21 de outubro de 2025
Ambipar pede recuperação judicial após suspeitas financeiras e crise de
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A Ambipar, uma das maiores companhias brasileiras de gestão de resíduos e emergências ambientais, entrou com pedido de recuperação judicial nesta segunda-feira (20), no Rio de Janeiro. A medida, que busca evitar a falência e permitir a reorganização das dívidas, foi tomada de forma emergencial após a empresa enfrentar grave crise de liquidez e risco iminente de execução de passivos bilionários.

O pedido inclui outras empresas controladas pelo grupo, como a Environmental ESG Participações. Nos Estados Unidos, a subsidiária Ambipar Emergency Response também recorreu ao equivalente estadunidense da recuperação judicial, o chamado Capítulo 11 da lei de falências.

Suspeitas de irregularidades e perda de confiança

Segundo a companhia, a decisão foi motivada pela descoberta de possíveis irregularidades em operações financeiras conhecidas como “swaps”, realizadas pela antiga diretoria financeira. As suspeitas surgiram logo após a saída repentina do ex-diretor João de Arruda, fato que abalou a confiança de investidores e credores.

A Ambipar informou, em comunicado, que as incertezas provocadas pelo episódio levaram parte dos credores a exigir o pagamento antecipado das dívidas, o que agravou a situação de caixa. A empresa contratou a consultoria internacional FTI Consulting para conduzir uma auditoria independente e buscar reparações por eventuais prejuízos causados.

No pedido encaminhado à Justiça, os advogados da Ambipar confirmaram que há uma investigação criminal em andamento para apurar a conduta do ex-diretor e de outros envolvidos nas operações suspeitas.

A troca de comando financeiro, em setembro, também provocou fortes reações no mercado. Com a saída de Arruda e a nomeação de Ricardo Garcia para o cargo — acumulando a função de diretor de Relações com Investidores —, as ações da empresa despencaram na B3, intensificando a crise.

Disputa judicial e pressão de credores

Os rumores sobre o pedido de recuperação judicial circulavam desde 7 de outubro, poucos dias após a Ambipar obter uma liminar na Justiça do Rio de Janeiro para suspender temporariamente o vencimento antecipado de suas dívidas, em meio a uma disputa com o Deutsche Bank.

Com o avanço da crise, títulos de crédito vinculados à companhia perderam valor e acionaram cláusulas automáticas de vencimento antecipado em Certificados de Operações Estruturadas (COEs), aprofundando o desequilíbrio financeiro da empresa.

Crise dos COEs afeta investidores e amplia perdas

O colapso financeiro da Ambipar também atingiu investidores que aplicaram em COEs atrelados à empresa e à Braskem. Segundo comunicados divulgados por XP e BTG Pactual, as perdas chegaram a 93% do valor investido.

Os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) são aplicações que combinam diferentes ativos financeiros — como ações, moedas e juros — em uma única estrutura, com riscos e retornos previamente definidos. No caso da Ambipar, os produtos eram baseados em títulos de dívida da própria companhia.

Com a deterioração da situação financeira, o valor desses títulos despencou, provocando encerramentos antecipados e devoluções muito abaixo do valor original — cerca de 6,88% no caso da Ambipar, e entre 26,62% e 36,97% para os investidores ligados à Braskem.

B3 retira ações da Ambipar de índices e de selo verde

Em meio à turbulência, a B3 anunciou no dia 16 de outubro a exclusão das ações da Ambipar de nove índices da bolsa de valores. A medida, que também retirou o selo de “ações verdes” da empresa, reflete a preocupação com a governança e a transparência da companhia.

Segundo a B3, a decisão seguiu normas internas que permitem a retirada de ativos em casos de risco de comprometimento da integridade dos índices. A participação da Ambipar foi redistribuída entre outras companhias listadas.

Com dívidas em alta, investigações em curso e a confiança do mercado abalada, a Ambipar tenta agora reestruturar seu passivo e retomar a estabilidade. O desafio será convencer credores e investidores de que a companhia ainda pode se recuperar sem comprometer seu papel no setor ambiental e de emergências industriais, do qual é uma das principais referências no país.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/ambipar-pede-recuperacao-judicial-apos-suspeitas-financeiras-e-crise-de-confianca-no-mercado/