
O número de brasileiros que trabalham com entregas por aplicativo aumentou de forma expressiva nos últimos dois anos. De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, mais de 40 mil pessoas ingressaram na atividade entre 2022 e 2024, impulsionadas principalmente pelo desemprego e pela promessa de flexibilidade de horários.
Em 2024, 485 mil pessoas usaram aplicativos de entrega como meio de trabalho. Destas, 274 mil (56,5%) atuavam diretamente como entregadores e 211 mil exerciam outras funções ligadas às plataformas, como donos de restaurantes e comerciantes que utilizam aplicativos para vender produtos e realizar entregas.
Apesar da expansão, os dados revelam um cenário de vulnerabilidade. O grupo de entregadores apresenta nível de escolaridade inferior à média nacional e remuneração mais baixa, mesmo com jornadas semelhantes às de outras ocupações. Enquanto a média semanal de trabalho é de 46,4 horas, o rendimento mensal médio dos entregadores é de R$ 2.340 — valor bem abaixo dos R$ 2.878 registrados para o conjunto dos trabalhadores brasileiros em 2024.
Quando considerados todos os trabalhadores que utilizam aplicativos de entrega, o rendimento médio é de R$ 3.322. Ainda assim, há uma diferença significativa entre os entregadores e os demais profissionais que operam por meio de plataformas: os primeiros recebem menos da metade dos R$ 4.615 obtidos por ocupações plataformizadas de outros setores. A rotina extenuante e o retorno financeiro limitado são realidade para muitos profissionais da categoria.
Motoristas de aplicativo: mais renda, mais horas e menos proteção
O levantamento do IBGE também comparou o perfil dos motoristas que trabalham com aplicativos e daqueles que atuam fora das plataformas. Em 2024, o país contava com 1,9 milhão de profissionais do transporte particular, sendo 43,8% plataformizados e 56,2% não plataformizados.
Os motoristas de aplicativo têm rendimentos médios mais altos (R$ 2.766) do que os demais (R$ 2.425), mas essa vantagem vem acompanhada de uma jornada maior: 45,9 horas semanais contra 40,9. Com isso, o ganho por hora trabalhada praticamente se iguala — R$ 13,9 para os plataformizados e R$ 13,7 para os não plataformizados.
No entanto, o cenário muda quando se observa o vínculo formal e a proteção social. Enquanto 56,2% dos motoristas fora das plataformas contribuem para a Previdência, apenas 25,7% dos motoristas de aplicativo o fazem. A informalidade também é bem mais alta entre os que dependem das plataformas (83,6%) do que entre os demais (54,8%).
Motociclistas e o retrato da precarização
Entre os motociclistas — grupo que concentra grande parte dos entregadores —, o IBGE identificou 1,1 milhão de profissionais em 2024. Cerca de um terço trabalha por meio de aplicativos, proporção que vem crescendo rapidamente: eram um quarto em 2022.
O rendimento médio dos motociclistas plataformizados (R$ 2.119) supera o dos que não usam aplicativos (R$ 1.653), mas os primeiros também enfrentam jornadas mais longas, de 45,2 horas semanais, contra 41,3 horas dos demais. A diferença no rendimento por hora é pequena: R$ 10,8 entre os que usam plataformas e R$ 9,2 entre os que não usam.
A informalidade é o traço mais preocupante. Apenas 21,6% dos motociclistas de aplicativo contribuem para a Previdência, ante 36,3% dos que não são plataformizados. No total, 84,3% dos entregadores por aplicativo estão na informalidade — um índice que escancara a falta de proteção trabalhista da categoria.
O instituto ainda não incluiu na pesquisa dados sobre entregadores que utilizam bicicletas, um grupo crescente nas grandes cidades, especialmente entre jovens.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/numero-de-entregadores-por-aplicativo-dispara-no-brasil-e-renda-segue-abaixo-da-media-nacional-apesar-das-jornadas-exaustivas/