24 de novembro de 2024
Juros
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 Foto: Reprodução

Não se sabe de que inflação os dirigentes do Copom estão falando, pois todos os levantamentos realizados até aqui demonstram total controle sobre essas taxas

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgou nesta terça-feira a ata sobre a sua última reunião, da semana passada, na qual decidiu manter em 10.5% as taxas de juros Selic, e como se esperava, trouxe uma grave ameaça. A admissão formal de que pode aumentar as taxas de juros a partir das suas próximas sessões, sob o argumento de que é preciso conter a inflação.

Não se sabe de que inflação os dirigentes do Copom estão falando, pois todos os levantamentos realizados até aqui demonstram total controle sobre essas taxas. Nos últimos 12 meses acumulados até maio de 2024, os índices inflacionários caíram dos  4,5% registrados em fevereiro, para 3,9%, apontando diminuição da inflação trimestral, algo que vem sendo apontado desde inícios de 2023.

O que se tem, de fato, na contramão dessas estranhas manifestações do Copom, é que os últimos dados da pesquisa PNAD Contínua, do IBGE, mostram um expressivo crescimento do setor industrial, uma queda significativa das taxas de desemprego e um crescimento virtuoso no número de pessoas com carteira assinada.

Somente no mês de junho, a abertura líquida de vagas de trabalho somou 201.705 novos empregos. O número de trabalhadores ocupados cresceu 1,6% no primeiro trimestre, passando o Brasil a ter hoje 101,8 milhões de pessoas ocupadas, um novo recorde histórico da série de verificações iniciada pelo IBGE em 2012.

Está havendo também uma saudável evolução do mercado de trabalho formal, com carteira assinada, ao contrário do crescimento desenfreado da informalidade registrado até final de 2022, quando os trabalhadores brasileiros sofreram grande ataque aos direitos historicamente conquistados.

Os cinco setores basilares da economia estão em evolução. A indústria passou a acumular alta de 2,6% neste ano, ficando 2,8% acima do patamar registrado em inícios de 2020, no pré-pandemia, igualando-se aos níveis de 15 anos atrás, em 2009 .

Os dados são, além de irrefutáveis, muito animadores: bens de capital, intermediários, com peso de 55% na indústria, duráveis, semi e não duráveis, todos alcançaram alta de suas atividadesA produção de automóveis puxou o crescimento dos bens de consumo, com expansão de 4,4%.

Todos esses fatores positivos da economia brasileira, associados ao trabalho com melhor rendimento, o que está expresso na constatação de que a massa salarial tem crescido, tem feito o país viver um momento especial na elevação do consumo. E essa combinação de circunstâncias favoráveis começa a desencadear uma onda de revisão nas projeções do Produto Interno Bruto brasileiro, com estimativas para Nicosia que iam de 0,2% a 0,5% para o segundo trimestre, e que agora atingem até 1% conforme a análise de alguns dos grandes bancos. Para o ano fechado, as projeções de alta do PIB feitas pelas maiores instituições financeiras vão de 2,3% até 2,5%, enquanto o próprio Boletim Focus, do Banco Central, embora conserve o seu inseparável pessimismo, admite crescimento de 2,2%.

Mas como em todo céu azul tem sempre alguém imaginando nuvens cinzentas, os membros do Copom, seguindo a estratégia derrotista do presidente do Banco Central, enxergam riscos graves trazidos pelo cenário internacional, sobretudo aqueles ligados ao desequilíbrio cambial, com supervalorização do dólar frente a outras moedas e instabilidade da economia dos Estados Unidos, que sofre ameaças de recessão.

Os economistas e analistas da economia  americana dizem que a principal razão dessa ameaça nos EUA é que os dados relativos ao emprego, divulgados nesta semana, foram muito piores do que o esperado, indicando desaceleração econômica. Isso tem feito a bolsa de valores despencar ao redor do mundo.

O que acontece hoje nos EUA e é visto como parâmetro para donos do poder no Copom, contrapõe-se ao que acontece no Brasil. Aqui as análises de dados levam ao contrário. O Brasil está muito bem economicamente, revitalizando sua economia, seu consumo e emprego.

E aí vem a pergunta que não sai da mente de quem aqui vive e paga suas contas: por que nós haveremos de pagar pelo descontrole dos outros, perdendo o direito de juros menores, mais decentes, compatíveis com a nossa realidade e com as nossas necessidades?