19 de abril de 2025
Guerra comercial entre EUA e China pode impulsionar exportações de
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As tensões comerciais entre Estados Unidos e China voltaram a escalar e podem beneficiar diretamente o agronegócio brasileiro. Segundo levantamento da EXAME, com base em dados de consultorias como Datagro e SAFRAS & Mercado, as exportações de soja do Brasil para o país asiático podem saltar de 75 milhões para até 90 milhões de toneladas, caso se intensifique a atual guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo.

A projeção representa um acréscimo de US$ 7 bilhões em receita para o Brasil, podendo elevar o total exportado para US$ 40 bilhões em 2025. Hoje, Brasil e EUA são os principais fornecedores da oleaginosa para o mercado chinês. Dados do TradeMap, da Organização Mundial do Comércio (OMC), apontam que 71% da soja importada pela China em 2024 veio do Brasil e 21% dos Estados Unidos.

O cenário favorável aos exportadores brasileiros se intensificou após a volta de Donald Trump à presidência dos EUA. Em abril, Trump impôs tarifas de até 145% sobre produtos chineses, ao passo que a China retaliou com elevação das taxas sobre as importações norte-americanas. Nesse contexto, a soja dos EUA — que teve 52% de sua exportação em 2024 destinada à China — tornou-se menos competitiva. “A nova tarifação chinesa compromete severamente as exportações de soja dos EUA, ao mesmo tempo em que aumenta a competitividade do produto brasileiro nesse mercado”, afirmou a Datagro em relatório.

Apesar do otimismo, o cenário exige cautela. “Não se pode descartar a possibilidade de novos acordos comerciais que possam alterar completamente o rumo dessas negociações nos próximos meses”, alertou Rafael Silveira, analista da SAFRAS & Mercado. Ele também destacou que gargalos logísticos no Brasil podem comprometer o aproveitamento da oportunidade. Entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, o tempo médio de carregamento de navios no Porto de Santos subiu de 10,5 para 17,5 dias.

A China segue como o maior mercado para a soja brasileira. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, apenas no primeiro trimestre de 2025, o país asiático adquiriu 16,5 milhões de toneladas da oleaginosa brasileira. A Datagro projeta que esse número aumentará nos meses seguintes, com um pico de 8 milhões de toneladas em abril, impulsionado pela finalização da colheita nacional.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra brasileira de soja alcançará um recorde de 168 milhões de toneladas em 2025. Somente em março, o Brasil exportou 11,1 milhões de toneladas para a China — o maior volume da série histórica para o mês e o segundo maior embarque mensal de todos os tempos.

Segundo a agência Bloomberg, processadores chineses já reagiram à mudança no cenário geopolítico, realizando compras em volumes excepcionais de soja brasileira nesta semana: ao menos 40 carregamentos foram negociados.

Entretanto, o aumento das exportações pode ter efeitos colaterais. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, alerta para o risco de desindustrialização: “O foco excessivo na exportação do grão bruto pode limitar a geração de valor agregado, a criação de empregos e o fortalecimento da indústria nacional de derivados da soja”.

Além disso, prêmios nos portos tendem a subir, refletindo a disputa por grãos e podendo gerar escassez interna. Esse movimento pode também impactar negativamente o escoamento do milho de segunda safra, ainda em fase de plantio, e pressionar os estoques nacionais de soja.

Apesar dos benefícios de curto prazo, especialistas apontam que a dependência de conflitos externos como motor de crescimento impõe riscos estruturais ao agronegócio brasileiro. A diversificação de mercados e investimentos em infraestrutura e processamento industrial são apontados como estratégias para garantir competitividade sustentável no longo prazo.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/guerra-comercial-entre-eua-e-china-pode-impulsionar-exportacoes-de-soja-do-brasil-em-ate-us-7-bilhoes/