
O Banco Central reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano de 2,1% para 1,9%. A projeção foi divulgada nesta quinta-feira na primeira edição do Relatório de Política Monetária, criado pelo decreto que alterou o sistema de metas do país para o regime contínuo e que substitui o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Além disso, o BC sinalizou que só vê a inflação perto da meta em 2027, conforme suas projeções oficiais, que levam em conta as estimativas da taxa Selic extraídas do Boletim Focus.
No comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC afirmou que havia sinais de “incipiente moderação” da atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 ficou aquém do esperado, com avanço de 0,2%. No ano de 2024, o PIB cresceu 3,4%.
No Relatório de Política Monetária, o BC afirmou que a desaceleração esperada ante o ano passado continua associada à política monetária mais contracionista, ao menor impulso fiscal, ao reduzido grau de ociosidade dos fatores de produção e à moderação do crescimento global. O órgão ainda destacou que aumentou a incerteza em relação ao cenário base devido a fatores internos e externos.
Segundo o BC, a revisão reflete uma redução no crescimento esperado para os setores mais cíclicos (mais relacionados à situação da economia em geral), parcialmente compensada por um aumento nos demais.
Em relação aos setores cíclicos, a autoridade monetária considerou que a redução no crescimento esperado para 2025 está ligada aos juros reais (descontada a inflação) maiores no primeiro trimestre de 2025 do que o previsto no documento de dezembro.
Já a melhora nas previsões para os setores menos sensíveis ao ciclo econômico deve-se, principalmente, ao aumento nas estimativas de produção agrícola e aos prognósticos mais favoráveis para a produção de petróleo.
“Pelo lado da demanda, continua-se esperando desaceleração relevante no consumo das famílias, na formação bruta de capital fixo (FBCF) e nas importações”, destacou o BC.
Pelo lado da oferta, o crescimento da agropecuária passou de 4,0% para 6,5%, enquanto indústria e serviços agora têm previsões de alta menores, de 2,4% para 2,2% na atividade fabril, e de 1,9% para 1,5% nos serviços.
“Em geral, as mudanças são resultado das surpresas no quarto trimestre, predominantemente negativas, e da expectativa de taxas de crescimento ao longo do ano um pouco menores do que se previa anteriormente.”
No lado da demanda, a previsão de aumento do consumo das famílias caiu bastante, de 2,4% para 1,5%, assim como a formação bruta de capital fixo (investimentos), de 2,9% para 2,0%. A projeção de consumo do governo ficou estável em 1,6%. Já exportação e importação subiram de 2,5% para 4,0%.
“A alteração das exportações decorre de prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa, setores com elevada participação na pauta de exportações do país. O aumento das importações reflete, majoritariamente, surpresas positivas nos volumes importados no primeiro bimestre do ano. Mesmo com alta na projeção, ainda se prevê uma forte desaceleração das importações em relação a 2024, quando cresceram 14,7%, em linha com a expectativa de arrefecimento da demanda doméstica.”
Safra, Salário Mínimo e FGTS
O BC, no entanto, prevê um crescimento mais expressivo no primeiro trimestre de 2025 devido à forte expansão esperada para a agropecuária, mas também devido ao impulso ao consumo dado pelo aumento do salário mínimo e pela liberação de R$ 12 bilhões do FGTS. Para os trimestres seguintes, porém, a previsão é de “certa estabilidade”.
“A previsão de forte alta na agropecuária – bastante influenciada pela expectativa de safra recorde de soja, cuja colheita é concentrada no início do ano –, juntamente com o aumento no valor do salário-mínimo e a liberação de recursos extras do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)3, deve contribuir para a aceleração da atividade no primeiro trimestre.”
O BC pondera, contudo, que é necessário cautela sobre conclusões sobre o aquecimento da atividade no início de 2025.
“O crescimento esperado para o primeiro trimestre, especialmente ao se excluir do PIB o setor agropecuário, parece sensível à especificação do ajuste sazonal. Os resultados sugerem que interpretações sobre o grau de aquecimento da atividade no início de 2025 devem ser feitas com cautela.”
Convergência de inflação desafiadora
No documento divulgado nesta quinta, o BC informou as suas projeções oficiais para o final de 2026 e para o terceiro trimestre de 2027. Até então, o órgão só havia divulgado as estimativas para o fim deste ano, em 5,1%, e para o terceiro trimestre do ano que vem, que é o horizonte que o BC trabalha atualmente para alcançar a meta, cuja a previsão é de 3,9%.
Para o fim do ano que vem, o BC prevê 3,7%. A inflação só chegaria próximo à meta de 3,0% em 2027, conforme a projeção de 3,1% para o terceiro trimestre daquele ano. As estimativas levam em conta as projeções do mercado para Selic no Boletim Focus, de 15% no fim deste ano e de 12,50% no fim de 2026, além da evolução da taxa de câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC).
Para este ano, o BC já destacou que espera descumprimento no primeiro teste da meta contínua, em junho, sem voltar ao intervalo da meta (de 1,5% a 4,5%) até o fim deste ano.
“Nas projeções do cenário dereferência, a inflação continua acimado limite do intervalo de tolerância ao longo de 2025, começando a cair a partir do quarto trimestre, mas ainda permanecendo acima da meta. Nesse cenário, a inflação acumulada em quatro trimestres fica na faixa de 5,5%-5,6% nos três primeiros trimestres de 2025, cai para 5,1% no final do ano, 3,7% em 2026 e 3,1% no último período considerado, referente ao terceiro trimestre de 2027.”
O BC destaca no documento que as projeções acima da meta tornam a convergência desafiadora.
Com informações de O GLOBO.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/bc-reduz-projecao-do-pib-de-2025-de-21-para-19/