O Senado do México aprovou na noite de quarta-feira (10) um amplo pacote de elevação de tarifas de importação que atinge produtos do Brasil, da China e de outros países sem acordo comercial com o governo mexicano. A medida, proposta pela presidente Claudia Sheinbaum e já aprovada pela Câmara dos Deputados, deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026, após a publicação oficial.
A votação no Senado terminou com 76 votos favoráveis, 5 contrários e 35 abstenções, em uma sessão marcada por debates acalorados e forte articulação política do governo. Ao todo, 1.463 classificações tarifárias distribuídas em 17 setores serão impactadas, incluindo automotivo, têxtil, vestuário, siderurgia, eletrodomésticos, móveis, calçados e plásticos. Segundo analistas, o maior impacto deverá recair sobre as exportações chinesas.
Alíquotas ajustadas, mas com exceções relevantes
A proposta original previa sobretaxas de até 50% para diversos itens, mas após negociações, a maior parte das alíquotas foi recalibrada para níveis entre 20% e 35%. Em setores considerados estratégicos, porém, o teto foi mantido. É o caso dos automóveis, um dos principais focos de preocupação do governo mexicano.
Dados da Associação Mexicana de Distribuidores Automotivos mostram que montadoras chinesas já respondem por 20% das vendas de carros no país. Além disso, o México se tornou, no primeiro semestre deste ano, o maior comprador de veículos fabricados na China, segundo levantamento da consultoria Automobility, de Xangai.
Entre os 1.463 produtos afetados, 316 atualmente não pagam qualquer imposto, o que intensifica o efeito imediato das novas medidas sobre cadeias produtivas e custos de importação.
China reage e fala em “prejuízos substanciais”
Após a aprovação no Senado, a resposta de Pequim foi imediata. O Ministério do Comércio da China criticou abertamente a decisão e declarou que a medida causará “prejuízos substanciais”. A pasta lamentou a adoção de um instrumento considerado unilateral e afirmou ter solicitado que o México “corrija suas práticas errôneas de unilateralismo e protecionismo o mais rápido possível”.
A manifestação reflete a preocupação chinesa com a escalada tarifária, sobretudo no setor automotivo, onde o país tem ampliado significativamente sua presença no mercado mexicano.
Pressão externa, disputa interna
As 35 abstenções registradas durante a votação no Senado são explicadas, em parte, por queixas de parlamentares que afirmam que o projeto foi elaborado às pressas e sob pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para esse grupo, a elevação tarifária atende mais a uma agenda geopolítica alinhada aos interesses de Washington do que a uma política industrial de longo prazo.
O governo mexicano, porém, defende a reforma. Parlamentares favoráveis afirmam que as novas tarifas serão decisivas para proteger setores sensíveis, preservar empregos e fortalecer cadeias produtivas nacionais. “É uma medida necessária para equilibrar a concorrência e evitar a desindustrialização”, afirmaram senadores durante o debate.
Impacto econômico direto
A emissora N+ informou que os produtos afetados somam US$ 52 bilhões, o equivalente a 8,6% de todas as importações mexicanas. O Ministério das Finanças estima que a elevação das tarifas ajudará a preservar cerca de 320 mil empregos.
Além disso, o governo projeta um incremento de US$ 2,5 bilhões na arrecadação em 2026, reforçando o argumento de que as mudanças tarifárias também têm papel central na recomposição das contas públicas.
Com a entrada em vigor prevista para o próximo ano, a medida tende a repercutir nas relações comerciais do México com grandes parceiros, como Brasil e China, e a abrir uma nova frente de discussões no cenário internacional sobre protecionismo e disputas industriais.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/mexico-aprova-aumento-de-tarifas-contra-brasil-e-china-e-mira-protecao-industrial-em-2026/
