17 de julho de 2025
‘A família é um problema para o país inteiro’ –
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta quinta-feira (17) a criação urgente de uma força-tarefa governamental para lidar com a crise comercial instaurada após a decisão do governo Donald Trump de aplicar uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, tem causado alarme entre empresários e membros do governo brasileiro.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Haddad argumentou que o país precisa agir de maneira coordenada e estratégica. Para o ministro, é essencial identificar com rapidez “os pontos que estão pegando” na negociação com os Estados Unidos, e ele defende que as tratativas sejam conduzidas exclusivamente pelo governo federal.

“O pior que pode acontecer é abrir duas frentes separadas de negociação”, afirmou. “Não faz sentido que tratativas sejam feitas por governadores.” A declaração é vista como uma crítica indireta ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tentou abrir diálogo próprio com a embaixada dos EUA em Brasília.

Prejuízos à economia dos EUA e impacto nos contratos

Haddad destacou que a própria economia dos Estados Unidos será prejudicada pela tarifa, uma vez que muitos dos produtos brasileiros atingidos pela sobretaxa — como suco, carne e café — são parte do consumo cotidiano dos estadunidenses. “Qual é o sentido de taxar suco, café, carne? São coisas que vão encarecer o café da manhã do americano”, ironizou.

O ministro também alertou que o simples adiamento da entrada em vigor da tarifa, embora visto com bons olhos por alguns setores, não é suficiente. “A maioria dos empresários com quem nós conversamos diz que o (alongamento do) prazo é bom, mas ele não resolve, porque os contratos vão sendo fechados. Se você prolonga isso demais, vai perder muitos negócios”, explicou.

Críticas à família Bolsonaro

Durante a entrevista, Haddad atribuiu diretamente à família Bolsonaro a responsabilidade pela retaliação tarifária anunciada por Trump. Segundo ele, a ofensiva do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados contra o Supremo Tribunal Federal (STF), feita nos Estados Unidos, criou um ambiente hostil que resultou na reação do governo estadunidense.

“A família Bolsonaro é um problema para o país inteiro”, afirmou. “Não faz um gesto diante do caos e do pavor que eles estão gerando em segmentos econômicos importantes.”

Pix e lobby das big techs

Outro ponto sensível abordado pelo ministro foi a inclusão do Pix entre os argumentos utilizados pelos EUA para justificar a abertura de uma investigação comercial. Haddad rechaçou qualquer possibilidade de mudança no sistema de pagamentos brasileiro, que já é considerado modelo internacional.

“Os Estados Unidos deveriam estar copiando o Pix. O Pix pode ser exportado como uma tecnologia que vai facilitar muito a vida das pessoas. Você não se incomoda com criptomoeda e vai se incomodar com o Pix? Qual é o sentido disso?”, questionou.

Ao ser indagado sobre a possibilidade de pressão de empresas de cartão de crédito e big techs contra o Pix, o ministro foi cauteloso: “É só lobby das empresas de cartão de crédito? É disso que nós estamos falando? Isso não está claro para nós.”

Reformas estruturais emperradas

Haddad também falou sobre as dificuldades políticas enfrentadas pelo governo no Congresso Nacional. Ao ser questionado sobre a possibilidade de propor reformas mais profundas, como a revisão dos pisos constitucionais de gastos com saúde e educação, o ministro demonstrou ceticismo diante da atual correlação de forças no Legislativo.

“Nós não estamos conseguindo aprovar o mais fácil. Qual é a expectativa de aprovar o mais difícil?”, disse. Ele defendeu um diálogo mais realista com o Parlamento: “Temos que ter uma conversa franca, porque dependo de voto. Não adianta você mandar uma coisa para lá (Congresso) para ficar bem perante a Faria Lima e não ter noção de como as coisas vão se processar.”

A posição de Haddad reflete a crescente tensão entre o governo federal, o Congresso e os setores econômicos em meio às pressões externas e internas por medidas de proteção e ajuste. A crise tarifária, agora associada ao ambiente político-eleitoral nos EUA, se transformou em mais um teste para a articulação do governo Lula e a habilidade do Brasil em preservar suas relações comerciais estratégicas.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/haddad-defende-forca-tarefa-para-reverter-taxa-de-trump-e-critica-cla-bolsonaro-a-familia-e-um-problema-para-o-pais-inteiro/