22 de novembro de 2025
Com novo PDV, Correios querem desligar pelo menos 10 mil
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Os Correios pretendem lançar um novo programa de demissão voluntária com potencial para desligar ao menos 10 mil empregados, como parte central do plano de reestruturação da estatal, informa a Folha de S. Paulo. A medida é considerada decisiva para que a empresa consiga o empréstimo de R$ 20 bilhões negociado com um consórcio de bancos, operação que contará com aval do Tesouro Nacional.

Com prejuízos acumulados desde 2022, a estatal deve encerrar 2025 com um rombo de R$ 10 bilhões. Projeções internas alertam que, sem intervenção, o cenário pode se tornar catastrófico: o déficit pode saltar para R$ 20 bilhões em 2026 devido a multas por atrasos e, no pior caso, alcançar até R$ 70 bilhões em cinco anos.

Estratégia para cortar custos

Atualmente, os Correios possuem cerca de 85 mil trabalhadores, e o gasto com pessoal representa 72% das despesas totais. A meta mínima de 10 mil desligamentos orienta o desenho do novo PDV, que será estruturado em duas etapas. A primeira seguirá os critérios tradicionais, com exigência de idade mínima e tempo de serviço. A segunda fase, porém, trará metas específicas por áreas e unidades, baseadas em um estudo de produtividade que mapeia setores com ociosidade.

O presidente da estatal, Emmanoel Rondon, já havia antecipado que o PDV teria regras direcionadas justamente para evitar que a empresa perca mão de obra em áreas essenciais, concentrando desligamentos onde há excesso de pessoal.

Reorganização de agências

Os Correios mantêm cerca de 10 mil unidades de atendimento, incluindo agências próprias e franqueadas. Um relatório de 2024 mostra que apenas 15% delas são superavitárias. A reestruturação prevê a identificação de agências próximas entre si — um fenômeno chamado de sombreamento — para avaliar fusões operacionais. Nessas situações, metas de adesão ao PDV poderão ser definidas para equipes específicas, enquanto parte dos funcionários poderá ser remanejada.

Além do corte de pessoal, o plano contempla alternativas como venda de imóveis, reformulação do plano de saúde, ajustes na estrutura de cargos e salários e flexibilização da jornada, permitindo entregas mais intensas aos fins de semana.

Adesão é desafio

O último PDV, lançado em 2024, atraiu apenas 3.705 empregados, número considerado baixo. Para ampliar as adesões, a estatal busca oferecer incentivos financeiros, mas sem comprometer ainda mais a situação fiscal. O temor de depender da aposentadoria administrada pelo Postalis é um dos principais entraves. O fundo de pensão acumula déficits bilionários e aplica cobranças extras aos participantes, reduzindo o valor dos benefícios.

Outro ponto sensível é o plano de saúde, considerado essencial pelos empregados, mesmo fragilizado por falta de repasses da empresa. Por isso, a direção pretende dialogar com sindicatos para ajustar o pacote oferecido e minimizar resistências.

Resistência política e fiscalização

A implementação do plano é observada de perto por órgãos de controle, como TCU e CGU, e também pelos bancos que negociam o crédito. Dentro da estatal, há expectativa de que o compromisso com o ajuste ajude a blindar a empresa de pressões políticas e corporativas, inclusive de grupos que ocupam cargos por indicação e podem ser afetados pelo enxugamento.

O pacote de reestruturação, que deve ser detalhado nas próximas duas semanas, também será determinante para convencer o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e as instituições financeiras de que a empresa será capaz de honrar o empréstimo e recuperar sua sustentabilidade.

Negociações com bancos

Na primeira rodada de conversas, um grupo formado por Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil aceitou conceder o crédito, mas propôs juros equivalentes a 136% do CDI. O valor ultrapassa o teto de 120% estabelecido pelo comitê de garantias do Tesouro para operações garantidas pela União com prazo de dez anos.

A diferença representaria centenas de milhões de reais em custos adicionais ao longo do contrato. Por isso, os Correios decidiram reabrir negociações e buscar mais instituições, com objetivo de reduzir a taxa e evitar questionamentos futuros dos órgãos de controle.

A expectativa é de que o acordo final seja fechado ainda neste ano.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/com-novo-pdv-correios-querem-desligar-pelo-menos-10-mil-trabalhadores/