
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira, um novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, levando os juros básicos da economia de 14,25% para 14,75% ao ano. A informação é da repórter Miriam Leitão, em O Globo, e reflete ampla expectativa de instituições como Bradesco, Santander, C6 Bank, Banco Inter e XP Investimentos. Ainda que haja consenso sobre a elevação desta semana, o mercado permanece dividido quanto à trajetória futura da política monetária.
Para parte dos analistas, a reunião desta semana pode marcar o encerramento do atual ciclo de alta. “No cenário doméstico, os sinais são de desaceleração moderada da economia, mas que pode se intensificar considerando o patamar já bastante restritivo da Selic e o risco de recessão global”, afirma Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter. Segundo ela, a combinação de menor atividade global, recuo nas commodities e início de desinflação nos serviços aponta para a diminuição das pressões inflacionárias nos próximos meses.
O Bradesco compartilha a avaliação de que o ciclo está próximo do fim, mas prevê que o Copom manterá uma comunicação firme, destacando os riscos externos e a persistência da inflação. “Ainda assim, entendemos que o ciclo de alta está chegando ao fim. Projetamos Selic em 14,75% até novembro e o início do ciclo de cortes na reunião de dezembro, encerrando este ano com juros de 14,25%”, avaliou o banco.
O Santander, por sua vez, acredita que esta será a última elevação de juros, apostando em uma mensagem do Copom com ênfase em “cautela e flexibilidade”, sem compromissos explícitos com novas altas. Já o C6 Bank mantém projeção de nova elevação em junho, elevando a taxa a 15%, com manutenção nesse patamar até o fim de 2026.
Para a XP Investimentos, o aperto ainda não chegou ao fim. O economista Caio Megale avalia que a Selic deve alcançar 15,5% ao ano. Para ele, o Copom continuará operando com margem de manobra: “Vai querer ter flexibilidade. Se precisar, sobe mais. Se puder, para”, declarou Megale ao Valor Econômico.
Apesar das divergências, a percepção dominante é de que os efeitos do atual nível de juros — já considerado restritivo — ainda não se manifestaram totalmente sobre a atividade econômica. O crédito recuou, a produção industrial perdeu fôlego e o setor de serviços mostra sinais de desaceleração. Mesmo o mercado de trabalho, que segue aquecido, apresenta queda marginal na criação de empregos, o que pode aliviar pressões salariais no médio prazo.
Pressão internacional e decisão do Fed
O Copom também se reúne na mesma semana em que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, decidirá sobre sua taxa de juros. A expectativa é de manutenção da atual taxa americana, após a divulgação de um relatório de empregos (payroll) mais forte que o previsto. Foram geradas 177 mil vagas em abril, acima da projeção de 138 mil, o que levou os agentes financeiros a adiar para julho a previsão do primeiro corte de juros pelo Fed. Ainda assim, o mercado aposta em até quatro cortes de 0,25 ponto percentual ao longo deste ano.
A política de tarifas do governo Donald Trump, que elevou a instabilidade nos mercados, também é monitorada de perto pelo Banco Central brasileiro. A guerra comercial tem provocado efeitos negativos sobre o crescimento global, o que, segundo analistas, reforça o tom de cautela esperado na comunicação do Copom.
Em meio a um cenário externo volátil e inflação interna resistente, o Banco Central caminha para uma decisão que poderá marcar o fim do ciclo de aperto monetário — ou o prenúncio de que ainda será necessário subir mais a taxa para conter a inflação. A resposta definitiva deve vir com o comunicado pós-reunião, aguardado com atenção pelo mercado.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/banco-central-deve-elevar-selic-para-1475-e-sinalizar-fim-do-ciclo-de-alta/