O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista coletiva neste domingo em Joanesburgo, após a Cúpula dos Líderes do G20, e afirmou que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia deve ser formalizado em 20 de dezembro. Segundo ele, as negociações avançaram e a expectativa é finalizar o entendimento antes do fim do ano.
“Eu regresso para o Brasil, onde eu pretendo não viajar mais esse ano, a não ser ou pra Brasília, ou pra Foz do Iguaçu, para assinar o acordo Mercosul-União Europeia que eu penso que vai ser assinado dia 20 de dezembro”, afirmou Lula.
A assinatura deve ocorrer durante a reunião da Cúpula dos Líderes do Mercosul, marcada para Foz do Iguaçu, no Paraná. O Brasil atualmente ocupa a presidência do bloco comercial.
O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia é considerado um dos mais importantes e foi alvo de idas e vindas nos últimos anos em razão da reticência de países europeus com alguns dos termos do acordo, sobretudo a França.
Na prática, o acordo criaria uma área de livre comércio entre os dois continentes, eliminando tarifas de importação sobre uma série de produtos comercializados entre os dois blocos.
Com isso, os países do Mercosul ganhariam acesso facilitado ao mercado europeu sobretudo para produtos agropecuários, enquanto os países europeus teriam melhores condições para exportar produtos industriais para o Brasil.
Um dos principais entraves, entretanto, é a pressão exercida pelo setor agrícola em países como França. Agricultores de países europeus temem que não conseguirão competir com o preço dos produtos brasileiros.
Enfraquecido politicamente na França, o presidente do país, Emmanuel Macron impôs uma série de barreiras ao avanço do acordo nos últimos anos para não contrariar esses interesses internos.
Em Johannesburgo, entretanto, Lula minimizou a oposição de alguns dos líderes de países da União Europeia, destacando que o acordo é realizado entre os dois blocos.
Debate climático e resistência internacional
Lula também avaliou o papel brasileiro na transição energética global e buscou relativizar a retirada da proposta apresentada pelo Brasil para o “mapa do caminho” climático da COP30. O texto, que previa o compromisso de eliminar a dependência mundial de combustíveis fósseis, enfrentou forte rejeição de países exportadores de petróleo.
Ao comentar o processo, Lula declarou que “petróleo não é para gasolina e para diesel, pode ser para o setor petroquímico”. Em seguida, reconheceu que não esperava facilidade na negociação internacional: “Eu sabia que seria difícil, nunca imaginei que a Arábia Saudita fosse concordar com isso”. Ele ressaltou ainda que, mesmo internamente, um debate desse tipo provocaria divergências.
O presidente afirmou que, embora a proposta não tenha avançado, o Brasil conseguiu colocar o tema no centro das discussões globais. “O que fizemos foi começar um debate sobre algo que todo mundo sabe que vai acontecer”, disse, ao mencionar que mais de 80% das emissões de gases de efeito estufa vêm dos combustíveis fósseis.
Exemplos brasileiros na transição energética
Lula destacou medidas adotadas no país para reduzir o uso de derivados de petróleo, afirmando que o Brasil “está dando exemplo do que é possível”. Ele citou a mistura de 15% de biodiesel no diesel comercializado e a adição de 30% de etanol na gasolina, práticas que, segundo ele, demonstram que a transição energética é viável.
Ao final, reforçou que o país, na sua visão, lidera iniciativas de descarbonização em comparação com outras nações produtoras de petróleo e que continuará defendendo o tema nas conferências climáticas internacionais.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-anuncia-acordo-mercosul-uniao-europeia-para-dezembro/
