2 de abril de 2025
“Estamos comprando um banco Master diferente do que o mercado
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O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, banco controlado pelo governo do Distrito Federal, nega que a compra de parte do Banco Master, comunicada na sexta-feira, 28, seja resultado de interferências políticas na instituição financeira.

Em entrevista exclusiva ao Estadão, Costa afirmou que o trabalho de análise para a proposta foi técnico, com o início de compras de carteiras do Master em meados de 2024 e dentro da lógica de expansão do BRB para outras localidades do País.

Ele diz que R$ 23 bilhões em ativos do Master ficaram excluídos do negócio, como a carteira de precatórios, de direitos creditórios, de ações judiciais, de fundos de investimento em ações de empresas.

Por outro lado, despertaram interesse o cartão de crédito consignado, segmento corporativo, serviços de mercado de capitais, câmbio e banco digital.

“Todo o processo de análise do Master passou por uma diligência bastante robusta, ainda não foi concluída, mas está muito perto da conclusão, e isso permitiu que nós identificássemos os ativos que fazem sentido para esse novo modelo de negócio BRB e Master”, afirmou.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

A operação do BRB com o Master chamou muita atenção, por ser um banco público comprando um pedaço de um banco que já vem sendo alvo de dúvidas.

O BRB é um banco que já vem crescendo muito nos últimos anos e há o entendimento de que precisamos crescer para fora do Distrito Federal. Alguns negócios a gente entendeu que precisavam de parceiros, que não havia condições de crescer sozinho. Segmentos, por exemplo, como mercado de capitais, corporate, operações internacionais e de câmbio. Mesmo o cartão de crédito consignado, que foi lançado nos últimos anos, a gente não conseguiu fazer os desenvolvimentos de tecnologia na velocidade que precisava para ser competitivo. Então nesse contexto, começamos a procurar parceiros que poderiam ter essa atuação complementar aos nossos negócios.

E por que o banco Master, se era um banco que é alvo de dúvidas?

Esse movimento de procura de um parceiro começou em 2021. E a gente chegou a estar muito perto de fechar uma transação com outro banco privado. Em 2022, a gente fez uma oferta de compra de 25% do Banese, o banco do estado de Sergipe, também buscando mais braços, buscando mercados e que, por uma questão de mudança de governo, eles entenderam que não queriam mais vender parte do banco. A gente continuou procurando.

E como foi a escolha pelo Master?

No ano passado, a gente começou a procurar quem tinha carteira de crédito para vender. E o Banco Master tinha muitas carteiras de cartão de crédito consignado. Um produto bom, um produto que, alinhado com o nosso DNA de atender o servidor, tem um risco baixo, porque tem uma característica de consignado e tem uma taxa mais alta, ou seja, um perfil de rentabilidade bom, respeitando o nosso perfil de risco. A gente foi comprando. Comprou a carteira em agosto, comprou em setembro, comprou em outubro. Foi crescendo e entendendo a dinâmica de como o Master funcionava.

O que atraiu no Master?

Eles têm uma capacidade de originação de crédito para servidor consignado que nos interessa. Eles têm uma carteira com médias e grandes empresas. Eles prestam serviços para o mercado de capitais. Eles atuam em câmbio que a gente não atua. Vimos que eventualmente fazia sentido fazer um movimento societário. Em janeiro deste ano, a gente recebeu uma provocação do Master sobre se o BRB teria algum interesse em fazer alguma parceria estratégica ou societária com eles.

E depois?

A gente contratou assessores, a PwC, contratou o Lefosse para fazer diligências e análises de sinergia que pudessem existir entre as duas instituições. E essa conversa terminou fluindo. A gente viu que existe uma complementaridade bastante grande. Ou seja, o BRB tem uma marca forte que cresceu nos últimos anos e é conhecida. O Master, passando por desafios, como você comentou, em relação a determinadas matérias, é a marca dele. O BRB é forte em varejo, em imobiliário, em seguridade e em rural. O Master é forte naqueles segmentos que eu já comentei que o BRB não conseguia crescer, se posicionar no mercado.

Houve influência política na escolha pelo banco Master?

Todo esse trabalho é estritamente técnico e tem o objetivo de posicionar o BRB como um dos maiores bancos do País. A gente acredita que essa mudança de patamar, que o acesso a novos segmentos de atuação transforma o BRB num banco ainda maior, mais forte, mais diversificado e mais capaz de competir no sistema financeiro nacional.

Como ficou a transação?

Assinamos o contato ontem à noite. O BRB compra 58% do Banco Master, sendo 49% em ações ordinárias e 100% das ações preferenciais. O BRB passa a ter uma participação muito relevante na governança e no funcionamento do Master. O Master, sempre a gente tem que lembrar que tudo depende da autorização do Banco Central e do Cade, passa a fazer parte do conglomerado prudencial do BRB, operando também sob a marca BRB, naqueles segmentos que eu te contei que a gente tem interesse.

Vocês escolheram a parte dos negócios do Master que interessa a vocês?

Todo o processo de análise do Master passou por uma diligência bastante robusta, ainda não foi concluída, mas está muito perto da conclusão, e isso permitiu que nós identificássemos os ativos que fazem sentido para esse novo modelo de negócio BRB e Master. A parte que nos interessou foi ligada a cartão de crédito consignado, middle, corporate, serviços de mercado de capitais, câmbio e banco digital. A gente está tendo acesso a um conjunto de segmentos e produtos que a gente antes não tinha e a gente vai poder passar a oferecer isso para os nossos clientes. Esses produtos são muito importantes para a estratégia de crescimento do BRB e de posicionamento do mercado.

O que ficou de fora?

A gente fez uma diligências fiscal, contábil, trabalhista, operacional, diligência de tecnologia, diligência de cyber, diligência jurídica. E a gente se debruçou sobre um conjunto de negócios e empresas em que o BRB não tinha interesse no modelo de negócios e que precisavam ser segregadas, ou na nossa linguagem mais técnica, cindidas, antes da entrada do BRB.

Quais?

A gente mapeou algo perto de R$ 23 bilhões em negócios de precatórios, de direitos creditórios, de ações judiciais, de fundos de investimento em ações de empresas que o BRB não tem interesse em adquirir ou de participar desse modelo de negócio. A gente olhou um conjunto de empresas que fazem parte do conglomerado master que a gente não tem interesse em participar. Então, essas empresas e esses ativos e correspondentes passivos precisam ser retirados do contexto do Master e do escopo da nossa operação antes do BRB entrar.

Que empresas?

A gente chama isso de condições precedentes para o negócio. Então, para que a gente possa entrar, vai sair o Voiter, vai sair a Cover, vai sair o Banco Master BI. O Banco Master que a gente está comprando é um banco diferente da atuação que o mercado conheceu nos últimos anos

Vocês fizeram uma análise do Master e entenderam que havia ativos bons e ativos ruins e pegaram os que vocês entendem como os bons?

Eu não vou falar de bom ou ruim. São ativos que têm sinergia com o nosso negócio ou não. Ativos que o BRB tinha interesse em levar para frente e fazer parte desse novo modelo de negócio.

No mercado financeiro, ficou a impressão de que o BRB está socorrendo o Master.

Quando a gente puder comunicar ao mercado o escopo exato da transação, vai ficar muito claro o quanto esse banco é competitivo, o quanto esse banco é tradicional e capaz de desempenhar um papel importante no sistema financeiro nacional, para a sociedade, para os clientes, para os acionistas. De novo, as pessoas estão olhando hoje o modelo de negócio e as críticas que existem e achando que o BRB está comprando isso. E, como acabei de explicar e te disse até o que está saindo, não é isso que o BRB está comprando.

Qual será a atuação do presidente do Master, Daniel Vorcaro?

O BRB é o comprador, passa a ter os 58% e indica praticamente metade menos um de todos os órgãos de governança do Master. Vai ter metade menos um da diretoria, metade menos um do conselho, metade menos um do conselho fiscal, metade menos um do comitê de auditoria. A gente vai ter alternância de presidência do banco e do conselho de administração do Master. Então, quando o BRB indicar o presidente do banco, o Master indica o presidente do conselho. Depois de um tempo, troca. Neste momento, o Daniel sai da posição executiva de presidente e sobe para a posição de conselheiro.

Se o BRB compra o Master, por que Vorcaro vem junto?

A principal razão de a gente fazer a transação é o BRB passar a atuar em segmentos que hoje a gente não domina e não tem um posicionamento de mercado. Essa expertise, esse know-how que existe instalado no Master tem valor para a gente.

Como será a forma de pagamento?

Dividida, sendo 50% do valor à vista no ato do fechamento da operação, ou seja, quando ela for autorizada pelos órgãos responsáveis. No mínimo, 25% vai ser separado num escrow account, ou seja, o dinheiro fica bloqueado para fazer frente a contingências de passivos que sejam identificados no banco. Isso vai ficar bloqueado por 6 anos. Esse escrow account pode chegar a 50%. Se ela não chegar a 50% e ficar um saldo aí no meio, essa parcela remanescente vai ser paga em 2 anos. Então veja que tem todo um modelo de definição de preço e pagamento para preservar a estrutura que foi desenhada e garantir a rigidez dessa nova instituição que nasce.

Quanto tempo você acha que o Banco Central e o Cade vão levar para fazer essa análise?

O Cade tende a ser rápido em função do porte das duas instituições. No caso do Banco Central, é difícil a gente prever. Não existe um prazo determinado. O Banco Central é sempre muito diligente em relação a esse tipo de análise. Então a gente espera que seja um processo priorizado, uma análise priorizada no Banco Central.

Com informações do Estadão.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/estamos-comprando-um-banco-master-diferente-do-que-o-mercado-conhece-diz-presidente-do-brb/