
O Ibovespa encerrou esta quinta-feira (3) com alta de 1,35%, aos 140.928 pontos, novo recorde histórico do principal índice da bolsa brasileira. O desempenho foi impulsionado pela valorização das ações dos grandes bancos e pela maior propensão dos investidores ao risco, em meio a expectativas em torno da economia dos Estados Unidos.
Durante a maior parte da sessão, o índice operou acima da marca inédita dos 141 mil pontos, mas perdeu força nos minutos finais do pregão. Ainda assim, superou o recorde anterior, registrado em 20 de maio, quando havia alcançado 140.110 pontos.
A valorização do Ibovespa nesta semana já acumula alta de 2,97%. No mês de julho, o avanço é de 1,49%. No acumulado do ano, a valorização já chega a 17,16%.
No mercado cambial, o dólar teve um dia volátil, mas fechou em queda de 0,29%, cotado a R$ 5,4049 — menor valor desde 11 de junho de 2024. A entrada de recursos na bolsa e em títulos do Tesouro Nacional favoreceu o real. Na semana, a moeda estadunidense acumula queda de 1,43% e, no ano, já recuou 12,54%.
Impacto dos EUA: pacote bilionário e mercado de trabalho aquecido
O otimismo dos investidores foi alimentado por indicadores positivos vindos dos Estados Unidos e pela aprovação, no Congresso estadunidense, do chamado One Big Beautiful Bill — um amplo pacote orçamentário proposto pelo presidente Donald Trump. O projeto prevê cortes de impostos, aumento dos gastos militares e endurecimento das políticas migratórias, além de reduções em programas sociais como o Medicaid.
A expectativa é que o plano, que deve ser sancionado nesta sexta-feira (4), eleve em US$ 3,3 trilhões a dívida pública dos EUA na próxima década. O aumento do déficit fiscal preocupa analistas e levanta dúvidas sobre a sustentabilidade da política econômica estadunidense.
Além disso, a divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA surpreendeu positivamente. Em junho, foram criados 147 mil postos de trabalho fora do setor agrícola, número acima da expectativa dos analistas. A taxa de desemprego recuou para 4,1%. Os dados reforçam a percepção de que a economia estadunidense segue resiliente, apesar do aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (Fed).
No entanto, o crescimento do emprego está desacelerando, o que pode abrir espaço para uma futura redução dos juros nos EUA. A maioria dos analistas aposta que o Fed poderá iniciar o afrouxamento da política monetária já em setembro, caso a inflação continue sob controle.
Tarifaço à vista: prazo da trégua comercial se aproxima do fim
Outro fator que influencia os mercados globais é o fim iminente da suspensão de tarifas comerciais adotadas pelo governo Trump. A trégua, de 90 dias, termina em 9 de julho, e até agora apenas três acordos comerciais foram firmados, sendo o mais recente com o Vietnã.
O temor é que a retomada do tarifaço leve a uma alta generalizada nos preços de bens importados, pressionando a inflação e elevando os custos de produção. Esse cenário pode obrigar o Fed a manter os juros altos por mais tempo, com impactos negativos para a atividade econômica global.
Na terça-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que pretende adotar cautela diante das incertezas. “Vamos esperar por mais informações sobre os efeitos das tarifas antes de tomar qualquer decisão sobre os juros”, afirmou Powell, ignorando as pressões de Trump por cortes imediatos.
Dados mistos reforçam cautela
Outros indicadores divulgados nos EUA também foram acompanhados com atenção. O déficit comercial subiu 18,7% em maio, atingindo US$ 71,5 bilhões, puxado pela queda nas exportações. No entanto, analistas avaliam que a redução nas importações pode indicar retomada da atividade no segundo trimestre.
No setor de serviços, houve crescimento em junho, sustentado pela alta nos pedidos. A indústria dos EUA também registrou aumento nas encomendas, especialmente no setor de aeronaves.
No Brasil, crise do IOF segue no radar
No cenário doméstico, os investidores continuam de olho nos desdobramentos da crise envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Após a derrubada do decreto presidencial pelo Congresso, o governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a decisão.
A equipe econômica estima que a medida deve resultar em perda de R$ 10 bilhões em arrecadação ainda em 2025. Como resposta, o governo avalia novos bloqueios no Orçamento e defende a aprovação de medidas compensatórias, como o aumento da tributação sobre apostas eletrônicas, criptoativos e fintechs.
Na terça-feira (1º), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o aumento do IOF como necessário para equilibrar as contas públicas. Ele também rejeitou que tenha havido “traição” por parte do Congresso na condução do tema.
O presidente Lula também comentou o tema, defendendo a judicialização da medida. “Se eu não for à Suprema Corte, eu não governo mais o país. Esse é o problema. Cada macaco no seu galho. Ele legisla, e eu governo”, afirmou o presidente.
A tensão entre Executivo e Legislativo em torno do tema IOF é vista com preocupação pelo mercado, especialmente em meio à desaceleração da arrecadação e aos riscos de descumprimento da meta fiscal para 2025.
Expectativas seguem elevadas
Com o Ibovespa em patamar recorde e o dólar em queda, os próximos dias devem ser marcados pela expectativa em torno da sanção do pacote orçamentário de Trump, do desfecho do tarifaço e da próxima decisão do Fed sobre juros.
A depender dos sinais vindos dos EUA, o Brasil pode continuar se beneficiando do apetite dos investidores por ativos de risco — desde que o cenário fiscal doméstico não volte a provocar insegurança.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/ibovespa-bate-novo-recorde-e-dolar-tem-menor-valor-em-mais-de-1-ano/