18 de julho de 2025
Henrique Meirelles defende Pix e diz que ataque de Trump
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O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, classificou como política e comercialmente motivada a decisão do governo dos Estados Unidos de abrir uma investigação contra o Brasil e aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Em entrevista à BBC News Brasil, Meirelles criticou o ataque ao Pix, apontado pelo governo Trump como uma das práticas que justificariam as sanções, e destacou que o sistema de pagamentos instantâneos é uma inovação que beneficia a economia brasileira — e que, por isso, incomoda as gigantes estadunidenses de tecnologia.

“O Pix favorece muito as transações financeiras e é muito eficiente. A justificativa do Trump é que isso prejudica companhias americanas que têm sistemas de pagamento. Ele vê o Pix como uma competição oficial do governo brasileiro com o sistema de pagamento das empresas americanas”, afirmou Meirelles. Segundo ele, o mecanismo, desenvolvido durante o governo Michel Temer e lançado em 2020, é mais rápido e funcional do que qualquer sistema disponível nos Estados Unidos.

Pressão das Big Techs e retaliação de Trump

Na visão do ex-ministro, a ofensiva do governo dos EUA se deve à insatisfação de empresas como Google, Apple e Meta, que vêm perdendo espaço no Brasil para o sistema criado pelo Banco Central. “Não há dúvida de que o Trump fala que isso está prejudicando o sistema de pagamento das empresas americanas, que são basicamente oferecidos pelas Big Techs.”

Meirelles também vê interesse político na ação estadunidense. Ele avalia que o presidente Trump, candidato à reeleição, pode estar buscando criar um ambiente de confronto com o Brasil para pressionar em futuras negociações — estratégia comum em sua trajetória pública. “Ele é um negociador que toma riscos fortes, mesmo na vida pessoal. Muitas vezes perde, muitas vezes ganha. Eu acho que ele inclusive gosta de negociar — e aí tem que negociar sim.”

Negociação possível, mas sem ceder sobre decisões do STF

Para o ex-ministro, o governo brasileiro pode até abrir mão de algumas tarifas aplicadas contra os EUA, desde que isso ajude a amenizar os efeitos da nova medida. No entanto, ele afirma que não se deve ceder em pontos considerados “inegociáveis”, como a independência do Judiciário.

“Decisões judiciais não são negociáveis. O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso”, disse Meirelles, rebatendo acusações de Trump sobre perseguição a empresas de mídia social por decisões do STF.

Efeitos econômicos e alternativas ao mercado estadunidense

Meirelles minimizou o impacto geral da tarifa sobre a economia brasileira, embora reconheça prejuízos a setores específicos, como o da aviação. Ele destacou que grande parte das exportações do Brasil para os EUA são commodities que podem ser redirecionadas a outros mercados, especialmente na Ásia. “Pode-se trabalhar um pouco mais os mercados asiáticos e a própria China, que apesar de ser um grande exportador, é também um grande importador, principalmente de grãos.”

Sobre uma possível retaliação comercial por parte do Brasil, ele pede cautela. “Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada”, afirmou, lembrando que medidas do tipo também podem gerar efeitos inflacionários.

Tributação, China e reforma fiscal

Durante a entrevista, Meirelles também comentou sobre a proposta de taxação dos “super-ricos” e a reforma do Imposto de Renda. Para ele, o Brasil já possui uma carga tributária elevada em comparação com outros países emergentes, o que pode prejudicar a competitividade internacional. “A nossa carga tributária é muito elevada. Então, aumentar ainda mais tem algumas desvantagens importantes.”

Sobre o relacionamento com a China, Meirelles foi direto: “O Brasil não tem nenhum confronto com a China, né? Certamente, a questão com o governo do Trump é evidente e ele próprio deixa muito claro. Mas de resto não há grandes problemas de relacionamento.”

Por fim, quando questionado se seria pessoalmente afetado pelas mudanças propostas, respondeu com tranquilidade: “Não sei, acho que pode ser. Eu não cheguei a examinar sob esse ponto de vista no momento. Mas não é algo que está me preocupando.”

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/henrique-meirelles-defende-pix-e-diz-que-ataque-de-trump-tem-motivacao-politica-com-lobby-de-big-techs/