional Antifraude (Onaf) da França. Ainda nesta segunda (26), o presidente do país, Emmanuel Macron, afirmou que a prisão faz parte de inquérito judicial sem motivações políticas.
“Nas redes sociais, como na vida real, as liberdades são exercidas dentro da lei para proteger os cidadãos e respeitar seus direitos fundamentais”, escreveu Macron no X, informando a disseminação de informações falsas sobre a prisão de Durov.
O que diz o Telegram
O Telegram afirmou que “cumpre as leis da União Europeia” e que Durov não tem nada a esconder. “O CEO do Telegram, Pavel Durov, não tem nada a esconder e viaja frequentemente pela Europa. É absurdo afirmar que uma plataforma ou seu proprietário são responsáveis pelo abuso dessa plataforma. Estamos aguardando uma resolução rápida desta situação”, disse, em nota divulgada no domingo (25).
O Telegram se apresenta como serviço que protege a privacidade do usuário e os direitos humanos, como a liberdade de expressão e de reunião, além de que tem tido papel importante junto a movimentos pró-democracia ao redor do mundo, como no Irã, Rússia, Belarus, Mianmar e Hong Kong.
“O Telegram cumpre as leis da UE, incluindo o Ato de Serviços Digitais — sua moderação está dentro dos padrões da indústria e está constantemente melhorando”, prosseguiu o mensageiro no comunicado.
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O que é o Telegram?
O Telegram foi criado em 2013 pelos irmãos russos Pavel e Nikolai Durov. A sede da empresa fica em Dubai (Emirados Árabes).
Há servidores em várias partes do mundo e o aplicativo promete encriptar as mensagens de ponta a ponta, da mesma forma que o rival WhatsApp, impossibilitando a leitura por qualquer pessoa, exceto quem está recebendo a mensagem pelo aplicativo.
O Telegram ainda permite ter conversas secretas, que podem ser apagadas automaticamente após certo tempo. O aplicativo tem 900 milhões de usuários ativos e pretende atingir um bilhão em um ano.
Em entrevistas anteriores, Pavel disse que a ideia do aplicativo surgiu em 2011, quando as forças especiais russas tentaram invadir sua casa. Ele viu que não havia maneira segura de se comunicar com o irmão e, por isso, decidiu criar o Telegram.
Antes do app, em 2006, eles criaram a rede social “VKontakte” ou “VK”, a maior da Rússia e um dos sites mais acessados no mundo, sendo chamada de “Facebook russo”. De fato, ele se assemelha muito ao Facebook.
Quem é Pavel Durov
Pavel Durov nasceu em 1984, na antiga União Soviética, mas se mudou para a Itália quando aos quatro anos. A família voltou para a Rússia após o fim da União Soviética, após o pai de Durov receber oferta de trabalho da Universidade Estadual de São Petersburgo (Rússia).
Durov disse, em entrevista, que ele e seu irmão mais velho, Nikolai, eram prodígios da matemática desde jovens. Nikolai mais velho se sobressaltava quando eram crianças.
O irmão foi à TV italiana para resolver equações cúbicas em tempo real quando criança e ganhou várias medalhas de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática. Já Pavel era o melhor aluno de sua escola e competia localmente. “Nós dois éramos muito apaixonados por codificação e design de coisas”, disse.
Ele afirmou também que, quando a família retornou à Rússia, trouxeram da Itália um IBM PC XT. Ou seja, eles eram. “no início dos anos 1990, uma das poucas famílias na Rússia que realmente conseguiam aprender a programar”.
A facilidade em codificar e seu espírito empreendedor levaram Durov a criar o Vkontakte (VK), em 2006, quando ele tinha 21 anos e tinha acabado de sair da universidade. O VK se tornou conhecido como o “Facebook da Rússia” e o atual CEO do Telegram, uma resposta do país europeu a Mark Zuckerberg e os Estados Unidos.
Mas o relacionamento de Durov com o Kremlin se tornou hostil pouco depois. Quando manifestantes começaram a usar o VK para organizar protestos em Kiev (Ucrânia) contra o então presidente pró-Rússia do país, Viktor Yanukovich, em 2013, Durov disse que a Rússia pediu ao site que entregasse dados privados de usuários ucranianos. “Decidimos recusar, e isso não foi muito bem recebido pelo governo russo”, disse Durov na entrevista.
Essa decisão fez com que Durov renunciasse ao cargo de CEO, permitindo que pessoas próximas ao presidente Vladimir Putin assumissem o posto. O empreendedor vendeu todas as ações da empresa que detinha por milhões e deixou a Rússia. Hoje, a VK está sob controle estatal.
“Para mim, nunca foi sobre ficar rico. Tudo na minha vida foi sobre me tornar livre. Na medida do possível, minha missão na vida é permitir que outras pessoas se tornem livres”, afirmou Durov. “Não quero receber ordens de ninguém.”
Ele foi naturalizado francês em 2021 e também tem cidadania nos Emirados Árabes, paísa da sede atual do Telegram, que fica em Dubai, cidade considerada a de residência de Durov. Hoje, ele tem 39 anos e fortuna estimada pela Forbes em US$ 15,5 bilhões (R$ 85 bilhões, na conversão direta). Ele criou o Telegram em 2013 com o irmão Nikolai.
Criação do Telegram
Enquanto Zuckerberg comprou o WhatsApp, Durov escolheu criar seu próprio app de mensagens, apesar de o mercado já estar cheio de plataformas similares. Ele não achava que nada já existente era bom o suficiente. “Não importa quantos aplicativos de mensagens existem, se todos eles são péssimos”, disse Durov em 2015.
O empresário e programador disse que sua experiência com o Kremlin foi o carro-chefe para a criação do Telegram. Ele e Nikolai queriam construir algo que passasse longe das vistas do governo.
A forte criptografia de ponta a ponta do Telegram e seu suposto compromisso com a privacidade atraíram milhões de usuários com o passar dos anos, inclusive criminosos, como terroristas que planejaram os ataques terroristas de Paris em novembro de 2015.
O escândalo fez com que Durov saísse de seu estilo reservado para fazer verdadeira campanha de relações-públicas, conduzindo várias entrevistas para garantir ao público que o Telegram não estava se tornando o WhatsApp dos terroristas.
O Telegram, conforme seu cocriador, era a plataforma de mensagens mais segura do mercado – e fazer concessões criando uma “porta dos fundos” para os governos iria contra seu apelo e o compromisso com a privacidade. “Você não pode torná-lo seguro contra criminosos e aberto para governos”, disse Durov à CNN em 2016. “Ou é seguro, ou não é seguro.”
Atritos com o país natal
A recusa do Telegram em se descriptografar virou polêmica com governos ao redor do mundo, inclusive a Rússia. Ao menos, no começo. Moscou tentou banir o app em 2018 por conta disso, mas Durov prometeu desafiar a proibição. No fim, o aplicativo voltou a ser permitido em 2020.
Nos anos seguintes, o Telegram se tornou uma das poucas plataformas estrangeiras (pois opera de Dubai) de mídia social operando na Rússia sem restrições. Acabou virando a principal forma de comunicação entre vários funcionários do governo russo.
Vida pessoal
Recentemente, Durov chamou atenção ao revelar, em seu canal oficial no Telegram, que tem mais de 100 filhos biológicos em 12 países por realizar doações de seu esperma. Ele disse que essa ideia surgiu quando um amigo o procurou e disse que ele e a esposa tinham problema de fertilidade.
“[Quando fui atrás de mais informações], o chefe da clínica me disse que ‘material de doador de alta qualidade’ estava em falta e que era meu dever cívico doar mais esperma para ajudar anonimamente mais casais. Isso soou louco o suficiente para eu me fazer inscrever”, contou.
Conforme o g1, o empresário disse também que planeja tornar seu DNA um “código aberto” para que seus “filhos” possam se conhecer futuramente. Já nas redes sociais, Durov publica muitas fotos sem camisa, com frases reflexivas e motivacionais.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/08/26/pro/telegram-pavel-durov-e-acusado-de-12-crimes-no-app/