
O portal da emissora estatal chinesa CCTV, por meio do perfil Yuyuan Tan Tian na plataforma Weibo, publicou nesta segunda-feira (28) um vídeo que destaca a chegada maciça de soja brasileira ao porto de Ningbo-Zhoushan, localizado próximo a Hangzhou e Xangai. Segundo informações divulgadas pela rede, a China ampliou significativamente suas importações do Brasil após reduzir as compras de grãos dos Estados Unidos. A reportagem é da Folha de S.Paulo.
De acordo com a publicação, apenas em abril, 40 navios carregados com soja passaram pelo terminal — um aumento de 48% em relação aos 27 registrados no mesmo mês de 2024. No total, cerca de 700 mil toneladas de soja brasileira estão sendo desembarcadas neste mês, contra 530 mil toneladas no ano passado, o que representa um crescimento de 32%.
A divulgação das imagens coincidiu com declarações de Zhao Chenxin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, principal órgão de planejamento econômico do país. Em entrevista coletiva, Zhao reforçou a estratégia de diversificação de fornecedores e minimização da dependência dos produtos agrícolas norte-americanos. “Não haverá muito impacto no fornecimento de grãos de nosso país mesmo que não compremos grãos e oleaginosas dos Estados Unidos”, afirmou. Segundo ele, a China também está preparada para reduzir importações de minérios e gás oriundos dos EUA.
As cenas de intensa atividade no porto de Ningbo-Zhoushan contrastam com relatórios recentes da mídia americana, que mostram a queda de movimento nos portos de Seattle e Los Angeles. A retração seria reflexo da escalada tarifária imposta por Washington sobre produtos manufaturados chineses, que acabou por desestimular o comércio bilateral.
O esforço chinês para diminuir a dependência agrícola dos EUA não é recente. Em 2016, 40% da soja importada pela China vinha dos Estados Unidos. No ano passado, essa participação caiu para 18%. Em contrapartida, o Brasil viu sua fatia aumentar de 17% para 25% no mesmo período. Em uma comparação mais ampla, a participação total dos produtos alimentícios americanos nas importações chinesas caiu de 20% para 13%, enquanto a dos brasileiros subiu consideravelmente.
Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram que, na semana encerrada em 17 de abril, a China comprou apenas 1.800 toneladas de soja americana, uma queda drástica em relação às 72.800 toneladas da semana anterior. Essa retração no mercado chinês representa uma ameaça substancial para os produtores rurais norte-americanos, que exportaram cerca de US$ 33 bilhões (R$ 187 bilhões) em produtos agrícolas para a China em 2023. O setor de energia também sentiria o impacto: no ano passado, os EUA venderam aproximadamente US$ 15 bilhões (R$ 85 bilhões) em petróleo, gás e carvão ao mercado chinês.
Em um artigo recente, Yin Ruifeng, pesquisador ligado ao Ministério da Agricultura da China, projetou que as importações de grãos — principalmente do Brasil, Argentina e Uruguai — devem ultrapassar 30 milhões de toneladas entre abril e o final de junho, o que seria um recorde histórico para o trimestre, conforme estimativas da Bloomberg.
Durante a coletiva, Zhao também abordou as expectativas para o crescimento econômico chinês em 2025, projetado em torno de 5%, meta considerada desafiadora diante da intensificação das disputas comerciais com os EUA. “Não importa como a situação internacional evolua, manteremos o foco em nossos objetivos de desenvolvimento e nos concentramos em administrar bem nossos próprios assuntos”, declarou o vice-diretor. Ele reiterou a confiança do governo em alcançar suas metas, ainda que sem anunciar novas medidas de estímulo ao consumo interno, ao contrário do que esperava parte do mercado.
O cenário reforça o movimento gradual, mas consistente, de realinhamento das cadeias de suprimentos globais, em meio à crescente rivalidade econômica entre as duas maiores potências do mundo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/china-exibe-desembarque-de-soja-brasileira-e-afirma-que-pode-prescindir-de-produtos-dos-eua/