
A partir da próxima quarta-feira (6), entra em vigor o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promete alterar profundamente o cenário das exportações brasileiras. Ainda que o decreto americano não tenha sido oficialmente iniciado, seus impactos já estão sendo sentidos em várias pontas da cadeia produtiva no Brasil.
Produtos que renderam ao país US$ 14,5 bilhões em exportações no ano passado passam agora a enfrentar sobretaxas que comprometem sua competitividade no mercado americano. Muitos desses itens, como lâminas de aço utilizadas em bombas de extração de petróleo, foram desenvolvidos sob medida para atender demandas específicas dos EUA. Sem compradores alternativos, o risco de prejuízo se torna alarmante.
Na Grande São Paulo, uma metalúrgica que fornece essas lâminas enfrenta a possibilidade de perder um contrato de duas décadas com uma empresa americana. Com a nova tarifa, os produtos brasileiros ficarão 50% mais caros, o que pode levar os clientes dos EUA a buscarem fornecedores em países como a China, onde o custo de produção é significativamente mais baixo.
“Esse produto é feito no mundo inteiro. A China é extremamente competitiva. A tarifa menor de lá pode nos tirar do jogo”, afirma Moacir Matsuda, gerente comercial da empresa. Só o contrato com os EUA representa 20% do faturamento da fábrica.
Mas o impacto vai além das fronteiras industriais. O fornecedor do aço, localizado em Minas Gerais, também sente a retração. Como a fábrica paulista cancelou a compra de matéria-prima para setembro, o transporte de cargas foi afetado, criando um efeito dominó que atinge transportadoras e outros setores logísticos.
Tony Bernardini, CEO de uma transportadora, resume o cenário: “Vamos ter que redirecionar os caminhões para outras rotas. Isso desequilibra o mercado, com mais veículos disponíveis e menos carga para transportar”.
A incerteza quanto à manutenção dos contratos e a viabilidade econômica das exportações tem levado empresas a engavetarem planos de expansão. O cenário é de insegurança. “Tínhamos uma projeção de melhoria, de crescimento da fábrica. Agora estamos em compasso de espera. É um baque danado”, lamenta Matsuda.
Segundo o professor Sergio Goldbaum, da FGV, a busca por novos mercados pode levar anos. “Além de perder investimentos feitos ao longo de décadas, é preciso adaptar os produtos para novos destinos, o que envolve exigências técnicas e sanitárias. Não há solução rápida”, explica.
O tarifaço de Trump mal começou, mas já coloca em xeque parte relevante da economia brasileira, com consequências que devem reverberar por meses — ou até anos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/empresas-brasileiras-sofrem-efeito-domino-com-tarifaco-de-trump/