Marcado pelos ataques mais agressivos aos adversários, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, gerou maior adesão entre eleitores de Jair Bolsonaro em 2022 mais “moderados” do que na base mais convicta do ex-presidente em pesquisa qualitativa feita entre 19 e 25 de agosto pelo Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (Lemep), do Iesp/Uerj, e pelo Instituto da Democracia (INCT). A análise, que incluiu simpatizantes do ex-presidente de todo o país e não apenas da capital paulista, considera para a classificação entre convictos e moderados o apoio ou a crítica ao 8 de Janeiro.
Segundo informa a coluna Pulso, do jornal O GLOBO, o levantamento do Lemep monitora grupos com dez participantes cada, de diferentes regiões do país e perfis de renda, escolaridade, gênero e religião, que são questionados por meio do WhatsApp sobre temas do debate político. Os resultados não são generalizáveis para toda a população apoiadora de Bolsonaro, por se tratar de uma pesquisa qualitativa e não quantitativa, mas oferecem pistas sobre como o segmento pensa.
Questionados sobre o que sabiam sobre Marçal e se consideravam que ele pode se tornar um novo líder da direita, a maioria dos eleitores de Bolsonaro críticos ao 8 de Janeiro indicou apoio ao ex-coach. Apesar de mencionar reservas em relação à sua personalidade — a postura é vista como “firme” e “autêntica”, mas também às vezes “arrogante” e “polêmica”, esse segmento reconheceu que ele tem ganhado visibilidade, aceitou em sua maioria sua imagem e comparou Marçal a Bolsonaro antes de ocupar a Presidência.
Já os bolsonaristas mais convictos se dividiram. Embora haja reconhecimento das habilidades do candidato do PRTB como bom orador e articulado, o grupo demonstrou desconfiança sobre seu compromisso com a direita e com Bolsonaro. Segundo a análise do Lemep, a maioria se mostrou “hesitante” em apoiar o ex-coach por temer que Marçal possa se afastar das bases conservadoras ou adotar uma postura oportunista.
Um ponto central para a desconfiança está na relação do candidato com Jair Bolsonaro, o que indica que uma possível adesão ao ex-coach já no primeiro turno pode depender do posicionamento do ex-presidente para esse eleitorado. O crescimento de Marçal nas pesquisas tem gerado sinais difusos da família do ex-presidente.
Enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador carioca Carlos Bolsonaro alternaram críticas e acenos a Marçal — o último deles simbolizou uma trégua pública entre Carlos e o candidato, no X —, o senador Flávio Bolsonaro tem evitado se envolver na ofensiva contra o ex-coach, por identificar similaridades entre ele e o pai. Já o ex-presidente adotou postura ambígua nas últimas semanas: fez elogios a Marçal às vésperas da campanha, mas depois pediu voto no atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
“Atualmente só confio no capitão, eu tinha simpatia pelo Pablo Marçal, mas ele às vezes fala muita bobagem e fico na dúvida, então não quero mais me enganar com nenhum candidato oportunista que se aproveita da nossa boa fé e depois que ganha eleição trai o presidente Bolsonaro”, relatou um gerente de serviços elétricos, de 55 anos, entrevistado pela pesquisa do Lemep.
Um empresário de 64 anos do Paraná, também ouvido no levantamento, foi na mesma linha, mas resumiu o sentimento de dúvida no campo e a dificuldade de embarcar na candidatura do prefeito Ricardo Nunes.
“Eu confio no Bolsonaro, se ele deixou de apoiar o Marçal aí tem. E Ricardo Nunes, não confio. Eu não voto em São Paulo, mas se tivesse que votar estaria em dúvida”, frisou.
Futuro do campo
Já os relatos no segmento mais moderado foram no sentido de elogiar Marçal. Um assistente logístico de Pernambuco, de 42 anos, defendeu, por exemplo, que o candidato tem “condições para se tornar o nome muito forte para o futuro da direita no Brasil”.
Outro bolsonarista moderado de São Paulo, de 52 anos, disse acreditar que o desentendimento com Bolsonaro é “coisa passageira”.
“Pelo pouco que vi sobre ele, parece ser uma pessoa bastante direta em suas palavras e um homem bastante inteligente. São atributos bons para um candidato se souber fazer uso”, avaliou.
O cientista político João Feres, um dos coordenadores do estudo, diz que Marçal tende a ter apelo maior no grupo mais moderado pelo “discurso neoliberal” e pela bandeira do “empreendedorismo”, o que não costuma reverberar no segmento mais convicto:
— Os bolsonaristas moderados não dão importância para o conflito entre Marçal e Bolsonaro. É um eleitor que pode não ter votado em Bolsonaro no 1º turno de 2022, não é o bolsonarista raiz, ele se sente atraído pelo que considera como qualidades de Marçal. Há uma percepção não só nesse segmento como entre não eleitores de Bolsonaro de que ele tem uma boa retórica. Tem todo esse discurso de coach — concluiu.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pesquisa-qualitativa-aponta-que-marcal-atrai-mais-bolsonaristas-moderados-do-que-eleitores-raiz-do-ex-presidente/