6 de agosto de 2025
Minerais críticos viram trunfo do Brasil para negociar com os
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Com a entrada em vigor nesta quarta-feira (6) do tarifaço de até 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o Brasil busca nos minerais críticos uma alternativa para reequilibrar a balança comercial e ampliar sua influência em negociações com Washington. A aposta é transformar as reservas estratégicas do país em moeda de troca para conquistar isenções adicionais, atrair investimentos e acessar tecnologias que ainda dependem de processamento externo.

A movimentação diplomática e empresarial ocorre em meio ao interesse dos Estados Unidos em reduzir sua dependência da China, que domina o refino de 19 dos 20 minerais considerados críticos no mercado global. De acordo com o encarregado de negócios da embaixada dos EUAno Brasil, Gabriel Escobar, há interesse crescente em ampliar o acesso estadunidense a minerais como nióbio e terras raras, insumos considerados essenciais para setores de alta tecnologia, energia limpa, mobilidade elétrica e defesa.

O diálogo inclui a proposta de envio de uma missão empresarial brasileira aos EUA ainda em 2025 para aprofundar as conversas e identificar oportunidades de cooperação bilateral.

Reservas estratégicas e impacto da tarifa

O Brasil detém a maior reserva de nióbio do mundo, além da segunda maior de grafite e terras raras e a terceira maior de níquel. Esse protagonismo coloca o país em uma posição estratégica para fornecer insumos essenciais à chamada transição energética e à reindustrialização em curso nas principais economias do mundo.

Apesar disso, o país ainda depende do processamento externo de grande parte desses minerais. A expectativa do governo é que a conjuntura atual abra espaço para acordos de transferência de tecnologia, parcerias em beneficiamento e financiamento conjunto de projetos.

A ordem executiva do ex-presidente Donald Trump, que estabeleceu o tarifaço, isenta cerca de 75% dos minérios exportados ao mercado estadunidense — incluindo ferro, nióbio, ouro e rochas ornamentais. No entanto, itens importantes como manganês, cobre, vanádio, bauxita e caulim foram incluídos na lista de sobretaxa. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), cerca de 24,4% das vendas brasileiras de minérios aos EUA devem ser impactadas, especialmente o alumínio, o caulim, o cobre e o manganês.

Governo quer protagonismo na pauta mineral

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, destacou que a “pauta de minerais críticas é extensa” e deverá ter papel central nas tratativas entre os dois países. Em paralelo, o Ministério de Minas e Energia prepara para até novembro o lançamento da Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, com foco em agregar valor à cadeia mineral brasileira e fortalecer a indústria nacional.

O objetivo é reduzir a dependência externa de beneficiamento e aproveitar o momento de reconfiguração das cadeias produtivas globais para transformar os recursos naturais do Brasil em oportunidades econômicas e industriais.

Setor privado também se mobiliza

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AmCham Brasil), em conjunto com a U.S. Chamber of Commerce, apresentou uma proposta com cinco eixos prioritários para aprofundar a cooperação entre os dois países na área de minerais estratégicos:

  1. Estabelecimento de um plano de ação bilateral com metas claras e previsibilidade;
  2. Expansão do mapeamento geológico com apoio técnico entre os serviços geológicos de Brasil e EUA;
  3. Criação de mecanismos conjuntos de financiamento, com apoio do BNDES, da Corporação Financeira de Desenvolvimento dos EUA (DFC) e do Exim Bank estadunidense;
  4. Estímulo a parcerias tecnológicas voltadas ao processamento e à inovação industrial;
  5. Adoção de padrões internacionais de sustentabilidade e rastreabilidade, como a ISO 14001.

Crescimento acelerado e potencial de investimentos

Os números reforçam a relevância do setor. No primeiro semestre de 2025, o faturamento com minerais críticos no Brasil somou R$ 21,6 bilhões, um aumento de 41,6% em relação ao mesmo período de 2024. Esses produtos responderam por cerca de 4% das exportações brasileiras de minérios aos Estados Unidos.

A previsão de investimentos para o setor mineral entre 2025 e 2029 é de US$ 68,4 bilhões, sendo US$ 18,45 bilhões destinados exclusivamente aos minerais críticos. Estados como Minas Gerais, Pará e Bahia concentram quase 80% do faturamento do setor, figurando como os principais polos de produção.

Diante do novo cenário comercial, o Brasil busca transformar seu potencial geológico em influência geopolítica. Se bem conduzida, a estratégia pode não apenas mitigar os impactos do tarifaço, mas também alavancar a indústria nacional e reposicionar o país como fornecedor estratégico de recursos essenciais para o futuro da economia global.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/minerais-criticos-viram-trunfo-do-brasil-para-negociar-com-os-eua-apos-tarifaco/