12 de julho de 2025
Governo Lula avalia retaliar tarifa de Trump com imposto sobre
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Diante da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estuda formas de retaliar economicamente os EUA. Segundo informações apuradas pela Folha de S. Paulo, uma das medidas mais avançadas em análise é a imposição de tarifas sobre o etanol importado do território estadunidense.

A proposta, elaborada por técnicos da área econômica e diplomática do governo, tem como objetivo responder à ofensiva de Trump com cautela. A estratégia brasileira é evitar uma retaliação generalizada que possa prejudicar a economia nacional, preferindo medidas seletivas com impacto reduzido no abastecimento interno e nos preços dos combustíveis.

Etanol pode ser alvo, petróleo deve ficar de fora

Entre os produtos estadunidenses avaliados, o etanol se destaca como uma alternativa viável para retaliação. Autoridades consideram que a aplicação de tarifas sobre esse item teria baixo risco de desabastecimento e não causaria impacto relevante na inflação — o que o torna, aos olhos do governo, uma resposta estratégica.

Já o petróleo bruto, principal item exportado do Brasil para os Estados Unidos, não deve sofrer grandes consequências com o tarifaço, segundo especialistas do governo. O mercado da commodity é altamente líquido, e a Petrobras, principal exportadora brasileira, teria facilidade em redirecionar suas vendas para outros países. Por esse motivo, uma retaliação recíproca sobre o petróleo dos EUA também é considerada possível, ainda que menos prioritária.

Em contrapartida, derivados de petróleo, como gasolina, diesel, gás de cozinha (GLP), querosene de aviação (QAV) e gás natural liquefeito (GNL), são tratados com cautela. O GNL, em particular, preocupa por ser uma fonte essencial de energia no Brasil — e os Estados Unidos são o principal fornecedor do produto. Por isso, a chance de incluí-lo em qualquer medida retaliatória está praticamente descartada.

Impactos diplomáticos e possíveis efeitos no setor aéreo

Embora ainda em fase inicial, as discussões sobre a resposta brasileira caminham em paralelo com negociações diplomáticas. Ainda não está claro se o pacote anunciado por Trump incluirá produtos energéticos. Em situações anteriores, os Estados Unidos evitaram atingir esse setor, o que pode se repetir agora.

Nos bastidores, técnicos do governo apontam dúvidas quanto aos impactos setoriais. Um dos exemplos mais sensíveis envolve o setor aéreo. Como o abastecimento de aeronaves estrangeiras no Brasil é tratado como operação de comércio exterior, o aumento de tarifas sobre o querosene de aviação poderia afetar diretamente companhias estadunidenses como a United Airlines e a American Airlines, elevando os custos das rotas para o Brasil em relação às concorrentes.

Outras medidas em análise

Além da pauta energética, o governo Lula discute alternativas em áreas como propriedade intelectual e serviços. Entre as possibilidades, estão restrições a licenças farmacêuticas e a produtos culturais dos Estados Unidos, como filmes e séries. No entanto, segundo integrantes do governo, essas medidas só avançariam em um cenário de escalada nas tensões comerciais.

Por ora, a prioridade é manter canais abertos com Washington e buscar uma solução diplomática que reverta ou minimize os efeitos das tarifas unilaterais impostas por Trump. O governo brasileiro estuda também acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), dentro das previsões do sistema multilateral de resolução de conflitos comerciais.

A resposta do Brasil será calibrada para proteger os interesses econômicos e estratégicos do país, ao mesmo tempo em que tenta preservar a estabilidade de setores-chave, como energia e transportes, em meio a uma disputa que pode redefinir as relações comerciais entre os dois países.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/governo-lula-avalia-retaliar-tarifa-de-trump-com-imposto-sobre-etanol-dos-eua/