
Em um movimento que consolida a crescente reconfiguração das alianças geopolíticas globais, o Seminário Empresarial China-Brasil, promovido pela ApexBrasil, acontece nesta segunda-feira (12) em Pequim e reúne mais de 700 participantes, entre autoridades de alto escalão, empresários e líderes institucionais. O evento, sediado no prestigiado Hotel St. Regis, marca o início de uma nova etapa na relação bilateral sino-brasileira, com ênfase em integração econômica, cooperação energética e segurança alimentar.
A realização do fórum na véspera do encontro China-Celac, marcado para o dia 13 de maio, reforça o papel estratégico do Brasil como principal interlocutor da América Latina com a China. A sequência dos dois eventos sinaliza um alinhamento diplomático e comercial que poderá redefinir o papel da região no novo tabuleiro multipolar.
Alta representatividade política e econômica
A abertura do seminário contará com a presença de Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, e Fang Aiqing, presidente do Conselho Chinês para Promoção de Investimentos Internacionais (CCIIP), além do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa, e do senador Davi Alcolumbre, atual presidente do Congresso Nacional. O encerramento será feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em gesto que reforça a importância diplomática do evento.
Há expectativa de que uma autoridade de alto escalão do governo chinês também participe do encerramento, o que confirmaria a reciprocidade de interesse no aprofundamento da parceria estratégica.
Painéis temáticos discutem eixos centrais da nova economia
O fórum foi estruturado em quatro grandes painéis, com foco em temas de alto impacto para o futuro da economia global:
- Investimentos e novas oportunidades de financiamento: destaque para a presença do governador do Piauí, Rafael Fonteles, e de executivos da Suzano, Eurofarma, além de representantes do BNDES, do banco chinês ICBC e das gigantes China Merchants Port e Kuaishou.
- Transição energética e sustentabilidade: painéis com Weg, Ambipar, Vale, Raízen, Sigma Lithium, State Grid, BYD e GWM discutem o protagonismo sino-brasileiro na descarbonização e no desenvolvimento de tecnologias limpas.
- Segurança alimentar: Embrapa, BRF/Marfrig, Bayer, COFCO e a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas abordam desafios e soluções conjuntas para o abastecimento alimentar diante das instabilidades climáticas e geopolíticas.
- Sessão ministerial: com a participação dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Simone Tebet (Planejamento), além de Tarciana Medeiros (Banco do Brasil) e Gabriel Galípolo (Banco Central).
Atos bilaterais e anúncios de investimentos estão previstos para as 16h45 (horário local), com foco em setores considerados estratégicos.
A geopolítica da Declaração de Pequim
A realização do evento se insere em um momento de transição no cenário internacional. No pano de fundo, ganha força a chamada Declaração de Pequim, elaborada no contexto da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e da Nova Rota da Seda, apresentada por muitos analistas como alternativa ao esgotado Consenso de Washington. Em artigo publicado no Brasil 247, o jornalista Leonardo Attuch argumenta que o mundo multipolar “já nasceu” e que o Brasil, ao estreitar laços com a China, assume um papel soberano e relevante no redesenho da ordem global.
Mais do que comércio: convergência diplomática e estratégica
Embora o seminário tenha forte componente econômico, sua essência é eminentemente política. A presença de Lula e de diversos ministros evidencia a intenção do governo brasileiro de consolidar um novo paradigma nas relações internacionais, baseado na complementaridade Sul-Sul, no desenvolvimento sustentável e na diversificação das parcerias comerciais.
A sucessão entre o fórum Brasil-China e o China-Celac aponta para um redesenho das alianças continentais, com o Brasil atuando como elo-chave entre a Ásia e a América Latina. Em um mundo que supera a lógica da dependência Norte-Sul, a cooperação entre Brasília e Pequim pode se tornar o eixo de sustentação de uma nova ordem global — mais equilibrada, diversa e multipolar.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/brasil-e-china-aprofundam-alianca-estrategica-com-seminario-que-inaugura-nova-fase-da-relacao-bilateral/