4 de julho de 2025
INSS: empresário revela que Conafer adulterava documentos para fraudar aposentados
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Uma investigação conduzida pela Polícia Civil do Distrito Federal e revelada com exclusividade pelo Jornal Nacional, da TV Globo, traz novos elementos sobre o esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS, envolvendo a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer).

O depoimento-chave, prestado em 2021, só resultou em ações efetivas em abril de 2025, culminando na queda do então ministro da Previdência e do presidente do INSS.

A testemunha central do caso é o empresário Bruno Deitos, dono da Premier Recursos Humanos, com sede em Brasília. Em 10 de junho de 2021, ele relatou à Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor que sua empresa foi contratada de forma terceirizada pela Target Pesquisas de Mercado, a serviço da Conafer, para realizar uma atualização cadastral de associados em seis estados brasileiros: Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Deitos explicou que sua equipe foi orientada a visitar os endereços fornecidos pela Conafer para colher assinaturas dos beneficiários em formulários de exclusão de descontos, relatórios de ausência ou mudança de endereço. Contudo, segundo ele, em uma reunião com o proprietário da Target, Randel Machado de Faria, foi revelado que o objetivo real era manipular os documentos: “Randel teria dito que o que interessava era simplesmente o quadro de assinaturas, pois contrataria uma empresa especializada em alterar arquivos PDF para transformar os formulários de exclusão em formulários de adesão”.

Ainda de acordo com o empresário, após a conclusão do trabalho, sua empresa não recebeu o pagamento devido. Ao questionar o atraso, Deitos relatou ter sido ameaçado pelo irmão do presidente da Conafer, Tiago Ferreira Lopes, que aparece em fotos ao lado de Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da entidade. Tiago já havia sido condenado por improbidade administrativa, com enriquecimento ilícito e dano ao patrimônio público.

Em novo depoimento à polícia no dia seguinte, 11 de junho de 2021, Bruno acrescentou que o próprio presidente da Conafer teria afirmado, em reunião, ter “domínio sobre os diretores do INSS”, embora sem especificar nomes. Ele detalhou que esse domínio consistiria na oferta de vantagens financeiras para manipular dados no sistema do INSS e obter informações privilegiadas sobre beneficiários. O empresário disse ainda possuir arquivos digitais com 28,7 mil fichas de assinaturas coletadas durante a execução do serviço.

Todo o material foi repassado à Polícia Federal ainda em 2021, integrando o inquérito que levou, quatro anos depois, à deflagração de uma operação para desmantelar o esquema de fraudes contra segurados da Previdência. A investigação resultou em ampla repercussão política, incluindo a saída do ministro da Previdência e do presidente do INSS.

Na quarta-feira, (14), o Jornal Nacional mostrou que a Conafer foi a entidade que mais aumentou o volume de descontos de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2023. Em números absolutos, passou de R$ 400 mil por ano em 2019, para R$ 57 milhões em 2020 e R$ 202 milhões em 2023, segundo dados da CGU – Controladoria-Geral da União.

Procurada, a Conafer afirmou que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e que prestará todos os esclarecimentos no curso do inquérito. O Jornal Nacional não conseguiu contato com Bruno Deitos, com Randel Machado de Faria nem com a empresa Target Pesquisas de Mercado.

O caso reforça as suspeitas de atuação de organizações que se valem de artifícios fraudulentos para obter recursos de forma ilícita a partir dos benefícios pagos pelo INSS, com uso de documentos forjados e articulações políticas que agora estão sob escrutínio federal.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/inss-empresario-revela-que-conafer-adulterava-documentos-para-fraudar-aposentados/