Chanceler brasileiro confronta EUA sobre sanções e tarifaço em reunião com Marco Rubio – Agenda do Poder

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reuniu-se nesta quarta-feira (30), em Washington, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. Foi o primeiro encontro entre os dois desde o retorno de Donald Trump à presidência americana. A conversa, segundo fontes do Itamaraty, foi marcada por tensões diplomáticas.

Vieira manifestou veemente discordância em relação às sanções impostas pelo governo americano ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, bem como à nova rodada de tarifas que afetam exportações brasileiras. Em declaração firme, o chanceler reiterou que o Brasil está disposto a negociar tarifas e comércio, “mas não a soberania”.

Sanções a Moraes e sobretaxa de 50% irritam Itamaraty

Na mesma quarta-feira, a Casa Branca anunciou oficialmente a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes. A medida incluiu a suspensão do visto de entrada do ministro nos EUA, bloqueio de bens em território americano e proibição de uso de cartões de crédito emitidos por empresas dos Estados Unidos.

Horas depois, Trump assinou uma ordem executiva impondo uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros — adicional aos 10% já em vigor desde abril. Com isso, o total da tarifa atinge 50%. Alguns produtos foram temporariamente excluídos da medida, e a entrada em vigor foi adiada por sete dias, começando na próxima sexta-feira.

O gesto foi considerado um revés diplomático pela chancelaria brasileira. O Brasil teme que as sanções e o tarifaço representem um retrocesso nas relações bilaterais, tradicionalmente pautadas pela cooperação comercial e respeito mútuo entre os dois países.

Trump pressiona por interferência no processo contra Bolsonaro

Outro ponto sensível tratado na reunião foi o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, em tramitação no Supremo. Trump tem pressionado o governo brasileiro a agir para impedir o avanço da ação, que investiga a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

O chanceler Mauro Vieira foi enfático ao afirmar que o Judiciário brasileiro é independente e que o processo contra Bolsonaro não será incluído em negociações comerciais. “A soberania nacional e a autonomia dos Poderes são inegociáveis”, teria dito Vieira, segundo interlocutores próximos.

Vieira viajou aos Estados Unidos inicialmente para compromissos na ONU, em Nova York, onde participou de uma discussão sobre a crise na Palestina. Ao ser informado da disposição americana para um encontro, seguiu a Washington para a reunião com Rubio.

Sinal de alerta nas relações Brasil-EUA

A escalada nas tensões entre os governos de Lula e Trump reforça a delicadeza da atual conjuntura internacional. Analistas avaliam que as sanções a Moraes, aliadas ao tarifaço, representam uma retaliação à atuação da Justiça brasileira contra aliados do ex-presidente americano, como Bolsonaro.

A resposta do Itamaraty buscou conter danos e reafirmar princípios fundamentais da diplomacia brasileira, com ênfase na defesa da soberania, da separação de Poderes e da estabilidade institucional.