
A poucos dias da entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos Estados Unidos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva intensificou os esforços diplomáticos para tentar mitigar os impactos da medida. A principal estratégia tem sido negociar a exclusão de itens estratégicos da lista do tarifaço do presidente Donald Trump, especialmente alimentos e aeronaves da Embraer.
Segundo integrantes do governo, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, está à frente das negociações e tem mantido contato direto com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. A meta é excluir da medida produtos como suco de laranja, café e aviões regionais fabricados pela Embraer — setores nos quais o Brasil é um dos principais fornecedores do mercado estadunidense.
Hoje, o Brasil exporta 95% de sua produção de suco de laranja, sendo que 42% desse volume vai para os Estados Unidos. Em relação ao café, dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que, entre janeiro e maio deste ano, os EUA importaram 2,87 milhões de sacas do produto brasileiro, o equivalente a 17,1% de todo o volume exportado pelo país.
Outro argumento em favor da retirada de aeronaves da Embraer da lista é que a empresa depende de componentes fabricados nos Estados Unidos, o que também afetaria a indústria estadunidense.
Foco na negociação, mas com plano de contingência pronto
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (28) que o governo concluiu a formulação de um plano de contingência para minimizar os danos econômicos caso as tarifas entrem em vigor, mas que a divulgação das medidas será feita apenas após o anúncio oficial do governo Trump. Haddad participou de uma reunião com o presidente Lula no Palácio do Planalto, que também contou com a presença de Alckmin.
“Levei ao presidente todas as possibilidades que estão à disposição do Brasil e dele à frente da Presidência da República”, disse o ministro. Ele reforçou que o governo brasileiro aposta no caminho da negociação: “Tem havido conversas. Então, aquilo que foi dito semana passada, [semana] retrasada, de que o Brasil não vai deixar a mesa de negociação em nenhum momento, está valendo e vai continuar valendo.”
Haddad destacou que Lula só tomará uma decisão após conhecer em detalhes o ato executivo do governo estadunidense. “Não sabemos nem a decisão que vai ser tomada. Possivelmente, a gente espera que não seja unilateral no dia 1º. Então, nós vamos insistir de que a medida não seja unilateral por parte dos Estados Unidos”, declarou.
Entre as ações estudadas para o plano de contingência está a criação de um fundo privado temporário para ampliar o crédito a empresas impactadas, além de medidas voltadas à preservação de empregos, inspiradas no modelo do programa emergencial de manutenção de trabalho e renda utilizado durante a pandemia.
Articulação e dificuldades no diálogo com os EUA
Em conversa com a imprensa, Alckmin elogiou o plano em elaboração, mas reiterou que a prioridade do governo ainda é a via diplomática. “O plano de contingência é um plano que está sendo elaborado, bastante completo, bem feito, mas todo o empenho agora nessa semana é para a gente buscar resolver o problema. Quero dizer a vocês que nós estamos dialogando neste momento pelos canais institucionais e sob reserva”, afirmou.
Sobre uma possível ligação de Lula diretamente a Trump, Alckmin declarou: “Eu não conversei com o presidente Lula sobre isso, mas o presidente Lula é o homem do diálogo. Ele sempre defendeu o diálogo, que é o que nós fazemos permanentemente”.
Apesar dos esforços, o cenário permanece desafiador. Em um evento na semana passada, Lula comentou as dificuldades enfrentadas por Alckmin para obter retorno dos estadunidenses. “Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, afirmou o presidente.
O chanceler Mauro Vieira também está nos Estados Unidos, participando de um evento da ONU em Nova York. No entanto, ainda não houve indicação de que o governo Trump esteja disposto a recebê-lo em Washington. Caso não haja essa sinalização, o ministro não deverá seguir para a capital dos EUA.
Soberania nacional e tensões políticas
Enquanto busca preservar setores econômicos da sobretaxa, o governo brasileiro tem enfatizado que não aceitará pressões políticas no processo de negociação. Segundo auxiliares do presidente Lula, não haverá concessões relacionadas à situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro ou a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em nota oficial, o governo reforçou que a soberania do Brasil “é inegociável” diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que integra uma comitiva de oito senadores em Washington, reconheceu a dificuldade de reverter a medida a tempo, mas defende continuar tentando sensibilizar empresários e autoridades estadunidenses.
Durante encontro com o setor privado, o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, afirmou que os Estados Unidos têm interesse nas reservas de minerais críticos presentes no território brasileiro. Em resposta, Lula declarou que esses recursos “pertencem ao povo brasileiro”.
Internamente, Alckmin tem mantido reuniões com representantes da indústria, do agronegócio e de outros setores exportadores para avaliar os impactos da possível sobretaxa e preparar medidas de resposta. O impasse segue, e o governo brasileiro mantém a expectativa de que, mesmo em cima da hora, uma solução negociada ainda possa ser alcançada.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/governo-lula-tenta-excluir-alimentos-e-aeronaves-da-sobretaxa-de-trump/