
Durante a abertura do Fórum Empresarial do Brics neste sábado (5), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou a defesa do multilateralismo econômico e alertou para os riscos do avanço de políticas protecionistas no cenário global. Diante de empresários e representantes internacionais, o presidente também destacou a importância da atuação coordenada entre países emergentes para o enfrentamento de crises econômicas, sanitárias e climáticas.
“Temos muito a aprender com a sinergia permanente entre países em desenvolvimento. Isso nos permitiu enfrentar juntos os efeitos da crise financeira de 2008 e a pandemia de Covid-19. Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional. O Brics segue como fiador de um futuro promissor”, declarou Lula.
As declarações ocorreram em meio a mudanças promovidas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, que, segundo o governo brasileiro, vêm impactando a geopolítica global e desafiando o equilíbrio das relações comerciais. Para Lula, é justamente nesse cenário que os países do Brics — atualmente formado por 11 membros — devem atuar como contraponto estratégico no cenário internacional.
Bloco pode liderar novo modelo de desenvolvimento, diz Lula
O presidente brasileiro reforçou que o grupo tem potencial para liderar um novo modelo de desenvolvimento baseado em agricultura sustentável, indústria verde, bioeconomia e infraestrutura resiliente.
“Possuímos inúmeras complementaridades econômicas. O intercâmbio comercial do Brasil com o Brics foi de 210 bilhões de dólares no ano passado, mais que o dobro do fluxo com a União Europeia. Só em produtos do agronegócio brasileiro, exportamos 71 bilhões de dólares”, afirmou.
Lula também pontuou a importância da transição energética e a exploração estratégica de minerais críticos presentes nos países do bloco, como terras raras, manganês e grafite.
“Possuímos minerais estratégicos essenciais para a transição energética. O Brics concentra 84% das reservas de terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite do mundo. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a demanda por minérios críticos deve triplicar até 2040. Queremos ir além da extração dessas riquezas. Em parceria com o setor privado, vamos qualificar nossa participação em todas as etapas das cadeias de suprimento. O Brasil está bem-posicionado para esse salto. Contamos com marcos regulatórios estáveis, mão de obra qualificada e energia limpa para processamento mineral eficiente e sustentável. Consolidar tantas frentes requer a mobilização de recursos”, destacou.
Combate à fome, à pobreza e aos conflitos
O presidente também reforçou o papel do Brics na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, defendendo o fortalecimento da tecnologia e da inovação como ferramentas para enfrentar desafios estruturais, sobretudo na área da saúde.
Lula encerrou o discurso com um apelo pela paz mundial e pela retomada do diálogo entre as nações como condição para o desenvolvimento.
“Tenho a convicção de que cabe aos governos abrir portas e aos empresários fazer negócios. O vínculo entre paz e desenvolvimento é evidente. Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado. O fim das guerras e dos conflitos que se acumulam é uma das responsabilidades de chefes de Estado e de governo. É patente que o vácuo de liderança agrava as múltiplas crises enfrentadas por nossas sociedades. Estou certo de que este Fórum e a Cúpula do Brics que se inicia amanhã aportarão soluções”, afirmou.
O que é o Brics
O Brics é um mecanismo de articulação entre países em desenvolvimento que visa promover acordos de cooperação econômica, comercial e política, fortalecendo o papel das nações emergentes no cenário internacional. Desde sua criação, o grupo tem buscado alternativas ao modelo financeiro tradicional, incentivando o uso de moedas locais e o desenvolvimento sustentável.
A cúpula de 2025, que ocorre entre os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, reúne os chefes de Estado dos membros permanentes — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — além dos países recentemente integrados: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Ao todo, são 11 membros oficiais.
Além do fórum empresarial, a programação inclui reuniões bilaterais e encontros paralelos que discutirão temas como combate à pobreza, segurança alimentar, inovação tecnológica e governança global.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-defende-comercio-multilateral-contra-o-protecionismo-em-discurso-no-forum-empresarial-do-brics/