“Aqui ninguém põe a mão” – Agenda do Poder

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (24), durante evento em Minas Gerais, que o Brasil não cederá à pressão internacional sobre suas riquezas naturais. Em um discurso contundente, Lula respondeu diretamente ao interesse dos Estados Unidos em firmar acordos para a aquisição de minerais estratégicos como lítio, nióbio e terras raras.

“Nós temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro, nossos minerais ricos que vocês querem — e aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, disse o presidente, em clara referência às negociações que vêm sendo articuladas entre o governo americano e o setor de mineração nacional.

As declarações ocorreram um dia após uma reunião entre representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e o encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar — atualmente o principal representante diplomático americano no Brasil, já que o posto de embaixador segue vago.

Interesses internacionais e resposta firme

Segundo apurou O GLOBO, os Estados Unidos têm buscado ampliar parcerias para garantir o fornecimento estável de 51 minerais considerados críticos para a segurança econômica e tecnológica do país. O Brasil desponta como uma fonte estratégica, com reservas significativas de cobre, lítio, silício, nióbio e elementos de terras raras.

Apesar disso, Lula foi enfático ao afirmar que qualquer movimentação envolvendo esses recursos será feita com base na soberania nacional. “Queria dizer para o presidente Trump: a nossa soberania é feita por esse povo brasileiro que trabalha e que produz”, declarou, reforçando que as riquezas naturais pertencem ao Brasil e devem beneficiar sua população.

Ele também destacou a importância ambiental e geopolítica do território brasileiro: “Temos 12% da água doce do mundo para proteger, 215 milhões de pessoas para cuidar e uma floresta que é patrimônio da humanidade, mas responsabilidade nossa”.

Concessões sim, submissão não

Interlocutores do governo brasileiro afirmaram que, embora empresas privadas possam ter concessões para explorar recursos naturais, qualquer exportação em larga escala de minerais estratégicos só será avaliada no contexto de interesses nacionais — e jamais de forma unilateral.

A embaixada dos Estados Unidos, por sua vez, confirmou o encontro com representantes do setor de mineração, mas informou que não divulga o conteúdo de reuniões privadas.

Especialistas destacam a importância desses minerais para tecnologias de ponta, como baterias, semicondutores e ligas metálicas avançadas. O nióbio, por exemplo, é essencial para a indústria aeroespacial, além de aplicações em supercondutores e componentes magnéticos.

Em meio à crescente disputa global por recursos naturais, o posicionamento de Lula marca uma tentativa de equilibrar as demandas do mercado internacional com a defesa dos interesses estratégicos do Brasil.