
Cerca de mil funcionários do Itaú Unibanco foram demitidos nesta segunda-feira (8), segundo estimativa do Sindicato dos Bancários. As dispensas atingiram trabalhadores de diferentes setores e ocorreram após o banco cruzar dados do ponto eletrônico com registros de produtividade nos sistemas internos. Segundo a instituição, foram identificadas incompatibilidades entre as horas registradas e o volume de atividades realizadas no home office.
Monitoramento de cliques, abas e tarefas
A Folha apurou que o Itaú utiliza ferramentas de telemetria para acompanhar a rotina de trabalho dos colaboradores, avaliando cliques, abertura de abas, consumo de memória dos computadores e inclusão de tarefas no sistema. Quando havia divergências entre a jornada registrada e os dados coletados, os empregados eram advertidos ou, em alguns casos, dispensados sem justa causa.
Posicionamento do Itaú
O banco não confirmou o número de desligamentos, mas afirmou que os casos analisados passaram por uma “revisão criteriosa” e que algumas condutas foram consideradas incompatíveis com os “princípios de confiança” da instituição. “Essas decisões fazem parte de um processo de gestão responsável e visam preservar a cultura e a relação de confiança com clientes, colaboradores e a sociedade”, disse o Itaú, em nota.
Funcionários contestam critérios de avaliação
Alguns dos demitidos afirmam que o banco não apresentou as métricas utilizadas para avaliar a produtividade e questionam a legitimidade dos critérios. Segundo relatos, muitos tinham avaliações positivas e chegaram a receber promoções recentes. Apesar disso, o Itaú também demitiu empregados que, de fato, não estavam ativos durante o expediente remoto.
Advogados questionam legalidade da telemetria
Especialistas em direito trabalhista afirmam que o monitoramento é permitido, mas precisa ser transparente. Ricardo Calcini, do escritório Calcini Advogados, alerta que o uso de telemetria para medir jornada de trabalho é discutível: “Cumprir a jornada é estar à disposição, seja online ou executando tarefas. Se a avaliação é feita via telemetria, isso precisa estar claro para os empregados”.
Larissa Salgado, do Silveiro Advogados, lembra que o empregador deve respeitar a privacidade dos colaboradores: “Não pode haver nenhum tipo de invasão, como câmeras no notebook ou acesso ao interior da casa”. Já Catharine Machado, da MBW Advocacia, afirma que a demissão por baixa produtividade pode ser legítima, desde que os critérios sejam lícitos, objetivos e previamente informados.
Sindicato repudia demissões e promete mobilização
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região classificou as dispensas como “inaceitáveis” e criticou a postura do Itaú, que registrou lucros bilionários no último trimestre. “Enquanto os trabalhadores são sacrificados, os acionistas seguem acumulando ganhos recordes”, disse a entidade em nota. O sindicato também afirmou que não foi consultado sobre alternativas para realocar os demitidos e promete intensificar os protestos contra as demissões.
Demissões podem parar na Justiça
Segundo advogados trabalhistas, a medida pode gerar questionamentos judiciais. “Nunca vimos nada parecido. Por ser sem justa causa, o empregador pode demitir, mas, diante do volume de desligamentos, pode haver discussão sobre eventual arbitrariedade, exposição e danos morais”, explica Sérgio Schwartsman, do escritório Lopes da Silva Advogados.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/itau-demite-cerca-de-mil-funcionarios-apos-monitorar-cliques-e-produtividade-no-home-office/