
Em meio às recentes críticas do governo Trump ao sistema financeiro brasileiro, o Pix deu um passo decisivo rumo à internacionalização. A startup gaúcha PagBrasil, em parceria com a gigante estadunidense Verifone, lançou uma solução que permite pagamentos com Pix no varejo dos Estados Unidos, ampliando a presença do sistema para além do e-commerce e consolidando-o como alternativa real ao duopólio das bandeiras Visa e Mastercard.
Veterano no setor de pagamentos e cofundador da PagBrasil, Alex Hoffmann avalia em entrevista ao jornal O Globo que a ofensiva política de Trump acabou por reforçar o valor estratégico do Pix como infraestrutura financeira moderna e independente.
“O duopólio vai espernear, mas não tem como parar a história, no máximo atrasar. Pode haver pressão de alguns bancos e alguns países, mas política é algo de momento. Já o Pix é imparável. Toda essa agenda do governo Trump acelera a busca por alternativas”, afirmou Hoffmann.
“Coincidência feliz” e potencial turístico
Segundo o executivo, o lançamento nos EUA foi resultado de dois anos de preparação e acabou coincidindo com a escalada retórica do governo estadunidense contra o Brasil. “Foi uma feliz coincidência, porque preparávamos esse lançamento havia dois anos. E não atrapalhou. Na verdade, acabou sendo um reconhecimento da qualidade do Pix”, disse.
Nos Estados Unidos, a tecnologia será inicialmente concentrada na Flórida e em Nova York, regiões com grande fluxo de turistas brasileiros. A estratégia busca repetir o fenômeno observado em Portugal, onde imigrantes mantêm contas no Brasil e preferem o Pix por dispensar câmbio e oferecer praticidade.
No início, a Verifone teria resistido à ideia, considerando o Pix útil apenas no comércio eletrônico. Mas o crescimento exponencial do sistema no Brasil e sua repercussão internacional convenceram a empresa a embarcar na solução.
Funcionamento e vantagens para o consumidor
A tecnologia funciona de forma simples: a maquininha da Verifone exibe a opção de pagamento por Pix, o cliente escaneia o QR code e realiza a transação em reais, com o lojista recebendo o valor em dólares. O spread cambial fica em torno de 2%, significativamente menor que o das operadoras de cartão de crédito. “A ideia é que ele pague como se estivesse no Brasil”, resume Hoffmann.
Do Uruguai para o mundo
A inspiração para expandir o Pix ao varejo físico surgiu em Punta del Este, no Uruguai, em 2023. “Pensei: se posso vir para cá de carro, sem passaporte, e estou rodeado de brasileiros, por que não posso pagar com Pix?”, contou Hoffmann. A estreia foi justamente no Uruguai, em parceria com a Getnet via Plexo, alcançando milhares de comerciantes locais. Hoje, cerca de 6 mil estabelecimentos aceitam Pix no país vizinho, incluindo até postos de abastecimento de jatinhos no aeroporto de Montevidéu.
Após o sucesso uruguaio, a PagBrasil levou a solução a outros países latino-americanos — como Chile, México, Argentina e Peru — e a destinos europeus e asiáticos, como Espanha, Portugal, Holanda e China. A legislação uruguaia inclusive foi alterada para garantir benefícios fiscais a estrangeiros que pagam com Pix, replicando o modelo do cartão de crédito.
Pix Roaming e conexão entre sistemas
Para completar a jornada de internacionalização, a PagBrasil desenvolveu o Pix Roaming, voltado a bancos e carteiras digitais estrangeiras. A solução permite que estrangeiros usem o app de seus próprios bancos para pagar com Pix no Brasil. Já está operando no Paraguai e no Peru, e abre caminho para situações até então impensáveis — como um paraguaio pagando com Pix em uma loja nos Estados Unidos.
“É um produto voltado a estrangeiros que venham ao Brasil. Ele pode usar o app do seu próprio banco. E, por meio desse arranjo, viabilizamos uma situação antes impensável: um paraguaio poderá pagar com Pix nos EUA, por exemplo”, explicou Hoffmann.
Apesar de não acreditar que o Pix se tornará uma infraestrutura global única, o empreendedor aposta em sua integração com sistemas semelhantes ao redor do mundo, como o UPI da Índia e iniciativas europeias, formando uma rede capaz de rivalizar com as grandes bandeiras. “O mundo é muito diverso para que um duopólio americano processe todos os pagamentos. Ninguém sonha pagar com Visa numa padaria da Cracóvia. Isso só acontecia porque não havia alternativas.”
Segurança e confiabilidade mesmo após vazamentos
Sobre os vazamentos de dados envolvendo o sistema, Hoffmann minimiza os impactos e reforça a segurança do Pix. “Os dados foram vazados por vulnerabilidades de terceiros, não do sistema em si. O Pix é rápido, seguro e, após cinco anos, já se provou.”
Com presença crescente em diversos mercados e apoio tecnológico robusto, o Pix vai consolidando sua posição como um dos mais promissores sistemas de pagamento globalmente conectados — com ou sem o apoio de Washington.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/expansao-do-pix-nos-eua-desafia-dominio-global-de-visa-e-mastercard-e-e-imparavel-diz-cofundador-da-pagbrasil/