
O Banco Central alertou, nesta terça-feira (6), que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras aumentou a incerteza do cenário econômico e tornou o ambiente mais adverso para o Brasil. A avaliação foi registrada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano — o maior patamar desde julho de 2006.
Na ata, o BC ressalta que a “avaliação predominante no Comitê é de que há maior incerteza no cenário externo e, consequentemente, o Copom deve preservar uma postura de cautela”. O impacto das tarifas anunciadas na semana passada pelo governo de Donald Trump é citado explicitamente como um dos fatores que justificam essa prudência.
“O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”, afirmou o BC.
Postura conservadora e linguagem estratégica
Embora a decisão de manter a Selic já fosse esperada pelo mercado, a ata chama atenção pelo uso de uma nova formulação: o Copom antecipou a “manutenção da interrupção” do ciclo de alta de juros. Segundo economistas, a escolha das palavras foi cuidadosamente pensada para conter expectativas de corte na taxa ainda neste ano e para reafirmar a intenção de sustentar os juros elevados por mais tempo.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, diz o texto.
O BC também reforçou que “seguirá vigilante”, e que, se necessário, poderá retomar o ciclo de aperto monetário. “Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitaremos em retomar o ciclo de ajuste caso julguemos apropriado”, enfatizou o comitê.
Inflação desancorada e crescimento moderado
A ata aponta que a inflação segue resistente e que as expectativas do mercado continuam desancoradas, o que reforça a necessidade de uma política monetária “significativamente contracionista”. Para o Copom, esse nível elevado da taxa básica precisa ser mantido por um “período bastante prolongado” para garantir a convergência da inflação à meta.
As projeções do Banco Central seguem acima do centro da meta de 3,0%: a inflação estimada é de 4,9% para 2025, 3,6% para 2026 e 3,4% para o primeiro trimestre de 2027 — horizonte de referência adotado atualmente pela autoridade monetária.
O comitê também reconheceu sinais de moderação no ritmo de crescimento da economia brasileira, algo que considera positivo para conter a inflação. “Há uma certa moderação no crescimento, que está em linha com o esperado”, registrou o BC. Ainda assim, a instituição pontuou que o mercado de trabalho permanece aquecido, o que mantém a atividade econômica resiliente.
Além do cenário externo turbulento, o Copom afirmou que acompanha com atenção os desdobramentos fiscais no âmbito doméstico. A combinação de incertezas, projeções elevadas de inflação, pressão no mercado de trabalho e falta de ancoragem nas expectativas reforça, segundo o Banco Central, a necessidade de manter os juros em patamar elevado por mais tempo do que o inicialmente previsto.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/ata-do-copom-com-cenario-externo-incerto-e-tarifaco-dos-eua-bc-justifica-manutencao-da-selic-em-15/