24 de setembro de 2024
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Ilustração/Reprodução

Mulheres jovens estão ultrapassando os rapazes no acesso ao ensino superior, e na sequência do ingresso nas universidades, estão conseguindo mais destaque quando se trata de evoluir em pesquisa

Por José Osmando

O mundo tem visto com duradoura frequência que as mulheres ficam para trás na competição com os homens no mercado de trabalho, não apenas porque têm menos acesso aos empregos, mas também porque  recebem remunerações bem abaixo, mesmo que ocupem cargos iguais e desempenhem funções idênticas.

Apesar disso, vem acontecendo, de tempos para cá, sobretudo nos países desenvolvidos (e o Brasil já entrou nesse novo padrão), que as mulheres jovens estão ultrapassando os rapazes no acesso ao ensino superior, e na sequência do ingresso nas universidades, estão conseguindo mais destaque quando se trata de evoluir em pesquisa, especialização, mestrado, doutorado.

As mulheres jovens estão se qualificando mais do que os homens jovens, talvez como uma resposta que elas foram buscar e estão dando agora, de que este será o caminho para que eliminem as desigualdades, no trabalho, em relação aos homens. No Brasil, as mulheres já são maioria no ensino superior, mas antes de chegarem a essa realidade, tiveram que suar bastante, numa trajetória histórica que foi profundamente marcada pela desigualdade, pela imposição dos homens sobre elas.

Para definir bem essa supremacia do homem sobre a mulher, o ingresso feminino no ensino superior somente foi permitido no finalzinho do império, em 1879, pelo Decreto  Lei 7.247/1879, ficando, porém,  sob a estrita responsabilidade do pai ou do marido realizar a matrícula, pois não era dado à mulher o poder de efetivar seu ingresso em uma faculdade.

Hoje, a realidade começa a se inverter. Conforme dados de pesquisa PNAD, em 2019, 15,1% dos homens brasileiros com 25 anos ou mais  tinham ensino superior completo, enquanto entre as mulheres esse percentual já chegava a 19,4%.

Mas se as mulheres começaram já de algum tempo a deixar os homens para trás no quesito acesso à universidade e consequentes avanços de qualificação no ensino superior, os dados comparativos entre elas e eles no mercado de trabalho continuaram folgadamente mais vantajosos para os homens. Uma realidade triste, a provar que conquistar, por decisão e mérito próprios, avanços expressivos dentro da universidade, não trouxe e imediatos efeitos positivos para melhorar suas oportunidades de emprego e ganho no mercado de trabalho.

Um fato notável, contudo, que começa a ser olhado com atenção, é que nos países desenvolvidos, como no Reino Unido, por exemplo, além da desigualdade no acesso ao ensino superior ser hoje favorável à mulher, colocando, nesse aspecto, os homens na rasteira, as mulheres jovens têm, hoje, mais probabilidade de estar empregadas do que os homens mais jovens. Isso parece, segundo dizem os especialistas, que a formação superior e qualificações seguintes conquistadas pelas mulheres, começam a fazer a diferença entre os homens jovens.

Desde 2020, no Reino Unido, a margem de vantagem da taxa de emprego de mulheres entre 20 e 24 anos cresceu para três pontos percentuais desde então, uma inversão que ainda não aconteceu nos Estados Unidos, mas que anda bem a caminho, pois o déficit na taxa de empregos das mulheres jovens teve uma queda de 10 pontos percentuais entre 2006 e 2023, o que mostra quanto as  mulheres estão avançando.

E nesses países desenvolvidos, conforme mostram os estudos realizados na relação universidade/trabalho, homens e mulheres jovens, tem crescido de maneira preocupante o volume de homens jovens que nem estudam, nem trabalham, nem estão à procura de emprego. E, contrariamente às mulheres, não estão também envolvidos com as tarefas domésticas de cuidar da casa e dos filhos.

Estudos já mostram que em países como Reino Unido, França, Espanha e Canadá, há hoje, pela primeira vez na história, mais homens jovens do que mulheres jovens, em vários sentidos e efeitos, que estão fora da economia formal.

Essa realidade de homens jovens ficarem à margem da economia está sendo vista como um risco enorme ao futuro, quebrando as estruturas familiares e devolvendo às costas das mulheres responsabilidades aumentadas, numa reinvenção inversa dos ciclos de desigualdade que historicamente sempre foram e são um peso absurdo sobre suas vidas.