2 de setembro de 2025
Diretor brasileiro no Banco Mundial critica grupo político que atua
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A guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou o Brasil em uma posição delicada em Washington. Mais do que as tarifas em si, o que chama a atenção na capital estadunidense é a percepção de que existe um grupo político brasileiro atuando contra os interesses nacionais. A avaliação é de Marcos Chiliatto, diretor do Brasil no Banco Mundial (Bird), que concedeu entrevista ao jornal O Globo após uma série de reuniões com autoridades em Brasília e com a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Estamos dispostos ao diálogo. Agora, o diálogo, como o presidente Lula já falou, pressupõe que as duas partes estejam dispostas a conversar. O que eu tenho feito é manter uma relação super produtiva, técnica, para estar pronto para, no momento que existir a disposição do diálogo, o diálogo aconteça”, disse Chiliatto.

Coalizões e tarifas

Segundo ele, o ambiente no Banco Mundial mudou. Se antes havia espaço para a construção de consensos, sobretudo em temas como financiamento climático, hoje o clima é de disputas e formação de blocos de interesse. “O Banco Mundial vinha criando novos instrumentos para conter a crise climática. Isso mudou, e virou um banco de coalizões”, explicou.

Nesse cenário, as tarifas impostas pelos Estados Unidos têm sido aplicadas de forma ampla, atingindo até aliados históricos como o Japão. Para Chiliatto, a situação brasileira tem uma particularidade: “A grande diferença do Brasil é ter um grupo político nacional atuando contra os interesses nacionais. Isso é algo que nunca se viu aqui.”

Influência bolsonarista

Questionado sobre o peso da família Bolsonaro na aproximação com Trump, Chiliatto evitou uma resposta direta, mas reconheceu indícios de influência. Ele lembrou o episódio em que uma reunião entre o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, e o ministro Haddad chegou a ser marcada e depois cancelada, enquanto fotos de Eduardo Bolsonaro com o secretário circularam publicamente.

“Não sabemos se foi uma selfie rápida ou uma reunião formal, ninguém sabe. Mas algum nível de acesso existe. A extrema-direita tem espaços, eles se reúnem, trocam ideias. É possível supor que algum nível de contato exista. Agora, é difícil medir”, afirmou.

Nomeação de Susana Guerra

Outro ponto de atenção em Washington é a nomeação de Susana Guerra, ligada ao bolsonarismo, para uma das vice-presidências do Banco Mundial. Chiliatto minimizou o impacto da escolha, destacando que a função não representa um posto de comando central e que há regras rígidas para impedir atuação política de funcionários.

“Como qualquer funcionário do Banco, ela estará sujeita a um código de ética. Os funcionários do Banco não podem ter uma atuação política”, destacou.

Estratégia de desenvolvimento

Apesar das tensões, Chiliatto reforçou que o Brasil tem aumentado sua participação no Bird. Os empréstimos, que giravam em torno de US$ 500 milhões anuais durante o governo Bolsonaro, saltaram para quase US$ 2 bilhões no ano passado. Para o ciclo que vai até junho de 2026, há um pipeline de US$ 4 bilhões, com potencial de alcançar US$ 6 bilhões.

Os recursos devem ser aplicados em áreas como infraestrutura, energia, transporte, educação e saúde. “Mais ou menos 70% da nossa carteira financiam os estados brasileiros. O Brasil tem o maior crescimento, nunca deixou de se engajar. Essas tensões políticas não ameaçam esse desempenho”, afirmou.

Segundo Chiliatto, o país está alinhado às prioridades do Banco Mundial: combate às mudanças climáticas, inclusão social e redução das desigualdades. “O Brasil tem uma estratégia de desenvolvimento muito alinhada com as prioridades institucionais. São grandes agendas do banco. Apesar da mudança do governo americano, o banco manteve seus principais objetivos.”

Fonte: https://agendadopoder.com.br/diretor-brasileiro-no-banco-mundial-critica-grupo-politico-que-atua-contra-o-pais-em-washington-e-defende-dialogo/