Foto: Reprodução Pixabay
Modelo testado no Reino Unido propõe um meio termo entre a carga semanal de trabalho de cinco dias e a de quatro dias
Parece um problema matemático maluco, mas o “Quintou” pode ser o novo “Sextou”. Qualquer brasileiro conhece bem o termo “Sextou” e como ele é celebrado desde a manhã de sexta até a hora de ir embora. Isso significa que o fim de semana finalmente está chegando, e nós, que trabalhamos cinco dias por semana, podemos em breve nos desconectar e esquecer do escritório até segunda-feira. No entanto, nosso amor cultural pelo “Sextou” pode estar escondendo uma verdade mais desconfortável – que nós, brasileiros, estamos sobrecarregados e muitas vezes mal remunerados. Talvez você não saiba (mas provavelmente já sentiu) que o Brasil é o país com a segunda maior taxa de burnout no trabalho.
Para abordar essas crescentes taxas de esgotamento e nos ajudar a adaptar às novas realidades de trabalho, como o trabalho híbrido e remoto, pesquisadores ingleses recentemente propuseram uma solução ousada: um modelo de trabalho de ‘quinzena de nove dias’, ou ‘9-day Fortnight’. Isso significa que os funcionários trabalhariam nove dias úteis em um período de duas semanas, com o décimo dia como uma folga permanente. Ou seja, trabalhariam uma semana completa, de segunda a sexta, e ganhariam a próxima sexta de folga, precisando trabalhar apenas de segunda a quinta.
Carolina Merlin, especialista jurídica da Mauve Group, destaca que “este modelo visa equilibrar uma carga semanal de trabalho de cinco dias com uma de quatro dias. Diminuir o nosso amor pelo ‘Sextou’ de uma forma positiva e iniciar um novo relacionamento mais saudável com as quintas-feiras sem prejudicar nosso trabalho nas sextas pode ser benéfico. E, mais importante, essa solução poderia ser uma forma séria de abordar o problema do burnout no país”.
Prós e Contras do Modelo
Pesquisas recentes sobre semanas de trabalho mais curtas são muito positivas. No Brasil, um estudo mostrou que as empresas que experimentaram uma semana de quatro dias trouxeram muitas melhorias, tanto na eficiência no trabalho quanto no bem-estar dos funcionários. Por exemplo, a produtividade aumentou para 71,5% dos participantes, e o engajamento cresceu para 60,3%. No entanto, uma comparação entre semanas de quatro dias e as ‘quinzenas de nove dias’ revelou que o último é um pouco mais flexível porque é menos uma mudança para empregadores e profissionais se adaptarem, reduzindo preocupações sobre a interrupção dos padrões de trabalho atuais.
“Não é surpresa que, com um dia de folga extra a cada duas semanas trabalhadas, os funcionários possam gerenciar melhor as responsabilidades pessoais e aproveitar mais tempo de lazer, melhorando sua qualidade de vida em geral. É importante lembrar que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é uma prioridade para 63% dos trabalhadores brasileiros – mais do que o salário,” ela explica. Outras descobertas mostram que esse modelo de trabalho promove maior produtividade, satisfação dos funcionários e melhor saúde mental, o que certamente reduzirá tanto pedidos de demissão quanto burnout em empresas, além de promover um ambiente de trabalho mais positivo.
Outro estudo aponta que cerca de 76% dos profissionais estão dispostos a mudar de emprego se uma nova empresa oferecer o modelo de nove dias trabalhados a cada duas semanas, tornando-a mais atraente para novos talentos. Para organizações globais que contratam funcionários remotos ou em escritórios locais, essa escala pode se tornar muito útil como um modelo internacional padrão de folgas – oferecendo simplicidade administrativa, promovendo bem-estar e produtividade. “Claro, como qualquer grande mudança no local de trabalho, as organizações que buscam implementar um modelo internacional devem garantir que estão em conformidade com as leis trabalhistas e de emprego locais em cada território onde operam,” diz Carolina.
Desafios a Serem Superados
Dois obstáculos que precisam ser tratados com sensibilidade são a tendência desse modelo de trabalho resultar em dias de trabalhos mais longos e a maior dificuldade em organizar os dias de folga, sem comprometer a operação da empresa. Por exemplo, as empresas podem precisar dividir os funcionários em grupos com dias de folga escalonados para manter a eficiência operacional. Softwares inteligentes de agendamento e soluções de RH podem ajudar a gerenciar esses desafios, fornecendo ferramentas para criar cronogramas eficazes. Embora os níveis de estresse no começo possam aumentar à medida que funcionários e gerentes se ajustam, as empresas podem fornecer recursos e suporte para lidar com esses problemas comuns no local de trabalho. Engajar sua equipe em discussões, ouvir suas preocupações e manter linhas de comunicação abertas ajudará a criar um sistema justo que beneficie a todos.
No Brasil, a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) define quantas horas devemos trabalhar e as regras para horas extras. Jornadas de trabalho comuns são 5×2 (5 dias de trabalho com 2 dias de folga), 5×1 (5 dias de trabalho com 1 dia de folga), 6×1 (6 dias de trabalho com 1 dia de folga) e 12×36 (12 horas de trabalho com 36 horas de folga). Para o modelo de uma folga a cada duas semanas funcionar, ele precisa ser atrativo para os trabalhadores e seguir as regras da legislação. “Uma nova lei no Senado, que reduz a jornada para 30 horas semanais, é um bom começo. Mas se mais proteções legais permitirem que empresas e funcionários tomem medidas para reformular o dia, a semana e a quinzena de trabalho, o ‘Quintou’ poderia ser o novo o ‘Sextou’,” conclui Carolina.
Sobre a Mauve Group:
Com mais de 28 anos de experiência, a Mauve Group é um provedor líder global de soluções de RH e Imigração Corporativa, Employee of Record e consultoria de negócios. O grupo desenvolveu conhecimento global para apoiar empresas de qualquer tamanho que planejam expandir internacionalmente.
Para mais informações, acesse: mauvegroup.com