
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar nesta quarta-feira (7) uma nova elevação da taxa Selic, levando-a ao patamar de 14,75% ao ano — o maior nível registrado desde agosto de 2006.
A informação é da agência Bloomberg, que ouviu 32 instituições financeiras: 31 delas esperam uma alta de 0,5 ponto percentual, enquanto apenas uma prevê um ajuste menor, de 0,25 ponto. A decisão vem em um contexto de inflação resistente e incertezas sobre o ambiente econômico global, especialmente diante da escalada da guerra comercial liderada pelos Estados Unidos.
Economistas ouvidos pela Bloomberg indicam que o Copom poderá alterar a comunicação da política monetária, com possíveis sinais sobre a desaceleração do ritmo de aperto ou mesmo o encerramento do ciclo. A expectativa de parte do mercado é que a elevação desta quarta seja a última, enquanto outros acreditam em mais um ajuste residual em junho.
A inflação corrente segue pressionada. O IPCA-15 acumulou alta de 5,49% em 12 meses até abril, impulsionado principalmente pelos aumentos nos preços dos alimentos e da saúde. A taxa de desemprego subiu a 7% no primeiro trimestre, mas ainda assim marcou o menor nível para o período desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. O emprego formal ajudou a elevar a renda média da população, que atingiu novo recorde.
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e consultor da A.C. Pastore, a conjuntura segue desfavorável. “A inflação está longe da meta de 3% e não há indícios de que o hiato do produto tenha diminuído. A economia segue operando acima do seu potencial, o que aumenta a pressão inflacionária”, avalia. Ele projeta alta de 0,5 ponto nesta reunião, com possível encerramento do ciclo em junho, ao alcançar 15% ao ano. Schwartsman alerta ainda para a instabilidade gerada pela guerra comercial iniciada pelos EUA: “Há um véu gigantesco de incerteza. Se o Copom se amarrar demais em projeções agora, pode perder credibilidade”, afirma.
A política econômica dos Estados Unidos também influencia as decisões no Brasil. Apesar da pressão do ex-presidente Donald Trump por cortes nos juros americanos, o Federal Reserve (Fed) deve manter sua taxa básica entre 4,25% e 4,50% nesta “superquarta” de decisões simultâneas entre os dois bancos centrais.
O impacto do “tarifaço” norte-americano sobre as commodities levou instituições como o Santander a revisarem suas projeções. Para Marco Antonio Caruso, economista-chefe do banco, a decisão de hoje deve encerrar o ciclo de altas, com a Selic permanecendo em 14,75%. Ele destaca que o câmbio valorizado — com o dólar caindo de R$ 5,80 para R$ 5,70 — e a queda nos preços de commodities ajudam a conter a inflação. “Um juro real de 9,5% é elevado, mesmo para os padrões brasileiros. Está chegando a hora de desacelerar”, observa.
Caruso acredita que o Copom adotará um guidance mais brando, sem compromissos explícitos, em linha com o comunicado de agosto de 2022, quando o comitê sinalizou um possível ajuste final de menor magnitude. “Esse é o tipo de comunicação que eu entendo que eles poderiam fazer”, opina.
Já para Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, o ciclo ainda não deve ser encerrado agora. Ela prevê uma alta de 0,5 ponto nesta reunião e mais 0,25 ponto em junho. Tatiana argumenta que a inflação segue “salgada” e que o BC não tem sinalizado claramente que o trabalho está concluído. “Quando o comitê está prestes a encerrar o ciclo, costuma enfatizar que o grosso do ajuste já foi feito. Isso não está acontecendo”, analisa.
Ela aposta que o BC deve manter sua dependência dos dados econômicos e evitar compromissos fechados para a próxima reunião. Ainda assim, projeta que um corte de juros poderá ocorrer já em dezembro, caso três fatores se alinhem: desinflação global com impacto do tarifaço, continuidade da política monetária restritiva e uma política fiscal comprometida com o equilíbrio das contas públicas. “A combinação desses elementos pode abrir espaço para o Banco Central iniciar cortes no fim do ano”, conclui.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/copom-deve-elevar-selic-a-1475-e-reacende-debate-sobre-fim-do-ciclo-de-alta/