10 de agosto de 2025
Governo federal discute projeto que amplia poder antitruste contra big
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O consumo de serviços digitais no Brasil — que inclui streaming de filmes, séries, música, games e ferramentas de inteligência artificial — nunca foi tão intenso. Esse apetite crescente já impacta as contas externas do país, segundo dados do Banco Central divulgados pelo jornal O Globo.

As despesas com computação em nuvem e plataformas digitais, em sua maioria contratadas de empresas estrangeiras, impulsionaram o déficit nas rubricas de propriedade intelectual e telecomunicações. No primeiro semestre de 2025, o saldo negativo dessas contas chegou a US$ 9,94 bilhões, um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. O montante reforça o peso do Brasil no faturamento de gigantes como Google, Apple, Microsoft, Netflix, Meta, OpenAI, Amazon e IBM, quase todas sediadas nos Estados Unidos.

“É um fluxo estrutural que veio para ficar, com penetração nas diferentes camadas sociais e que vai se manter nos próximos meses e anos”, avalia Felipe Kotinda, economista do Santander.

O fenômeno reflete mudanças profundas no padrão de consumo. Serviços que antes se restringiam a softwares corporativos e filmes estrangeiros agora fazem parte da rotina doméstica, abrangendo armazenamento em nuvem, motores de IA e acesso ilimitado a conteúdos audiovisuais e jogos digitais. Segundo a PwC, os brasileiros devem gastar US$ 39,4 bilhões em assinaturas digitais em 2025, crescimento de 4,6% sobre 2024, acima da média global prevista de 3,9%.

No dia a dia, famílias e consumidores individuais sentem o peso e a conveniência desse mercado. A fotógrafa Beatriz Kalil Othero relata que sua família mantém seis assinaturas, entre música e filmes, gastando cerca de R$ 150 por mês. Já o editor de vídeos Manuel Victor optou por um pacote de jogos digitais com acesso a centenas de títulos. “Vale mais a pena pagar a assinatura, que me dá mais opções por um preço único”, afirma.

No setor empresarial, a transformação digital também movimenta cifras expressivas. A Gerdau destina 5% da receita líquida a projetos tecnológicos, enquanto grandes bancos devem investir R$ 47,8 bilhões em tecnologia neste ano, segundo a Febraban. Apesar de impulsionar a modernização, esse avanço contribui para a saída de dólares, já que boa parte dos serviços e equipamentos é adquirida no exterior.

O aumento dessas despesas ocorre em um cenário delicado para as contas externas. O saldo em transações correntes passou de 1,1% do PIB em maio de 2024 para 3,4% em junho de 2025, com projeções de alcançar 4%. A consultoria Capital Economics alerta que, sem a entrada suficiente de investimentos externos de longo prazo, o país fica mais exposto à volatilidade cambial, o que pode ampliar a pressão sobre o real frente ao dólar.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/explosao-no-consumo-de-streaming-e-ia-no-brasil-aumenta-saida-de-dolares-para-big-techs/