
Em declaração enviada ao Comitê do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil está comprometido com a adoção de “medidas de ajuste fiscal de alta qualidade” e defendeu os pilares do novo arcabouço fiscal implementado pelo governo. A reportagem é baseada em informações divulgadas pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (24), durante os encontros de primavera do FMI, em Washington.
Haddad argumentou que as medidas adotadas desde 2023 representam uma guinada em relação às políticas fiscais anteriores, classificadas por ele como “erráticas”. Segundo o ministro, a nova regra fiscal tem possibilitado uma retomada dos investimentos públicos em áreas essenciais como saúde e educação, ao mesmo tempo em que impõe limites sustentáveis aos gastos públicos.
“Políticas fiscais erráticas anteriores a 2023 foram substituídas por uma regra fiscal sofisticada, que permitiu a rápida recuperação dos investimentos em educação e saúde, enquanto assegurava que os gastos cresceriam menos do que as receitas a longo prazo”, escreveu Haddad.
Apesar do otimismo, o próprio FMI projeta um cenário desafiador para a dívida pública brasileira. De acordo com estimativas recentes da instituição, a dívida bruta do país deve subir de 87,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 para 92% em 2025, podendo alcançar 99,4% até 2029 — patamar superior ao de outros países emergentes.
Na carta, Haddad também ressaltou a importância da política de consolidação fiscal, que, segundo ele, vem sendo conduzida de forma “amiga do crescimento” e em sintonia com a atual política monetária mais restritiva. Ele citou a redução de subsídios ineficazes, o aumento da arrecadação e a busca por maior eficiência no gasto público como metas centrais do governo.
O ministro apontou que o crescimento do PIB brasileiro tem superado as expectativas do FMI. Embora o fundo tenha revisado para baixo as projeções de crescimento — de 2,2% para 2% em 2025 e 2026 — Haddad estima uma expansão de 1,5% no primeiro trimestre deste ano e projeta que a economia voltará a crescer em torno de 2,5% a partir de 2026.
Ao comentar a inflação acima da meta, o chefe da Fazenda atribuiu o fenômeno a choques climáticos que impactaram os preços de alimentos e energia. Ele destacou que o Banco Central segue comprometido em conter as pressões inflacionárias, mantendo a taxa de juros em patamar contracionista para atingir o centro da meta de 3%.
Haddad também celebrou avanços institucionais recentes, como a aprovação da reforma tributária e a implementação do plano de transformação ecológica, considerados cruciais para o desenvolvimento sustentável do país.
Embora não tenha comparecido pessoalmente ao encontro em Washington, Haddad foi representado pela secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito. Em nome do Brasil e de outros países em desenvolvimento — como Cabo Verde, Equador, República Dominicana e Timor Leste — o ministro também abordou os impactos das recentes tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump.
“A policrise contemporânea foi agravada por uma incerteza política sem precedentes, desestabilizando o frágil equilíbrio da economia global”, afirmou, alertando que os avanços econômicos recentes podem ser revertidos.
Por fim, Haddad criticou o desempenho global diante dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), classificando-o como “extremamente decepcionante”, e fez um apelo por maior cooperação internacional e fortalecimento das instituições multilaterais.
“Navegar por esse desafiador cenário econômico requer estruturas políticas fortes e estáveis e um compromisso renovado com a cooperação econômica global e o multilateralismo”, concluiu.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/haddad-reforca-compromisso-com-ajuste-fiscal-e-critica-instabilidade-global-em-carta-ao-fmi/