30 de julho de 2025
Governo Lula estuda judicializar tarifa imposta por Trump na OMC
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Às vésperas de entrar em vigor uma sobretaxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda aguarda um sinal de Washington para iniciar formalmente as negociações que possam evitar o agravamento das barreiras comerciais. A medida está prevista para entrar em vigor nesta sexta-feira.

O Planalto espera que Jamieson Greer, representante comercial da Casa Branca, retome as conversas com o governo brasileiro. Apesar do diálogo recente entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, Greer é considerado o principal articulador de acordos internacionais no governo Trump.

A expectativa é que o retorno do presidente Donald Trump e de seus principais assessores de uma viagem à Escócia possa destravar o impasse. Pessoas próximas ao tema avaliam que, como os Estados Unidos têm firmado acordos com outros parceiros — incluindo Indonésia, Reino Unido, Japão e União Europeia —, o Brasil espera ser o próximo da fila.

Sinal verde de Washington é aguardado por Lula

Enquanto tenta se posicionar nas prioridades da diplomacia comercial dos EUA, o governo brasileiro tem mantido canais abertos. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve nos últimos dias em Nova York para participar de uma reunião da ONU sobre a crise na Palestina. Durante sua visita, indicou ao governo dos EUA estar disposto a ir a Washington para uma reunião de alto nível, desde que formalmente convidado.

O Itamaraty aguarda agora uma definição sobre o que os Estados Unidos desejam negociar com o Brasil: quais produtos poderiam ser isentos de tarifa ao entrar no mercado estadunidense, que itens brasileiros teriam acesso facilitado e quais questões bilaterais devem entrar na pauta.

Entre os temas de interesse estão a regulação das big techs — discutida recentemente entre Alckmin, representantes do Departamento de Comércio dos EUA e empresas estadunidenses —, e o comércio de minerais estratégicos como lítio, nióbio e terras raras.

Impasses políticos: pressão por Bolsonaro trava avanço

Um dos principais obstáculos à retomada das negociações, no entanto, tem caráter político. Segundo fontes do governo brasileiro, a equipe de Trump deseja vincular qualquer acordo comercial ao tratamento dado pelo Supremo Tribunal Federal ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Moraes e outros magistrados tiveram seus vistos de entrada nos EUA suspensos recentemente, como parte de sanções.

O Palácio do Planalto vê com preocupação essa tentativa de interferência. Para interlocutores de Lula, uma eventual ligação entre os presidentes exigiria uma preparação cuidadosa. Há receio de que Trump repita episódios de grosseria registrados em reuniões anteriores com líderes como Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul.

Negociações travadas desde março

Desde março, Brasil e Estados Unidos estavam engajados em conversas para evitar a imposição de tarifas. Em pauta, estavam as já existentes tarifas de 25% sobre aço e alumínio, além de uma sobretaxa de 10% sobre todos os produtos brasileiros.

Contudo, na primeira semana de julho, Trump surpreendeu ao anunciar uma nova tarifa de 50% e inserir o nome de Bolsonaro na equação, elevando o tom político da disputa comercial e travando avanços diplomáticos que vinham sendo costurados desde o início do ano.

O Planalto agora corre contra o tempo para impedir que a sobretaxa entre em vigor, apostando em uma reabertura do diálogo com a Casa Branca — sem ceder à pressão política para incluir Bolsonaro nas negociações.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/brasil-aguarda-manifestacao-do-representante-de-comercio-dos-eua-para-seguir-negociacao-sobre-tarifas/