A NORINCO, estatal chinesa, expressou interesse em adquirir 49% das ações da AVIBRAS Aeroespacial, fabricante de sistemas de defesa do Brasil. A proposta foi encaminhada ao Ministério da Defesa brasileiro na última quinta-feira, 13.
Segundo fontes confirmadas à Folha por três oficiais-generais e um integrante do governo Lula, a carta oficializou a intenção da empresa chinesa em participar do capital da AVIBRAS, após desistência de investidores australianos da DefendTex, que enfrentaram restrições de crédito por parte do governo da Austrália.
A NORINCO, conhecida por seu portfólio diversificado que inclui desde veículos até produtos químicos, é uma gigante da indústria bélica, exportando produtos como obuseiros e blindados anfíbios.
Em 2019, a empresa chamou a atenção ao desenvolver um grande explosivo apelidado de “mãe de todas as bombas“, uma demonstração de força bélica em resposta aos Estados Unidos.
O negócio, estimado anteriormente em cerca de US$ 200 milhões, seria focado inicialmente na venda de foguetes de calibre 122 mm. Estes foguetes, que foram desenvolvidos na União Soviética nos anos 1960, são utilizados pelo sistema de lançadores autopropulsados BM-21 Grad.
A AVIBRAS, que se absteve de comentários sobre a negociação, é a principal fornecedora de mísseis e foguetes para o Exército Brasileiro e desenvolve o primeiro míssil tático de cruzeiro brasileiro, com capacidade de atingir alvos a até 300 km de distância.
Apesar de seu papel estratégico, a empresa enfrenta dificuldades financeiras, tendo pedido recuperação judicial em março de 2022 e demitido parte significativa de seu quadro de funcionários.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, confirmou o recebimento da carta de interesse da NORINCO, sem especificar a origem, durante uma videoconferência.
Ele mencionou o interesse da empresa chinesa como uma possível solução para os problemas financeiros da AVIBRAS.
O governo brasileiro, por meio da Defesa e de outras instâncias, avalia a negociação com cuidado devido às implicações geopolíticas e à manutenção da AVIBRAS como uma Empresa Estratégica de Defesa.
A compra de parte das ações pela NORINCO poderia trazer recursos necessários, mas também levanta preocupações sobre o controle estratégico sobre produtos bélicos e a independência da indústria de defesa nacional.
Enquanto o negócio não se concretiza, o governo continua explorando outras alternativas para resgatar a empresa, incluindo a injeção de recursos estaduais e negociações com outros países, como os Emirados Árabes Unidos.
A situação da AVIBRAS e o desfecho das negociações são de grande interesse para a Base Industrial de Defesa do Brasil e para a política externa do país.
Fonte: https://www.ocafezinho.com/2024/06/16/estatal-chinesa-vai-abocanhar-grande-fatia-das-acoes-da-avibras/