
O dólar aprofundou a queda e atingiu nesta terça-feira (23) o menor patamar em mais de um ano, enquanto a Bolsa de Valores registrou novo recorde intradiário, em meio à expectativa de distensão nas relações entre Brasil e Estados Unidos.
O movimento foi impulsionado por declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, que afirmou ter tido “excelente química” com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após breve encontro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O republicano disse ainda que pretende se reunir com o petista na próxima semana, gesto interpretado pelo mercado como abertura para negociação de tarifas e reaproximação diplomática.
Mercado reage a gestos de aproximação
Às 14h40, o dólar recuava 0,95%, cotado a R$ 5,286, após bater mínima de R$ 5,276. A Bolsa brasileira subia 1,05%, alcançando 146.641 pontos e renovando o maior nível da história. Analistas apontam que a sinalização de Trump foi determinante para o otimismo, informa a Folha de S.Paulo.
“Abre-se caminho para o que não tinha acontecido até agora: Trump sentando à mesa para conversar com o Brasil. Ele disse pouco, mas é uma sinalização muito valiosa”, avaliou Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos, citando a possibilidade de flexibilização nas tarifas impostas a exportações brasileiras.
Atritos diplomáticos e econômicos
As falas vieram um dia após Washington ampliar sanções a autoridades brasileiras ligadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em reação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão. Lula, em seu discurso na ONU, defendeu a legitimidade do processo.
“Bolsonaro teve amplo direito de defesa. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam”, disse o presidente, reforçando que “nossa democracia e soberania são inegociáveis”.
Haddad vê oportunidade em meio à crise
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também entrou no debate ao classificar as sobretaxas americanas sobre commodities como um “tiro no pé”. Em entrevista, disse que a medida encarece “o café da manhã, o almoço e o jantar” dos consumidores dos EUA e, paradoxalmente, abre espaço para que o Brasil avance em reformas internas.
“É um momento auspicioso, em que podemos fazer o que nunca tivemos coragem de enfrentar”, afirmou. Haddad também voltou a criticar a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, sinalizando que há espaço para cortes.
Impacto da política monetária
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pela manhã, indicou que a estratégia do Banco Central agora é avaliar os efeitos acumulados do aperto monetário. O documento reforçou a intenção de manter os juros elevados por período prolongado, mas parte do mercado aposta em espaço para flexibilização diante da desaceleração da inflação.
Para Leonel Mattos, analista da StoneX, essa combinação tende a favorecer o real: “A manutenção da Selic em patamar estável, no momento em que o Federal Reserve retoma cortes de juros, aumenta a atratividade do carry trade e pressiona a taxa de câmbio para baixo”.
Powell alerta para riscos nos EUA
Apesar das expectativas, Jerome Powell, presidente do Fed, fez um alerta em discurso nesta tarde. Ele afirmou que cortes adicionais de juros em 2025 ainda não estão garantidos, e que afrouxar a política monetária de forma “muito agressiva” pode obrigar o banco central americano a reverter a estratégia para controlar a inflação.
Combinados, os fatores globais e os sinais de possível trégua entre Lula e Trump criaram o ambiente de alívio observado nesta terça-feira nos mercados financeiros, que seguem atentos aos próximos capítulos da relação bilateral.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/apos-afago-de-trump-a-lula-dolar-cai-a-r-528-e-bolsa-bate-recorde/