BC mantém Selic em 15% e diz que juros atuais bastam para meta

Apesar das pressões do governo de Luiz Inácio Lula da Silva por uma redução dos juros, o Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (5) manter a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), confirma o cenário traçado em setembro e marca a terceira manutenção consecutiva do índice. O patamar atual é o mais alto desde julho de 2006, no primeiro mandato de Lula.

BC reafirma política de juros elevados
Em comunicado, o BC manteve a sinalização de que os juros devem permanecer nesse nível por um “período bastante prolongado”, mas destacou pela primeira vez que considera o patamar atual suficiente para atingir a meta de inflação de 3,0%. O Copom ressaltou que seguirá “vigilante” e que poderá ajustar a política monetária caso julgue necessário.

Mercado previa manutenção da taxa
A decisão já era amplamente esperada pelo mercado financeiro. Pesquisa do Valor Pro com 120 instituições mostrou unanimidade na expectativa de manutenção dos juros. Desde setembro, o BC havia indicado que o ciclo de alta da Selic estava encerrado, mas que continuaria avaliando se o nível atual seria suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.

Pressão do governo por corte de juros
A posição firme do Banco Central tem provocado insatisfação dentro do governo. O presidente Lula afirmou recentemente que o BC “vai precisar começar a baixar os juros”, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o discurso em evento em São Paulo.
“Eles vão ter que cair. Não tem como sustentar 15% de juros reais com a inflação batendo 4,5%”, disse Haddad. “Se eu fosse diretor do Banco Central, votava pela queda”, completou.

Inflação ainda acima da meta
Mesmo com sinais de moderação, a inflação segue fora do intervalo de tolerância. O IPCA acumulado em 12 meses está em 5,17%, acima do teto de 4,5%. O IPCA-15 de setembro, de 0,48%, trouxe alívio, mas a inflação de serviços continua elevada.

As expectativas do mercado, medidas pelo Boletim Focus, mostram leve melhora: a projeção para 2025 caiu para 4,56%, enquanto para 2026 e 2027 as estimativas recuaram para 4,20% e 3,82%, respectivamente — ainda acima da meta.

Atividade econômica e cenário internacional
Os dados recentes apontam desaceleração da economia e do mercado de trabalho, o que pode contribuir para conter pressões inflacionárias. Mesmo assim, o desemprego em patamares historicamente baixos ainda representa risco. No cenário externo, a reabertura das negociações entre Brasil e Estados Unidos é vista como positiva, embora o ambiente global siga incerto.

Expectativa de queda em 2026
Com o BC indicando manutenção prolongada, a maioria dos analistas projeta que o ciclo de cortes na Selic deve começar entre janeiro e março de 2026, dependendo da evolução da inflação e da atividade econômica.