
Os trabalhadores formais que recebem R$ 5 mil por mês serão os maiores beneficiados pela mudança na cobrança do Imposto de Renda (IR) em discussão no Congresso Nacional. De acordo com cálculos do diretor tributário da Confirp Contabilidade, Welinton Mota, a economia pode chegar a R$ 313 por mês, o que representa R$ 4.067 em um ano, considerando o 13º salário. A reportagem é do portal g1.
“É quase um salário a mais [por ano]. Só que, daí por diante, por conta da progressividade do IR, os ganhos vão diminuindo até R$ 7.350. Acima disso, não há mudança. Quem ganha R$ 4 mil, vai ter pouco mais de 1/3 de ganho [37% do salário a mais por ano]”, explicou Mota.
A proposta em análise
A Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para o projeto, que já passou por comissão especial e agora pode ser votado em plenário. O texto prevê um desconto variável que zerará o IR para rendas de até R$ 5 mil.
Acima desse valor, o desconto vai diminuindo progressivamente até zerar em R$ 7 mil, segundo o governo. O relator, deputado Arthur Lira (PP-AL), defende que o limite seja estendido até R$ 7,35 mil. Lira afirmou que a mudança vai beneficiar cerca de 500 mil contribuintes e busca assegurar a “neutralidade” da proposta.
Se aprovado, o projeto entrará em vigor em 2026, ano eleitoral, e poderá isentar 10 milhões de brasileiros. O Ministério da Fazenda estima que 26 milhões de declarantes (65%) deixarão de pagar IR, o que corresponde a 87% da população total.
Impacto por faixa salarial
Segundo simulações da Confirp Contabilidade, os ganhos variam conforme a renda mensal:
- R$ 3,4 mil: economia de R$ 354,89 por ano
- R$ 4 mil: economia de R$ 1.491,89 por ano
- R$ 5 mil: economia de R$ 4.067,57 por ano
- R$ 5,5 mil: economia de R$ 3.202,19 por ano
- R$ 6 mil: economia de R$ 2.336,75 por ano
- R$ 6,5 mil: economia de R$ 1.471,31 por ano
- R$ 7 mil: economia de R$ 605,86 por ano
- R$ 7,35 mil: sem benefício
O discurso do governo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a proposta como um avanço para reduzir desigualdades. “Do ponto de vista da tributação da renda, infelizmente temos um quadro muito dramático. Porque eu costumo dizer que, o morador da cobertura, não paga condomínio e o zelador está pagando o condomínio do mesmo prédio. Essa é a verdade sobre o Brasil, é a realidade do Brasil”, declarou no Congresso.
Para compensar a perda de arrecadação, a equipe econômica prevê taxar os chamados super ricos, que recebem acima de R$ 50 mil por mês. Também está prevista a criação de limites para evitar que a tributação sobre empresas supere 34% e, no caso de financeiras, 45%.
Divergências entre especialistas
Apesar da promessa de aliviar o bolso de parte da classe média, analistas apontam limitações. Estudo da LCA Consultores com base em dados da PNAD do IBGE mostra que apenas 32% dos trabalhadores, aqueles com renda acima de dois salários mínimos, serão beneficiados.
Bráulio Borges, pesquisador associado do FGV Ibre, avalia que a proposta não alcança os mais pobres. “No Brasil, quem ganha mais de R$ 6 mil por mês está entre os 10% mais ricos. Quando a gente aumenta a faixa de isenção no IR para até R$ 5 mil, a gente não está beneficiando os mais pobres. A gente está beneficiando classe média, classe média alta”, disse em entrevista ao podcast O Assunto.
Críticas ao alcance da reforma
Organizações da sociedade civil, como o Inesc e a Oxfam Brasil, reconhecem avanços, mas alertam que a proposta é insuficiente. “A proposta em tramitação deve ser encarada como um ponto de partida, um chão sobre o qual se constrói um sistema mais justo, e não como um teto que limita e encerra o debate”, destacaram em nota conjunta.
O economista do IPEA, Sérgio Gobetti, também criticou a ausência de uma taxação mais robusta sobre lucros e dividendos. Segundo ele, países desenvolvidos já adotam esse modelo e a arrecadação no Brasil poderia superar R$ 100 bilhões por ano se houvesse maior tributação nessa área.
“O mundo desenvolvido seguiu outro caminho. Nós no Brasil é que nos desviamos. É admissível que possamos ter nos desviado 30 anos atrás [ao isentar lucros e dividendos], mas é um grande erro insistir”, afirmou em audiência pública.
Debate continua no Congresso
Enquanto o governo busca viabilizar a proposta e garantir sua implementação em 2026, especialistas defendem que a reforma seja mais ampla, incluindo revisão de tributos sobre consumo e alívio para famílias de baixa renda. A expectativa é de que o tema seja um dos mais debatidos no cenário político até as eleições.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/isencao-do-ir-pode-render-salario-extra-para-quem-ganha-ate-r-5-mil-entenda/