19 de agosto de 2025
Copom eleva Selic para 14,75% e leva juros ao maior
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Em decisão divulgada nesta quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, levando-a a 14,75% ao ano. Este é o maior patamar registrado desde julho de 2006, ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação foi publicada pelo portal G1.

A medida representa a sexta alta consecutiva da Selic e confirma o endurecimento da política monetária em resposta à persistente pressão inflacionária, ao ritmo aquecido da economia doméstica e à deterioração do cenário internacional. Em comunicado, o Copom justificou a decisão mencionando um “ambiente externo adverso e particularmente incerto”, em especial pelas mudanças na política econômica dos Estados Unidos.

“A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da magnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países, com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária”, destacou o comitê.

O Copom também indicou que manterá postura cautelosa na próxima reunião, sinalizando que a política monetária seguirá dependente dos dados: “O cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional”.

Inflação resistente e atividade aquecida

Apesar de sinais de desaceleração global — intensificados pelas políticas protecionistas do presidente norte-americano Donald Trump — a economia brasileira continua operando acima de seu potencial, segundo o próprio Banco Central. A autoridade monetária tem apontado a resiliência da atividade, o mercado de trabalho aquecido e o aumento dos gastos públicos como principais vetores da inflação doméstica.

Desde o início de 2025, o país adota o sistema de metas contínuas para a inflação, com centro em 3% e tolerância entre 1,5% e 4,5%. As projeções para os próximos anos, no entanto, seguem acima do objetivo: 5,53% em 2025, 4,51% em 2026, 4% em 2027 e 3,8% em 2028. O BC já admite a possibilidade de novo descumprimento da meta em junho, ao completar seis meses consecutivos acima do teto de tolerância.

Efeitos econômicos da alta dos juros

O aumento da Selic impacta diretamente diferentes setores da economia. Entre os efeitos esperados estão:

  • Juros bancários mais altos: com a Selic em alta, as taxas cobradas em empréstimos e financiamentos também sobem. Em março, a média chegou a 44% ao ano, a maior em quase dois anos.
  • Freio no crescimento: a elevação dos juros reduz o consumo e inibe investimentos, o que pode provocar queda do PIB, aumento do desemprego e redução da renda.
  • Pressão nas contas públicas: o custo da dívida pública aumenta com juros mais altos. Até março, os gastos com juros somaram R$ 948 bilhões (7,9% do PIB).
  • Rendimento da renda fixa: por outro lado, aplicações como o Tesouro Direto ou debêntures se tornam mais atrativas, em detrimento do mercado de ações.

O Banco Central, ao definir a Selic, atua com foco nas expectativas inflacionárias futuras, já que os efeitos da política monetária demoram até 18 meses para serem sentidos plenamente na economia. Atualmente, o BC já mira os resultados da inflação para o segundo semestre de 2026 e início de 2027.

A decisão do Copom sinaliza que o controle da inflação segue como prioridade, mesmo diante dos impactos negativos no crescimento e no endividamento do país. O mercado agora aguarda os próximos passos da autoridade monetária e o desenrolar do cenário internacional para prever o fim do ciclo de alta.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/copom-eleva-selic-para-1475-e-leva-juros-ao-maior-patamar-em-quase-20-anos/