23 de agosto de 2025
‘Brasil não pode servir de quintal para ninguém’ – Agenda
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (23) que o Brasil não aceitará ser tratado como “quintal” de qualquer potência internacional, em resposta às sobretaxas impostas pelo governo dos Estados Unidos às exportações brasileiras. As declarações foram feitas durante um evento do PT, em Brasília.

Segundo Haddad, a decisão do presidente norte-americano Donald Trump tem caráter político, e não comercial. Trump justificou o tarifaço citando o processo criminal que seu aliado, Jair Bolsonaro (PL), responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.

Brasil busca ampliar parcerias

Haddad destacou que a postura do governo brasileiro será de diversificar relações, evitando alinhamentos automáticos. “Estamos com esse desafio geopolítico. O Brasil não pode servir de quintal para ninguém. Temos tamanho, densidade e importância para garantir nossa soberania. Não podemos escolher um parceiro só, temos que ser parceiros de todo mundo: União Europeia, Ásia, Brics, Oriente Médio, Sudeste Asiático”, declarou.

Ele ressaltou o avanço do diálogo com a Índia, que, apesar de ter a maior população do mundo, ainda mantém baixo volume de comércio com o Brasil. Ao mesmo tempo, Haddad frisou que não há intenção de romper com os Estados Unidos, mas de manter relações equilibradas. “Jamais passou pela nossa cabeça abrir mão da parceria com os EUA. Mas não nas condições que estão sendo colocadas. Sempre mantivemos postura altiva e soberana no trato dos assuntos comuns a dois povos que têm uma história de 200 anos. Não há motivo para isso mudar, até porque o governo Trump é temporário, e Brasil e EUA são permanentes.”

Alckmin critica sobretaxa e fala em negociação

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também presente ao encontro, classificou o tarifaço como “injustificado” e lembrou que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil. “Dos 10 produtos que eles mais exportam para o Brasil, 8 não pagam imposto. A média tarifária é de 2,7%, baixíssima. E eles têm superávit tanto em bens quanto em serviços”, afirmou.

Segundo Alckmin, a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é priorizar a negociação para tentar reduzir as sobretaxas. “Não vamos desistir de baixar essa alíquota e tirar mais produtos”, disse.

Dependência digital e estratégia tecnológica

Além da disputa comercial, Haddad chamou atenção para a vulnerabilidade tecnológica do Brasil. Segundo ele, 60% dos dados digitais do país são processados no exterior, o que representa um risco estratégico. “Nós temos que tomar providências para que eles sejam processados aqui e, de preferência, com empresas brasileiras também”, afirmou.

O Ministério da Fazenda, segundo Haddad, trabalha em um projeto para transformar o Brasil em polo global de data centers e inteligência artificial, estimulando o desenvolvimento da indústria nacional nesses setores.

Economia e perspectivas de crescimento

O ministro também comentou as perspectivas econômicas. Haddad disse acreditar que o Brasil tem condições de crescer, em média, 3% ao ano sem provocar surtos inflacionários, desde que haja investimentos consistentes em infraestrutura, educação, indústria e agricultura.

Ele reconheceu, no entanto, que o PIB de 2025 deve avançar menos do que o registrado em 2024. A desaceleração seria intencional, como forma de controlar a inflação. “Tivemos uma turbulência no primeiro semestre, a agenda acabou atrasando um pouco. Mas vejo no Congresso, em lideranças como Hugo Motta e Davi Alcolumbre, o desejo de fazer uma bela entrega em termos de Estado para a sociedade brasileira”, completou.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/haddad-desafia-tarifaco-brasil-nao-pode-servir-de-quintal-para-ninguem/