
O governo brasileiro decidiu manter de forma discreta as negociações com os Estados Unidos sobre a alta na tarifa de importação de aço e alumínio, informa a colunista Letícia Casado, do portal UOL. O objetivo é revogar a sobretaxa aplicada ou definir novas cotas de importação. A partir desta quarta-feira os estadunidenses passam a aplicar tarifa de 25% sobre aço e alumínio do Brasil e de outros países.
A orientação em Brasília é que o governo não deve ficar acuado e tampouco cair no bullying de Donald Trump, que tem disparado ataques protecionistas contra diversos países cujas relações bilaterais são historicamente boas. E, menos ainda, entrar no embate do “toma lá, dá cá”.
Além disso, a equipe de Lula entende que o estadunidense não promove ações contra o Brasil como um todo, mas contra um setor — importante, porém específico — da economia. É diferente, por exemplo, de como ele está fazendo com México e Canadá, e ameaçando o bloco econômico do USMCA, o antigo Nafta.
As negociações sobre aço e alumínio seguirão sendo capitaneadas pelos ministérios da Indústria e das Relações Exteriores com o departamento de comércio estadunidense. Integrantes do governo afirmam que, apesar de a medida ter sido tomada de maneira unilateral, é essencial manter a normalidade das relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.
Isso não invalida a possibilidade de retaliar os Estados Unidos impondo sobretaxa a produtos importados do país ou exportados para lá. A questão, no entanto, não é simples e ainda está sendo estudada. Aumentar a tarifa do petróleo, por exemplo, é inviável porque provocaria alta de preços do combustível no Brasil.
“O Brasil tem muita dificuldade de aplicar reciprocidade. A importação de produtos dos EUA pelo Brasil é quase toda de material ou equipamento para indústria brasileira —com exceção de petróleo, que não vai ter tarifação. Então, acaba retaliando coisa pequena”, diz o ex-secretário de comércio exterior do Brasil, Welber Barral, da consultoria BMJ.
Nesta manhã, o ministro da Fazenda Fernando Haddad vai se reunir em Brasília com empresários da indústria do aço brasileiro para tratar do tema.
Brasil X EUA na OMC
O governo também cogita acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio) para arbitrar sobre o caso.
Mais do que resultado imediato e efetivo, a iniciativa tem um tom simbólico, diz uma fonte: coloca o Brasil ao lado de países da Europa e da China em um trabalho de fortalecimento das organizações multilaterais, tão atacadas por Trump.
O Brasil já recorreu à OMC contra os Estados Unidos e ganhou, mas o caso tramitou durante anos.
Em 2009, o Brasil foi autorizado a aplicar sanções contra os Estados Unidos por causa de subsídios concedidos pelas autoridades estadunidenses a seus produtores de algodão. Na época, o governo Lula preparou uma lista de 222 itens estadunidenses — entre eles produtos alimentícios, farmacêuticos e têxteis — que poderiam ser alvo de sobretaxas ao serem exportados dos Estados Unidos para o Brasil.
O caso chegou à OMC sete anos antes, em 2002. Em 2014, os países assinaram um acordo para encerrar a disputa.
À espera da moderação
Um integrante do governo brasileiro não descarta a possibilidade de que Trump fique um pouco mais moderado após impor alta de tarifas mundo afora.
Ele cita três fatores: a alta em sua desaprovação junto à opinião pública; a retaliação da China aos Estados Unidos com sobretaxa em alimentos e produtos agrícolas, além de restrições de exportação para empresas estadunidenses; e a incerteza gerada por essas medidas, que derrubou as bolsas estadunidenses e acendeu o alerta para uma possível recessão no país.
Por outro lado, há no governo quem aposte que Trump vai continuar esticando a corda para mostrar força ao eleitor estadunidense —ao menos enquanto as tarifas de importação não provocarem efeitos significativos na inflação interna dos Estados Unidos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/apos-tarifaco-de-trump-governo-brasileiro-negocia-de-modo-discreto-com-os-eua-pela-revogacao-da-taxa/