
A Abra, holding que controla a Gol, anunciou nesta quinta-feira (25) o encerramento das discussões para uma possível fusão com a Azul. A operação, se concretizada, poderia resultar na maior companhia aérea do Brasil. Pouco depois do anúncio, a Azul também confirmou ao mercado que as tratativas foram suspensas.
As duas empresas haviam firmado, em janeiro, um memorando de entendimentos que abria caminho para uma combinação de negócios. Segundo a Abra, mesmo com as conversas avançando em paralelo ao Chapter 11 da Azul — processo de recuperação judicial nos Estados Unidos —, as negociações não evoluíram o suficiente para que a fusão fosse viabilizada.
No fato relevante, a Abra anexou a carta enviada à Azul comunicando a decisão. “Como resultado, por boa ordem e de acordo com o acordo de confidencialidade, através da presente, a Abra apresenta notificação por escrito à Azul de que a Abra está encerrando as discussões com relação a uma possível transação”, disse a holding. Apesar do rompimento, a empresa afirmou que continua acreditando no potencial de uma combinação futura e se declarou “pronta, disposta e disponível para engajar com os stakeholders aplicáveis”.
Rompimento do codeshare
Além de interromper as negociações de fusão, a Gol informou que solicitou à Azul a rescisão dos acordos firmados em maio de 2024, que previam a cooperação comercial via codeshare para integração da malha aérea.
“Como parte do nosso comprometimento com os nossos clientes, a Gol honrará os bilhetes comercializados no âmbito da parceria”, declarou a companhia. A Azul confirmou a decisão e destacou que também garantirá o atendimento de todas as passagens emitidas.
Em nota, a empresa acrescentou: “Por fim, a Azul reafirma o seu comprometimento com processo de fortalecimento da sua estrutura de capital e informa que manterá os seus acionistas e o mercado em geral informados acerca de eventuais desdobramentos relevantes relacionados ao encerramento das discussões comerciais acerca da potencial combinação de negócios bem como do acordo de cooperação comercial (codeshare) acima mencionados.”
Pressão do Cade
O desfecho ocorre após a pressão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que exigiu em setembro a formalização do acordo de codeshare. O órgão alertou que, caso as empresas não apresentassem a documentação em até 30 dias, o compartilhamento de rotas seria suspenso.
Em entrevista à Reuters, o presidente do Cade, Gustavo Augusto, criticou a conduta das companhias. “Quando é uma empresa que tem ações, que você tem uma posição dominante no mercado e você tem que ter uma preocupação, uma cautela com a sua comunicação, você não deve anunciar uma operação de fusão, aquisição, que não está pronta e não foi apresentada às autoridades reguladoras”, afirmou.
Para Augusto, foi um erro que Gol e Azul tenham levantado a possibilidade de união sem ter segurança de que avançariam de fato. “Era preocupante que duas empresas de aviação fornecessem informações sobre um plano de forma prematura e depois deixassem as negociações sem solução”, avaliou.
Expectativas frustradas
Como mostrou a Folha de S. Paulo em janeiro, havia expectativa de que uma operação conjunta pudesse começar em 2026, já considerando o tempo necessário para análise dos órgãos reguladores. O modelo em estudo previa participação equilibrada das empresas, mas com controle acionário menor para a Gol em razão de suas dificuldades financeiras. A governança seria compartilhada.
O cenário econômico, no entanto, mudou. No segundo trimestre de 2025, a Azul registrou lucro líquido de R$ 1,29 bilhão, revertendo o prejuízo de R$ 3,56 bilhões no mesmo período de 2024. Segundo o CEO John Rodgerson, a companhia já tem recursos para sair do Chapter 11, mas estuda captar mais investimentos.
A Gol, por sua vez, encerrou o mesmo período com prejuízo de R$ 1,5 bilhão, uma queda de 60,8% em relação ao ano anterior. A aérea deixou a recuperação judicial em junho, mas segue em busca de reestruturação financeira.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/gol-e-azul-encerram-negociacoes-de-fusao-apos-impasse-e-rompem-acordo-de-codeshare/