29 de junho de 2025
Fazenda eleva projeção de inflação para 5% e aponta que
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A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda divulgou nesta segunda-feira (20) o Boletim Macrofiscal de maio com uma revisão para cima na projeção da inflação oficial do país para 2025. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4,9% para 5%, valor que ultrapassa o teto da meta estabelecida para o período, de 4,5%. Com isso, o governo admite, na prática, que a meta será descumprida novamente no próximo ano.

O novo cálculo contraria o objetivo fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que definiu para 2025 uma meta contínua de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Como o índice já acumula alta de 5,53% nos últimos 12 meses até abril, o cenário aponta para mais um ano de inflação fora do intervalo aceitável. O próprio Banco Central já havia sinalizado a possibilidade de novo estouro da meta.

De acordo com o Ministério da Fazenda, o ajuste nas projeções “refletiu pequenas surpresas nas variações do índice em março, além de alterações marginais no cenário prospectivo”. O boletim ressalta que a inflação deve desacelerar “de maneira mais regular apenas a partir de setembro”.

— Apesar da contribuição do cenário externo para a inflação doméstica ser negativa no curto prazo, vetores como o aumento marginal no ritmo de crescimento observado no primeiro trimestre e maior defasagem do repasse da apreciação cambial aos preços em cenário de aumento da volatilidade levaram a pequeno avanço nas estimativas de inflação — diz o relatório.

Alimentos e serviços puxam alta de preços

A inflação de abril foi de 0,43%, a maior para o mês desde 2023. O principal impacto veio do grupo Alimentação e bebidas, que registrou alta de 0,82%, seguido por Saúde e cuidados pessoais, com aumento de 1,18%. A maior pressão veio dos alimentos, cuja contribuição para o IPCA no mês foi de 0,18 ponto percentual. Já os Transportes apresentaram deflação, puxada pela queda nas passagens aéreas (-14,15%) e nos combustíveis (-0,45%).

A inflação de alimentos permanece em patamar elevado, com avanço acumulado de 7,1% de fevereiro a abril. Entre os produtos que mais influenciaram estão o tomate, leite e derivados, além do café. Por outro lado, houve alívio nos preços de frutas — como o mamão — e no arroz, que registrou deflação.

Apesar da alta nos preços gerais dos alimentos, a SPE destacou que alguns itens básicos do consumo das famílias brasileiras, como arroz, feijão e óleo de soja, tiveram redução no acumulado até abril. Essa queda foi atribuída à safra recorde de grãos e à retirada temporária de tarifas de importação do azeite. Também houve recuo nos preços das carnes bovina e suína, ainda que em menor intensidade.

Inflação por setor e impacto nos indicadores sociais

A inflação de serviços passou de 5,3% para 6% no período entre fevereiro e abril, enquanto a de bens industriais subiu de 3,2% para 4,1%, mostrando uma disseminação do aumento de preços em diferentes setores da economia.

A previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — referência para o reajuste do salário mínimo e benefícios sociais — também foi revisada, passando de 4,8% para 4,9% neste ano.

Para 2026, a estimativa de inflação se manteve dentro da margem da meta, passando de 3,5% para 3,6%. O governo projeta que a convergência ao centro da meta de 3% só ocorrerá a partir de 2027.

Cenário externo pode influenciar positivamente, diz secretário

O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que o cenário internacional pode contribuir para reduzir pressões inflacionárias na América Latina. Ele mencionou, como exemplo, as tarifas impostas pelos Estados Unidos durante o governo Donald Trump.

— Para os países da América Latina, incluindo o Brasil, entendemos que a imposição dessas tarifas [dos Estados Unidos e retaliação da China] pode até ter algum efeito positivo, do ponto de vista da redução da inflação — avaliou.

Outros indicadores macroeconômicos

Além das projeções de inflação, o boletim traz estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) e outros índices de preços. Para 2025, o governo projeta crescimento de 2,4% no PIB real. Para o ano seguinte, o crescimento previsto é de 2,5%.

Veja as projeções do governo federal para 2025 e 2026:

2025

  • PIB real: 2,4%
  • IPCA (inflação): 5%
  • INPC: 4,9%
  • IGP-DI: 5,6%

2026

  • PIB real: 2,5%
  • IPCA (inflação): 3,6%
  • INPC: 3,5%
  • IGP-DI: 4,9%

Com os números atuais, o desafio do governo será buscar meios para ancorar as expectativas de inflação e evitar um novo descumprimento da meta no cenário contínuo estabelecido a partir de 2025, sob um ambiente de volatilidade cambial, pressões internas sobre preços e incertezas econômicas globais.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/fazenda-eleva-projecao-de-inflacao-para-5-e-aponta-que-reducao-nos-precos-deve-ocorrer-apenas-a-partir-de-setembro/