16 de julho de 2025
Alckmin diz que prioridade é evitar sobretaxa dos EUA até
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O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou nesta terça-feira (15) que o governo federal está empenhado em evitar a entrada em vigor da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, prevista para começar em 1º de agosto. A informação foi divulgada pela Folha de S.Paulo após uma série de reuniões entre representantes da indústria nacional e integrantes do governo Lula (PT), em Brasília.

“Queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, declarou Alckmin, ao comentar a possibilidade de solicitar formalmente aos EUA uma prorrogação do início da medida. A sugestão partiu da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que participou da rodada de reuniões junto a mais de 30 representantes do setor produtivo.

A sobretaxa, anunciada em abril pelo ex-presidente e pré-candidato Donald Trump, eleva em 10% as tarifas sobre uma série de produtos brasileiros. A partir de agosto, esse adicional passará para 50%, agravando a situação de exportadores de setores como carnes, frutas, café, têxteis, calçados, etanol, laranja e minerais. Em alguns casos, a alíquota acumulada pode ultrapassar os 52%, inviabilizando economicamente as exportações.

Indústria pressiona por diplomacia e descarta retaliação

Ao final da reunião, o presidente da CNI, Ricardo Alban, reforçou o apelo para que o Brasil adote uma postura cautelosa e evite retaliações precipitadas. “Entendemos que o Brasil não se precipitará com medidas de retaliação, para que elas não sejam interpretadas como simplesmente uma disputa”, afirmou.

A posição foi endossada por outros representantes da indústria. Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), resumiu o tom geral do encontro: “É preciso negociar à exaustão antes de pensar em retaliações”.

Exportadores apontam riscos imediatos

Durante o encontro com o governo, líderes de associações apresentaram os riscos concretos da medida. Roberto Perosa, presidente da Abiec (exportadores de carne bovina), revelou que há cerca de 30 mil toneladas de carne já embarcadas ou prestes a partir para os EUA, o que equivale a US$ 150 milhões em mercadoria. “O hambúrguer vai ficar mais caro lá, e o prejuízo será nosso aqui”, alertou.

Guilherme Coelho, da associação de exportadores de frutas, disse que a colheita da manga foi planejada há seis meses com foco no mercado norte-americano e que 2.500 contêineres já estão em rota de exportação, sem alternativa viável de redirecionamento. Ibiapaba Neto, da Citrus, destacou a dificuldade de reorganizar a logística da safra de laranja, recém-iniciada.

Alckmin critica decisão e cobra resposta dos EUA

Alckmin criticou a justificativa usada por Trump, que relaciona a sobretaxa a decisões do STF contra Jair Bolsonaro (PL), e afirmou que a medida não tem respaldo econômico. “A exportação dos Estados Unidos ao Brasil é três vezes maior do que a nossa para eles. É totalmente incompreensível a decisão da tarifa”, disse.

O vice-presidente revelou ainda que o governo brasileiro enviou, há dois meses, uma carta pedindo diálogo sobre os acordos comerciais, mas ainda não recebeu resposta oficial de Washington. Segundo ele, o governo enfrenta dificuldades para estabelecer um canal de interlocução com autoridades americanas.

Governo intensifica articulações e busca apoio do setor privado

Para tentar reverter a sobretaxa, o governo pretende intensificar nas próximas semanas o diálogo com entidades brasileiras e estrangeiras. Alckmin informou que manterá reuniões com a Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio), empresas dos EUA, representantes dos setores de software, indústria química, agricultura, comércio e centrais sindicais como CUT, UGT e Força Sindical.

“Queremos que o setor produtivo nos ajude nesse diálogo. Precisamos mostrar que a medida é ruim para os dois lados”, disse o vice-presidente. Ele defendeu que as negociações se concentrem em argumentos econômicos e não em questões jurídicas ou políticas internas.

Produtores cobram mais agilidade em acordos comerciais

Durante o encontro, empresários também pediram que o governo acelere as tratativas do Mercosul com a União Europeia e com o bloco EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), como forma de ampliar rotas alternativas de exportação. A fala inicial de Alckmin também ressaltou a importância de separar disputas jurídicas internas das negociações internacionais: “A separação dos Poderes é pedra fundamental do Estado democrático de direito”, frisou.

Presenças e articulação política

Além de Alckmin, participaram da reunião os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e a embaixadora Maria Laura da Rocha, representando o Itamaraty. Estiveram presentes também nomes como Francisco Gomes Neto (Embraer), Josué Gomes da Silva (Fiesp), José Velloso (Abimaq), Janaína Donas (Abal), Paulo Hartung (Ibá), Cristina Yuan (Instituto Aço Brasil), entre outros.

A ofensiva diplomática do governo Lula visa conter os danos da medida que, se não revertida, pode comprometer seriamente a balança comercial brasileira e afetar milhares de empregos ligados às exportações. A expectativa é que os próximos dias sejam decisivos para definir o rumo das negociações com Washington.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/alckmin-diz-que-prioridade-e-evitar-sobretaxa-dos-eua-ate-agosto-mas-admite-possivel-pedido-de-prorrogacao/