
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (23) a ata da 273ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), detalhando os motivos que levaram à manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, o maior nível desde 2006. O documento sinaliza que os juros devem permanecer altos por um “período bastante prolongado” e abre a possibilidade de novos aumentos, caso seja necessário para levar a inflação ao centro da meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Estratégia de juros altos para conter a inflação
Na avaliação dos diretores do BC, a inflação segue pressionada pela demanda e exige uma política monetária mais dura. “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, aponta a ata.
O comitê considera que a fase atual representa um “novo estágio” da política monetária: após sete elevações consecutivas, a estabilidade da Selic permitirá avaliar se o nível atual é suficiente para reduzir os preços. Ainda assim, as projeções apontam o IPCA acima da meta no horizonte relevante.
Possibilidade de novos aumentos
O documento ressalta que o cenário exige prudência e que a porta para novas altas não está fechada. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado. Reafirmou-se o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta”, destaca o texto.
Expectativas do mercado
De acordo com o Boletim Focus, a Selic deve ser mantida em 15% nas próximas duas reuniões do Copom. A primeira redução só é esperada em 2026, com corte de 0,25 ponto percentual, para 14,75% ao ano. A projeção do mercado é de uma trajetória de queda gradual, até atingir 12,25% ao final do próximo ano.
Inflação de serviços e mercado de trabalho
A ata também destacou a “resiliência” da inflação de serviços, impulsionada pela força do mercado de trabalho, que registrou taxa de desemprego de 5,8% no trimestre encerrado em julho — a menor da série histórica. Segundo o Copom, o impacto da política de juros é mais visível no consumo de bens dependentes do crédito, que já mostra desaceleração.
“Nota-se maior arrefecimento no consumo de bens mais ligados ao crédito em contraposição a bens de consumo mais ligados à renda”, avaliou o colegiado.
Incertezas externas e tarifaço dos EUA
O cenário internacional foi apontado como fator de risco adicional. O Copom demonstrou preocupação com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, medida que eleva a incerteza para países emergentes.
“Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica”, registra a ata. O documento ainda ressalta que a combinação de protecionismo dos EUA e aumento dos gastos fiscais no Brasil reforça a necessidade de prudência.
“O Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica de inflação interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo”, conclui o texto.
Com isso, o Banco Central reforça a mensagem de que a Selic seguirá elevada por um horizonte prolongado, mantendo-se firme na defesa da estabilidade de preços, mesmo diante das pressões internas e do ambiente internacional cada vez mais instável.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/ata-do-copom-bc-preve-juros-elevados-por-periodo-prolongado/