Em meio a tragédia que atinge 435 das 497 cidades do Rio Grande do Sul, abusadores encontraram um cenário propício para seguir cometendo crimes. Até esta sexta-feira (10), oito pessoas foram presas por estupro nos abrigos, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Diante da vulnerabilidade de mulheres e crianças nesses locais, ONGs e órgãos do Estado estão criando abrigos específicos para o acolhimento desses grupos.
Em entrevista à CNN nesta tarde, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, anunciou a implementação de novos abrigos para mulheres e crianças vítimas de violência. A ação será feita junto ao Ministério Público gaúcho e ao Tribunal de Justiça do Estado.
Grupos vulneráveis
Segundo o MP, a realidade vista hoje nos abrigos são reflexos do que já acontecia nas casas dessas pessoas. “Os abrigos reproduzem o que infelizmente aconteceu nas casas dessas vítimas. Então nesse microcosmos que se criou ali essas coisas aparecem aos olhos da sociedade. Mas o MP está atuando em todas essas áreas”, afirmou um porta-voz da comunicação do órgão.
Essa estrutura da violência também é destacada pelos movimentos Me Too Brasil e Instituto Survivor, que estão atuando juntos na proteção desses grupos em todo o Rio Grande do Sul. Segundo uma nota conjunta, as arrecadações de menos de um dia, que estão sendo feitas via pix e por conta bancária, já possibilitaram a abertura de dois abrigos, um em Canoas e outro em Novo Hamburgo, para o acolhimento e apoio de mulheres e crianças em situação de violência, gestantes, idosas e mães.
Para a presidente e fundadora do Instituto Survivor Izabella Borges, a violência sexual não acontece em razão da catástrofe, mas pelo fácil acesso de agressores e predadores sexuais às vítimas em situação de extrema vulnerabilidade.
“Os relatos de abusos sexuais de crianças, adolescentes e mulheres nos abrigos são alarmantes. Há casos de mulheres vítimas de violência doméstica convivendo com seus agressores nos mesmos espaços. As violências ocorrem, segundo relatos, em banheiros sem vigilância adequada, especialmente durante a noite, mesmo com a presença da polícia”, explica Borges.
Ações semelhantes estão sendo realizadas pela ONG Visão Mundial, que está se mobilizando para criar dois espaços exclusivos para crianças, com apoio psicossocial além de itens básicos, artigos para reconstrução de seus lares, como mobiliário doméstico, eletrodomésticos e auxílio de renda para atender as necessidades urgentes, como a compra de medicamentos para os próximos meses.
A ONG também aponta um dado do Conselho Tutelar sobre o município de Canoas, onde 104 crianças estão separadas de suas famílias.
“As crianças, um dos grupos mais vulneráveis em meio a crises, muitas vezes não têm a menor noção da magnitude dos eventos que estão vivenciando. Elas se encontram desprovidas de suas bases mais fundamentais e estão sob um impacto psicológico devastador que, sem a intervenção adequada, pode deixar cicatrizes duradouras”, afirma Thiago Crucciti, Diretor da ONG Visão Mundial Brasil.
No município de São Leopoldo, um dos mais atingidos pelas enchentes, um novo abrigo foi criado exclusivamente para puérperas (mães que tiveram filhos recentemente), recém nascidos, gestantes no 3º trimestre e crianças internadas no hospital Centenário que estejam em alta hospitalar. O espaço utilizado para atender os grupos é o Colégio Concórdia, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (Semsad).
O novo abrigo foi aberto nesta sexta-feira (10) e dispõe de 20 lugares até o momento. A expectativa é de que nos próximos dias haja possibilidade de expansão para mais 20 pessoas, totalizando cerca de 40 acomodações. A Semsad também divulgou uma lista de profissionais sendo convocados e produtos necessários para arrecadação.
“O abrigo necessita de equipe de saúde (preferencialmente enfermeiras e/ou médicas); consultoras de amamentação para apoio e voluntárias para o suporte local. Além dos seguintes materiais (para serem entregues diretamente no Concórdia), fraldas RN, P e M; lenços umedecidos; pomadas para assadura; escova e creme dental; shampoo; sabonete; banheiras; travesseiros; mantas e cobertores e roupas para bebês e crianças até 10 anos”, diz o comunicado.
O que diz o estado
Em nota sobre os casos de violência e abuso nos abrigos, a Secretaria de Segurança Pública afirma que “o Poder Público estadual não tem medido esforços para amparar a população gaúcha, em especial, no Vale do Taquari, na Serra Gaúcha, na Região Sul, em Porto Alegre e na Região Metropolitana.”
A SSP também destaca as ações de salvamento e localização de vítimas, de fornecimento de alimentos e de água, em evacuações e na garantia da segurança.
“O governo estadual está atuando para combater todo tipo de crime, como saques e furtos nas ruas. Nas áreas alagadas, o patrulhamento da Brigada Militar é feito em botes e barcos. A situação dos abrigos, onde se encontram cerca de 75 mil pessoas, também é monitorada constantemente. Desde o dia 2 de maio, foram realizadas 54 prisões pelas forças de segurança, sendo 41 pela BM e 13 pela PC”, afirma a nota.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/bases-sao-criadas-para-atender-mulheres-e-criancas-no-rs-apos-denuncias-de-violencia-nos-abrigos/