
O dólar está registrando uma forte alta nesta sexta-feira (4), sendo negociado a R$ 5,78 por volta das 10h40, em reação ao anúncio do governo chinês de que retaliará o “tarifaço” imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, B3, apresenta uma queda acentuada de quase 3%, refletindo o movimento negativo nos mercados globais.
A Ásia foi a região mais impactada pelas tarifas anunciadas por Trump na última quarta-feira. A China, segunda maior economia do mundo, recebeu uma taxa adicional de 34%. Somando-se às tarifas de 20% já impostas anteriormente pelos EUA, os produtos chineses que chegam ao país agora estarão sujeitos a uma taxa total de 54%.
Em resposta, Pequim anunciou que aplicará tarifas de 34% sobre todos os produtos estadunidenses, além de impor novos limites à exportação de terras raras (minerais essenciais para a produção de chips tecnológicos) para os EUA.
O mercado tem receio de que outros países sigam o exemplo e comecem a retaliar os EUA, o que poderia desencadear uma guerra comercial em larga escala.
Com as tarifas impostas por Trump, espera-se que os preços de produtos e insumos importados para os EUA aumentem, o que encarecerá a produção de diversos bens e serviços. Isso pode resultar em uma alta da inflação para os consumidores, ao mesmo tempo em que o aumento dos preços leva a uma redução no consumo. Por esse motivo, investidores temem que os EUA enfrentem uma recessão econômica em breve. Na véspera, a moeda estadunidense fechou em queda, atingindo seu menor valor do ano, a R$ 5,62.
No entanto, com a perspectiva de mais países impondo tarifas, especialistas alertam que a inflação mais alta e a desaceleração da atividade econômica podem se espalhar globalmente. Diante dessa incerteza e da percepção de que várias economias, incluindo as maiores, podem ser afetadas, os investidores retornaram ao dólar, considerado uma das moedas mais seguras do mundo. Além disso, as bolsas globais continuam registrando quedas expressivas.
Veja resumo dos mercados:
Dólar
Às 10h43, o dólar subia 2,55%, cotado a R$ 5,7723. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7753.
No dia anterior, a moeda estadunidense teve queda de 1,23%, cotada a R$ 5,6285. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,5930.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 2,28% na semana;
- recuo de 1,35% no mês; e
- perda de 8,92% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 2,82%, aos 127.439 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 0,04%, aos 131.141 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
- queda de 0,58% na semana;
- avanço de 0,67% no mês; e
- ganho de 9,03% no ano.
O que está impactando os mercados?
A implementação de tarifas de importação foi uma das promessas mais destacadas durante a campanha de Donald Trump. Desde sua posse, ele já decretou tarifas sobre vários parceiros comerciais importantes, como México e Canadá, e aplicou taxas sobre produtos específicos, incluindo aço, alumínio, automóveis e produtos agrícolas.
Na quarta-feira (2), Trump revelou mais detalhes sobre como funcionará a tarifa recíproca. As regiões mais afetadas foram a Ásia e o Oriente Médio, com tarifas que em alguns casos superam 40%. A Europa também foi fortemente impactada, com tarifas de 20% impostas sobre produtos da União Europeia.
Especialistas apontam que esse aumento de preços pode pressionar os custos e reduzir o consumo nos EUA, o que poderia resultar em uma desaceleração econômica ou até mesmo em uma recessão na maior economia do mundo.
Com a aplicação das tarifas recíprocas a mais de 180 países, o principal receio do mercado é que o “tarifaço” desencadeie uma guerra comercial generalizada. Esse cenário de incerteza faz com que os investidores evitem ativos de risco, como as ações, prejudicando assim as bolsas de valores globalmente.
Esse receio foi ampliado com o recente anúncio de retaliação da China. O país começará a cobrar tarifas de importação de 34% sobre produtos estadunidenses a partir de 10 de abril.
Além disso, o governo chinês revelou que implementará restrições à exportação de terras raras para os EUA, um grupo de matérias-primas essenciais e escassas utilizadas na produção de tecnologia, como chips para celulares, computadores e cartões. Alguns dos materiais que serão controlados são samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio. Essas restrições entram em vigor já nesta sexta-feira.
“O objetivo da implementação do governo chinês de controles de exportação sobre itens relevantes de acordo com a lei é proteger melhor a segurança e os interesses nacionais e cumprir obrigações internacionais como a não proliferação”, disse o Ministério do Comércio em um comunicado.
Os temores de uma guerra comercial se justificam principalmente pela possibilidade de o mundo todo se envolver em um período de forte desaceleração da atividade econômica.
O analista financeiro Vitor Miziara explica que, para além da cautela já gerada pelas tarifas estadunidenses, eventuais retaliações tarifárias aplicadas por outros países podem, primeiro, elevar a inflação em nível global e, depois, reduzir uma forte queda na demanda.
“Com tarifa no mundo inteiro, tudo fica mais caro até que o comércio global pare”, pontua.
As principais bolsas de valores do mundo registram fortes quedas.
- Na Ásia, os mercados fecharam em baixa, com destaque para recuo de quase 3% no Japão.
- A Europa caminha para o mesmo desfecho, com quedas na casa que variam de 4% a 7% nas principais bolsas.
- Nos EUA, os principais índices acionários também amargam novas perda, com quedas de cerca de 3%.
Trump chamou o anúncio das tarifas recíprocas como “Dia da Libertação”. O objetivo do presidente é que essas taxas “libertem” os EUA de produtos estrangeiros. A forma para que os outros países evitem as taxas, segundo Trump, é transferindo suas fábricas para os EUA.
Mas as reações foram por outro caminho:
- A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que as tarifas constituem um “duro golpe à economia mundial”. Também declarou que o bloco está “preparado para responder”.
- Na Alemanha, o chefe de Governo, Olaf Scholz, considerou que as decisões de Trump são “fundamentalmente erradas” e “constituem um ataque contra uma ordem comercial que criou prosperidade em todo o mundo”.
- Na França, o presidente Emmanuel Macron pediu que as empresas europeias suspendam os investimentos planejados nos EUA.
- No Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse a empresários do país que as medidas terão “um impacto econômico, tanto a nível nacional como mundial”.
- O ministro japonês do Comércio do Japão, Yoji Muto, disse que “Transmiti que as medidas tarifárias unilaterais adotadas pelos Estados Unidos são extremamente lamentáveis e pedi, novamente, (a Washington) para não aplicá-las ao Japão”.
No Brasil, o Senado aprovou na terça-feira um projeto que cria mecanismos e autoriza o governo a retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros.
Tarifas maiores tornam os produtos mais caros, e encarecem também os bens e serviços que dependem desses insumos importados. Isso tende a aumentar a inflação e impactar o consumo.
Por isso, há uma percepção de que os EUA podem passar por um período de desaceleração da atividade econômica, ou até uma recessão da economia — o que tem potencial de afetar o mundo todo.
Com informações do g1.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/dolar-tem-alta-de-26-com-resposta-da-china-as-tarifas-de-trump-ibovespa-derrete-quase-3/