4 de julho de 2025
Alta na renda e financiamento acessível derrubam ritmo de alta
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A combinação entre o crescimento da renda dos brasileiros, o avanço nos financiamentos do programa Minha Casa, Minha Vida e a desaceleração dos índices que reajustam contratos de aluguel, como o IPCA e o IGP-M, está transformando o mercado imobiliário. Segundo a colunista Míriam Leitão, do jornal O GLOBO, esses fatores ajudam a explicar a forte desaceleração observada na variação do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar), calculado pela FGV.

Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (5), o Ivar acumulou alta de 5,11% em 12 meses até junho de 2025. No mesmo período encerrado em junho do ano passado, a variação era de 10,66% — ou seja, praticamente o dobro.

Para o economista Matheus Dias, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o cenário atual revela um mercado de compra de imóveis mais dinâmico do que o de locação. Ele destaca que mesmo com a taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado, o movimento de aquisição de imóveis segue aquecido.

— Em um cenário em que a renda tem uma expansão forte, a política monetária não tem tido o efeito esperado no setor imobiliário, mantendo aquecido o movimento de compra de imóveis. Além disso, os programas de financiamento para renda mais baixa, como o Minha Casa, Minha Vida, têm juros patamar mais baixos, estavam entre 4% e 8% em maio, quando a Selic já era de 14,75%. O fato é que a busca pela compra de imóveis está mais robusta do que a locação. Soma-se a isso o fato dos indicadores de reajustes estarem desacelerando, temos a explicação para o Ivar tão mais baixo na comparação interanual — afirma Dias.

Alta pontual no mês não muda tendência

Apesar da desaceleração anual, o Ivar subiu 1,02% em junho, revertendo a queda de 0,56% registrada em maio. No entanto, segundo o economista da FGV, esse tipo de oscilação mensal não deve ser usado como referência principal para análises do setor.

— Esse mercado é influenciado por fatores de mais longo prazo. O desemprego, por exemplo, não aumenta e nem cai significativamente de um mês para o outro. E é importante também destacar que o aumento da Selic tem um efeito retardado. Leva entre um ano e um ano e meio, por exemplo, para você ter efeitos plenamente influenciados no mercado imobiliário. O que vemos hoje ainda é aumento de concessões de crédito direcionados para financiamento imobiliário. Isso se reflete na ponta com a aquisição de imóveis e tem efeito inverso nos valores de locação com a redução dos valores de locação — afirma Matheus Dias.

Financiamento impulsiona mercado de compra

A retomada do crédito imobiliário, especialmente por meio do Minha Casa, Minha Vida, tem tido papel central nesse movimento. Os juros praticados pelo programa, bem abaixo da taxa Selic, tornaram mais viável o financiamento habitacional para famílias de baixa renda.

Enquanto isso, a desaceleração dos principais índices de correção contratual de aluguéis — como o IPCA, usado em parte dos contratos, e o IGP-M, ainda adotado em muitos contratos antigos — contribui para a perda de fôlego do mercado de locação.

Brasileiros mudam o perfil do sonho da casa própria

Levantamento recente do DataZAP já havia mostrado que, mesmo com os juros altos, a intenção de compra de imóveis não caiu. O que mudou foi o perfil do imóvel desejado. Muitos brasileiros ajustaram suas expectativas, reduzindo metragem ou escolhendo bairros mais acessíveis.

A tendência, segundo especialistas, é de que a busca pela casa própria continue sendo prioridade — e, enquanto isso, o mercado de locação deve seguir sentindo os efeitos de um crescimento mais tímido.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/alta-na-renda-e-financiamento-acessivel-derrubam-ritmo-de-alta-dos-alugueis-residenciais/